Fed pode abrir espaço para suavizar política monetária nos EUA e cortar juros

Não é por acaso que o mercado ajustou suas expectativas em relação aos juros

Indo além da conferência da Berkshire, a verdade é que a semana passada foi bastante movimentada e com impactos importantes no mercado. Os eventos indicam que o Fed pode abrir espaço para suavizar a política monetária nos EUA e eventualmente cortar juros.

Primeiramente, na quarta-feira (1º), conforme esperado, o Banco Central americano manteve a taxa básica de juros americana em uma faixa entre 5,25% e 5,50%.

Vale a pena destacar:

  • No comunicado que acompanha a decisão, vimos algumas mudanças. A mais importante se relaciona à falta de progresso no combate ou na busca pela queda da inflação nos últimos meses.
  • Luta contra inflação. O comitê de política monetária observou que houve o que eles chamaram de “falta de mais progresso” no sentido de fazer a inflação regressar ao seu objetivo de 2%, reiterando assim a linguagem já utilizada nas últimas duas reuniões. Além disso, na entrevista, Powell comentou que “a inflação ainda está muito alta”. Afirmou ainda que “progressos no combate à inflação não estão garantidos, e o caminho a seguir ainda é incerto”.
  • Novos aumentos de juros? Questionado sobre uma mudança de rumo e um eventual aumento de juros, Powell disse que seriam necessárias provas convincentes de que a atual política monetária não é suficientemente restritiva para reduzir a inflação de forma sustentável para 2% ao longo do tempo e que esse não é o cenário base do Banco Central americano.
  • Quantitative tightening. Questão importante, o Fed anunciou que, a partir de junho, irá reduzir o seu ritmo de vendas de títulos, conhecido como aperto quantitativo. O Fed vende títulos ao mercado e, com isso, reduz a liquidez do sistema, reduzindo seu balanço e retirando dinheiro de circulação. O volume de vendas irá se reduzir de um limite de US$ 60 bilhões para US$ 25 bilhões por mês. O programa de vendas de títulos lastreados em hipotecas (MBS) segue inalterado em US$ 35 bilhões ao mês. A venda de ativos permitiu ao Fed reduzir seu balanço para cerca de US$ 7,4 trilhões. Ou seja, cerca de US$ 1,5 trilhão a menos do que o seu pico em meados de 2022.

Relatório de emprego de abril

E na sexta-feira tivemos o relatório de emprego de abril, que trouxe uma grata surpresa. O mercado de trabalho deu sinais de algum arrefecimento, com a criação de postos de trabalho ficando aquém do esperado, salários crescendo menos e a taxa de desemprego levemente acima do esperado.

Não obstante, o Bureau of Labour Statistics também revisou os números anteriores de fevereiro e março. Houve um impacto líquido de 22 mil postos de trabalho a menos tendo sido criados nesses meses. Ainda que isso denote também uma diminuição no ritmo de atividade da economia, a interpretação positiva decorre da visão de que um mercado de trabalho menos pujante, com salários crescendo menos que o esperado, abra espaço para que o Fed comece a realizar uma política de afrouxamento monetário e corte os juros.

Impacto e conclusão 

Como reflexo de ambos os eventos citados acima, vimos os juros cederem nos EUA. Assim, o mercado voltar a especular a possibilidade de termos dois cortes de juros ao longo de 2024. Assim, de acordo com a ferramenta do CME, o mercado atribui uma maior probabilidade de cortes de juros em setembro e dezembro.

A decisão sobre os juros, os comentários do comunicado e a entrevista de Jerome Powell após o evento reforçaram a visão da necessidade de diligência e cuidado no combate à inflação. No entanto, os dados da semana (Payroll e outros divulgados), a decisão sobre os juros e a redução do quantitative tightening afastaram os receios de novos aumentos de juros.

A mensagem do presidente do Fed foi a de reforçar a confiança de que o FOMC está no caminho certo e que a política monetária continua restritiva. A ideia é que não é preciso fazer nada. Em resumo, basta aguardar que a política monetária faça o seu trabalho e esperar os próximos dados para definir o rumo das decisões.

Diante disso, e ainda na dependência dos dados e de uma evolução favorável da inflação, os eventos da semana passada indicam que o Fed pode estar abrindo espaço para suavizar sua política monetária e eventualmente cortar juros no futuro. Não é por acaso que o mercado ajustou suas expectativas em relação aos juros.