Confira 4 pontos de atenção para quem deseja investir no exterior nos próximos meses

Instabilidade econômica pode prejudicar principalmente small caps, criptoativos e ativos mais voláteis

Wall Street, em Nova York: o centro financeiro dos Estados Unidos (Foto: TravelScape / Freepik)
Wall Street, em Nova York: o centro financeiro dos Estados Unidos (Foto: TravelScape / Freepik)

Pensando em investir no exterior? Pois saiba que a volatilidade do mercado requer atenção redobrada. Os dados de julho mostraram uma importante desaceleração do mercado de trabalho americano. Além disso, a inflação está em tendência de queda nos EUA, embora permaneça acima da meta. Diante desse cenário, as chances de o Fed iniciar o ciclo de flexibilização monetária na reunião de setembro aumentam, na avaliação dos analistas.

Mas a cautela ainda deve pautar os investidores neste momento. De acordo com especialistas da Nomad, os últimos 7 meses foram agitados no mercado financeiro e a tendência é que a volatilidade continue. Parte das razões vem desde a virada do ano; outras entram no radar agora. A seguir, confira quatro pontos de atenção para os próximos meses, segundo o time da Nomad.

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1. Juros e dados econômicos

Em momentos de volatilidade como o atual, é preciso manter no radar a taxa de juros e acompanhar os dados econômicos dos EUA. Os juros altos acabam atraindo os investidores a buscarem os títulos americanos, considerados os mais seguros do mundo, do ponto de vista de risco de crédito. Esse movimento aumenta a compra de dólar e valoriza a moeda americana, pressionando o câmbio, diz a Nomad.

Após a última decisão do FOMC, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou os avanços econômicos como uma fonte adicional de confiança. Ressaltou, entretanto, que esses progressos ainda não são suficientes para justificar um afrouxamento imediato da política monetária. Nesse sentido, Powell observou que, se os progressos continuarem, o ciclo de cortes nas taxas de juros poderá ter início em breve.

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Taxa inalterada

Por ora, a taxa básica de juros permaneceu inalterada entre 5,25% e 5,5% pela oitava vez consecutiva. À medida que as discussões sobre velocidade e profundidade dos possíveis cortes de juros se intensificam, o consenso gira em torno de 3 cortes de 0,25 ponto até o final de 2024. Porém, dados publicados recentemente aumentaram as apostas em cortes mais rápidos.

Com toda essa movimentação, o mercado ficou altamente sensível e boa parte do movimento das bolsas no mês passado foi baseado justamente na expectativa dos cortes de juros. Ações de empresas mais sensíveis a juros foram as principais altas do mês, antecipando um cenário mais benigno que, se não ameaçado, tende a derrubá-las novamente.

2. Possibilidade de uma recessão

Já vimos que os juros altos favorecem o investimento nos EUA. Os juros baixos, por sua vez, são positivos para os ativos mais arriscados do mercado caso a economia esteja saudável. Isso porque eles podem aumentar os lucros futuros, tornando as ações mais atraentes para investidores, com o custo reduzido de capital. Ou seja, isso pode resultar em maiores investimentos e crescimento.

Se a economia está em recessão, entretanto, esses juros baixos podem não ser suficientes para estimular investimentos, porque o crescimento das empresas é prejudicado. Nesse sentido, a materialização de uma recessão na economia americana, por exemplo, seria negativa para small caps (empresas com valor de mercado relativamente baixo), ações de crescimento e ativos voláteis em geral, como os criptoativos. Assim, o dinheiro tenderia a correr em direção a ativos de proteção, como dólar e ouro.

Portanto, diz a Nomad, os juros influenciam os investimentos de maneiras complexas e seu impacto pode variar dependendo das condições econômicas, sendo a atividade um fator importante para manter no radar ao falar de investimentos.

Troque o “quando será o corte dos juros” para “quanto”

Adormecido em meses anteriores, o temor de uma recessão voltou com força nos primeiros pregões de agosto. Dados de mercado de trabalho publicados no dia 1º (pedidos por seguro-desemprego) e 2 (folhas de pagamento), aumentaram a suspeita de que talvez o Fed tenha demorado para começar a cortar os juros. A dúvida do mercado agora não seria mais sobre “quando” será o corte, mas “quanto”.

A resposta a isso foi uma venda generalizada de ações, especialmente small caps e de tecnologia, e uma queda forte dos juros dos treasuries de 10 anos. O VIX, indicador de volatilidade conhecido como “índice do medo”, respondeu com alta relevante na semana passada.

Em outras palavras, a sensibilidade aos dados não é mais monitorada apenas pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC – que define medidas relacionadas à política monetária dos EUA), na decisão sobre os juros. Em resumo, o mercado inteiro está olhando com lupa para qualquer sinal de que a desaceleração da economia americana pode se transformar em recessão.

3. Eleições americanas

Na bolsa, não há exatamente políticos “favoritos”, mas alguns segmentos respondem de maneiras diferentes à probabilidade de troca de governo — o chamado Trump Trade. Um comportamento mais protecionista do candidato republicano, caso vença as eleições, poderia estimular o crescimento de algumas categorias, como small caps e o setor financeiro. Por outro lado, empresas de tecnologia, cujas operações são muito ligadas a players chineses, tendem a ser afetadas negativamente.

Além disso, o apoio do candidato a combustíveis fósseis pode direcionar investimentos a companhias ligadas a essas atividades, prejudicando aquelas mais focadas em energias renováveis.

A entrada de Kamala Harris na disputa trouxe maior equilíbrio nas apostas. Portanto, maior incerteza para o cenário eleitoral. A falta de clareza sobre o resultado das eleições contribui para a volatilidade do mercado, que reage de forma sensível às mudanças nas expectativas.

Aliás, a gestora TAG Investimentos destaca o favoritismo de Donald Trump na corrida presidencial neste momento e projeta política econômica inflacionária e possível recessão nos EUA com uma vitória do republicano. Saiba mais.

4. “Carry trade” e política monetária do Japão

Outro ponto para levar em consideração e manter no radar quando for investir nos próximos meses são as mudanças na política monetária do Japão. Recentemente, a valorização do iene e as expectativas de elevação dos juros no Japão impactaram negativamente o real.

Quem investe no exterior desfez suas posições de “carry trade”, que tem como estratégia pegar empréstimo em uma moeda com juros baixos (como o iene japonês) e investir em ativos denominados em moedas com juros mais altos (como o real brasileiro), aproveitando a diferença nas taxas de juros. Com a quebra desse movimento, o fluxo financeiro para o Brasil diminui, prejudicando o real.

Além disso, o “carry trade” também vinha sendo amplamente utilizado para alavancagem em outros tipos de operações, como a compra de ações de tecnologia no mercado. A desmontagem dessas operações e as chamadas de margem na sequência se tornaram outro fator de pressão sobre os mercados nos primeiros pregões do mês.

Se o Banco do Japão (BoJ) optar por manter as taxas de juros atuais, o iene deve se enfraquecer, o que pode beneficiar o real e reverter a tendência de valorização do iene observada recentemente. Já caso o BoJ decida aumentar as taxas de juros, o iene deverá se fortalecer, e o real pode sofrer uma queda adicional.

Diante desse cenário, o mercado para quem quer investir no exterior mais uma vez nos lembra do elemento mais importante de uma carteira de investimentos bem preparada para o mundo real: diversificação e adequação a cada perfil de investidor.

Entenda o cenário econômico internacional antes de investir no exterior

De acordo com o relatório mensal de agosto do C6 Bank, os dados de julho mostraram uma importante desaceleração do mercado de trabalho americano. Além disso, a inflação está em tendência de queda nos EUA, embora permaneça acima da meta.

“No mês passado, membros do Federal Reserve (Fed) mantiveram a taxa de juros em pausa, mas reconheceram que a inflação e o mercado de trabalho parecem caminhar em direção a seus objetivos. Um corte de juros em setembro não foi descartado – a decisão, no entanto, vai depender dos dados. Na nossa visão, aumentaram as chances de o Fed dar o primeiro passo no ciclo de flexibilização monetária na reunião de setembro”, diz o documento do C6.

Europa e Ásia

O relatório do banco destaca também que a da zona do euro permanece fraca, com desaceleração de boa parte da indústria dos países da região.

“Após realizar um primeiro corte em junho, o Banco Central Europeu (BCE) manteve os juros inalterados no mês passado para avaliar o progresso da desinflação. Em julho, o núcleo da inflação europeia permaneceu em 2,9%, mas a composição melhorou, com a menor persistência de preços de serviços”, afirma o C6.

Em relação à China, o documento do C6 Bank sobre investir no exterior salienta que o PIB do segundo trimestre veio abaixo do esperado, “colocando em dúvida o cumprimento da meta de crescimento de cerca de 5% determinada pelo governo
para 2024”.

“A atividade econômica chinesa vem perdendo força, em razão de um esfriamento do consumo e dos investimentos no setor imobiliário. Em reunião da cúpula
do Partido Comunista da China, líderes apontaram 
a necessidade de aumentar a demanda interna. Nenhum grande estímulo foi anunciado, mas os membros do governo reforçaram o compromisso de alcance da meta de crescimento para o ano. Medidas já adotadas para apoiar o setor imobiliário ainda não tiveram efeito significativo”, diz o relatório.

Recomendação ao investir no exterior

No último mês, o C6 Bank ajustou a perspectiva para o quadro de quem quer investir no exterior, especialmente para o cenário americano. “Com a desaceleração dos dados de inflação e mercado de trabalho nos EUA em julho, acreditamos que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terá mais confiança 
em promover o primeiro corte de juros já em 2024”, diz o banco.

De acordo com o relatório do C6, “ainda que os juros menores possam favorecer o mercado acionário, acreditamos que os investimentos em ações americanas ainda exigem cautela.

“A valorização do S&P 500 (principal índice de ações dos EUA) e as incertezas relacionadas às eleições nos Estados Unidos neste ano devem trazer mais volatilidade aos mercados. As principais bolsas de valores americanas fecharam o mês de julho em queda, puxadas principalmente pelo desempenho abaixo do esperado das principais empresas de tecnologia, cujo peso nos indicadores é relevante. Dentro dessa dinâmica, optamos por zerar a posição 
em ativos de renda variável internacional por ora”, salienta o documento.

Assim, diz o banco, essas posições devem ser retomadas conforme o cenário internacional e o preço desses ativos se mostrarem 
mais favoráveis. “Juros mais baixos nos EUA têm impacto no preço do dólar, 
que deve perder força globalmente. Além disso, entendemos que o câmbio no Brasil (dólar vs. real) já atingiu o desempenho
e proteção esperados dentro das nossas carteiras desde o final do ano passado. Sendo assim, zeramos as posições 
em ativos atrelados ao dólar nos três perfis de risco para agosto”, conclui o relatório.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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