Pensa em investir no agronegócio em 2024? Preste atenção nessas dicas do Itaú BBA

Altas temperaturas e baixo volume de chuvas devem impactar culturas de soja e milho, com influência nas indústrias de boi, frango, café e suco de laranja

Grande estrela da economia brasileira em 2023, o agronegócio tem chamado cada vez mais a atenção de investidores domésticos e internacionais.

Maior produtor mundial de soja, café e suco de laranja, e um dos maiores de boi gordo, açúcar e milho, o Brasil deve seguir no radar do mercado em 2024, em particular devido ás condições climáticas.

Segundo a equipe do Itaú BBA, o verão de chuvas irregulares e temperaturas altas, sob impactos do fenômeno El Niño, deve impor dificuldade para o desenvolvimento das lavouras, resultando em antecipação do ciclo da soja.

Além disso, o El Niño poderá alterar o regime de chuvas no Nordeste, Sudeste, com previsão de chuvas irregulares nos próximos três meses.

A previsão é de chuva abaixo da média nos próximos três meses em Mato Grosso e na região oeste do Mato Grosso do Sul.

As temperaturas elevadas devem também ter impacto nos mercados de boi gordo, aves, suínos e indiretamente também atingir as culturas de milho, laranja e café.

Confira destaques do Itaú BBA para cada mercado.

Soja

As temperaturas elevadas e baixo volume de chuvas aumentaram preocupação com a safra brasileira, elevando preços.

O órgão americano USDA reduziu a safra 2023/24 do Brasil para 161 milhões de toneladas, contra 163 do relatório de novembro

O tamanho da produção do Brasil depende de como serão as chuvas até janeiro.

A desvalorização do peso argentino elevou expectativas de que produtores da região aumentem a oferta.

Menos compras recentes por parte da China. Grande parte da demanda chinesa para o primeiro trimestre de 2024 segue aberta.

É possível que a China siga importando grandes volumes de soja americana.

Farelo e óleo de soja

Mesmo com a falta do farelo argentino, o mercado internacional voltou a patamares baixos e os preços futuros continuam pressionados.

Isso porque, para 2024, espera-se a retomada das exportações argentinas e a continuidade do esmagamento elevado nos EUA.

O início de 2024 tende a ser desafiador para a indústria, seja pelas margens ruins ou por conta da disponibilidade de soja, dado que o plantio está atrasado em importantes regiões produtoras.

Entretanto, em linha com o aumento da demanda interna por óleos vegetais para a biodiesel, o esmagamento em 2024 deve se manter acima do registrado em 2023.

Milho

Números preliminares indicam que a exportação brasileira do cereal será de, pelo menos, 52 milhões de toneladas em 2024, um aumento de 11,4% sobre o ano anterior.

O atraso do plantio da soja por causa do clima geram maior preocupação em relação ao tamanho da área e oferta de milho na segunda safra.

O atraso na semeadura da safra de verão do Brasil tira parte da área de milho segunda safra da janela ideal de plantio e isso impõe maior risco climático para a cultura.

Mesmo se confirmada a queda projetada de 10% para a safra brasileira, o balanço global do cereal não deve apresentar mudança, diante da grande safra de milho dos EUA e da retomada da produção da Argentina.

O mercado brasileiro voltará à condição de preços internos com prêmio em relação à paridade de exportação, descolando-se do mercado internacional.

Algodão

O último relatório do USDA, dos EUA, trouxe revisões para baixo na produção e no consumo global de algodão 2023/24.

Não podemos descartar, nesse momento, novas reduções para o consumo global da fibra em 2023/24.

Mesmo com a menor liquidez global, uma produção menor deve seguir impedindo grandes quedas para os preços em 2024.

Boi gordo

A recuperação da oferta brasileira de gado de pasto atrasará com o clima seco.

Há um descompasso entre o mercado futuro do boi, indicando queda para os próximos meses, e os impactos climáticos negativos sobre pastagens e grãos, que devem apertar as margens dos confinamentos.

Com o clima prejudicando o desenvolvimento da soja no Mato Grosso e, consequentemente, elevando a incerteza sobre o potencial da safrinha, é possível que os custos de ração sigam evoluindo.

Aves

A oferta controlada e a boa demanda sustentaram os preços da ave em 2023.

O setor deve fechar 2023 com recorde de exportações, acima de 5 milhões de toneladas, o que equivale a 37% da produção brasileira.

Há boas razões para 2024 ser um bom ano para o setor no Brasil.

O Itaú considera os produtores bem preparados para capturar oportunidades, diante do avanço da gripe aviária mundo afora.

Mas isso dependerá diretamente da oferta e da capacidade de repasse de preços.

O BBA considera que, do ponto de vista das margens, o cenário ficou mais desafiador.

Isso porque os custos da ração tendem a continuar subindo, na esteira das perdas na safra de soja.

Suínos

A demanda mais fraca de início de ano desafiará a sustentação dos preços, diz o relatório.

A projeções da ABPA para a carne suína em 2024 sinalizam um pequeno crescimento da produção, de até 1% após o recorde em 2023.

Além das boas exportações de 2023, um maior controle da oferta de suínos foi determinante para a sustentação dos preços domésticos.

Do lado das exportações,  há boa perspectiva para os embarques brasileiros, com possível menor oferta da Europa e China.

Café

As chuvas abaixo do normal e as altas temperaturas em dezembro, no meio das floradas, impulsionaram os preços do café nos mercados de futuros.

Há previsão de melhora substancial das chuvas nas próximas semanas.

Se isso acontecer, deve ajudar a estancar eventuais perdas nas regiões onde choveu pouco em dezembro.

Isso pode trazer alguma realização aos preços após as altas recentes.

Laranja

O ritmo de colheita neste ano está bem mais acelerado.

Segundo a Fundecitrus, em meados de novembro já havia atingido 82% contra 60% na mesma época do ano passado, resultado do clima quente.

Esta situação tem a vantagem de reduzir a perda de frutos.

Por outro lado, restringe o crescimento das laranjas.

Para 2024, dois fatores devem ser considerados, ambos com viés negativo para uma recuperação da produção.

O primeiro é o avanço da praga greening, que segue desafiando os pomares nas regiões tradicionais.

O segundo são as chuvas abaixo da média desde meados do ano, junto das altas temperaturas.

Para os próximos meses, é de se esperar que os volumes de exportação sigam contidos, mantendo os preços de embarque em recuperação.

Açúcar

Nas últimas semanas, rumores do menor direcionamento de açúcar para o etanol na Índia derrubaram os preços nos mercados internacionais.

Mesmo assim, há relatos de que a quebra da safra no país asiático está maior do que nossa estimativa anterior.

A projeção do Itaú BBA para o saldo entre produção e consumo global em 2023/24 siga deficitária em 2,3 milhões de toneladas, sustentando preços.

Etanol

Os níveis elevados de estoques do produto devem seguir pressionando preços, mesmo com a demanda forte.

O preço do etanol nas bombas de combustível seguem abaixo dos 70% da gasolina em 9 Estados brasileiros.

Em São Paulo, a paridade permanece em 62%.

A estimativa para o próximo mês é de que a demanda continue fortalecida, as paridades devem permanecer abaixo dos 70% no período de entressafra nos principais estados consumidores.

Trigo

No começo da safra, era estimada safra recorde, mas o El Niño reduziu a produtividade e a qualidade do cereal.

Com a menor oferta dos últimos quatro anos, e o consumo e as exportações firmes no mesmo intervalo, a relação estoque/consumo caiu à mínima do histórico recente.

Por isso, o Itaú BBA avalia que os preços internos devem se manter firmes

Além disso, a paridade de importação deve continuar a reger os preços até a segunda metade de 2024, quando o tamanho da próxima safra deverá nortear o mercado interno.

Arroz

O atraso de plantio devido ao regime de chuvas intensas deve ser a maior dificuldade na formação de estoques por parte da indústria até março, quando um volume expressivo deve chegar ao mercado, sustentando os preços.

A necessidade de aquisições pela indústria deve manter os preços firmes.

Mas concorrência com importados deve aumentar.