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Fundos de crédito corporativo suspendem captação após forte queda nos prêmios
O crédito corporativo (debêntures incentivadas ou não, CRIs, CRAs e afins) vivem um período muito popular entre os investidores de pequeno porte. Mas a verdade é que tamanho frisson se tornou um problema para os profissionais do mercado financeiro, aqueles que ganham a vida investindo no atacado.
Com demanda muito superior à oferta, os prêmios embutidos nos principais títulos atrelados ao CDI (juros) e ao IPCA (inflação) estão em uma forte tendência de queda. Ela é tão grande que, sem opções rentáveis negociadas em grandes volumes na praça, alguns dos principais fundos de investimento suspenderam as captações.
Eles preferem fechar as portas para novos investidores a serem obrigados a comprar os títulos atualmente disponíveis no mercado. Muitos deles negociados sem praticamente nenhum prêmio. Ou pior: com taxas negativas.
Crédito corporativo com taxas negativas
É isso mesmo. Nas últimas semanas, títulos que, há um ano, chegarem a ser negociados com até 4% de prêmio para além de seu indexador, já operam perto de 0%. Isso quando não atravessaram a barreira para estamparem prêmios negativos.
Com isso, os consagrados CDI ou IPCA + emitidos por empresas consideradas boas pagadoras, vão se tornando CDI + 0% ou IPCA -. O retorno, assim, fica semelhante ao de um título do governo, que, ao contrário das empresas, não têm risco de crédito.
Fundos de crédito fecham captação
Para evitar que esse inexistência de spreads contamine o bom retorno dos fundos de crédito privado, algumas gestoras optaram por suspender captações.
Levantamento da Inteligência Financeira junto às principais plataformas de distribuição indica que vinte e um fundos estão, neste momento, com status de fechado para novos aportes.
A lista contém gestoras de grande porte, como JGP, de André Jakurski, a Sparta, de Ulisses Nehmi, e AZ Quest, de Walter Maciel. Todas com orçamentos bilionários sob administração.
Os bancões também integram a lista. Eles fecharam a captação dos fundos com os ativos de menor risco do mercado de crédito corporativo, justamente os mais expostos a essa onda de redução de spreads.
Confira os fundos de crédito quem fecharam a captação
Gestora | Fundo de crédito |
ARX Capital | ARX Vinson |
Augme Capital | Augme 45 |
AZ Quest | AZ Quest Luce |
AZ Quest | AZ Quest Supra |
Bradesco Asset | Bradesco Debêntures Incentivadas Inflação |
Bradesco Asset | Bradesco Debêntures Incentivadas CDI FIC FIRF |
Bradesco Asset | Bradesco Ultra |
CG Investimentos | Compass Credit Selection FIC FIRF CP LP |
Itaú Asset | Itaú Debêntures Incentivadas Juros Reais |
JGP | JGP Debêntures Incentivadas Juros Reais |
JGP | JGP Corporate Plus |
JGP | JGP Select |
JGP | JGP Corporate |
Kinea | Kinea Andes |
Mongeral Aegon | MAG CP |
Mongeral Aegon | MAG TOP |
Santander Asset | Infraestrutura Inflação Crédito Privado |
Santander Asset | Infraestrutura CDI 3 Crédito Privado |
Sparta | Sparta Debêntures Incentivadas |
Sparta | Sparta Debêntures Incentivadas Inflação |
Sulamerica Investimentos | Sulamerica Premium Plus |
Podemos fechar mais, diz gestora
Em sua última carta aos acionistas, a Sparta, de Ulisses Nehmi, escancarou o problema. Ela admitiu que fechou fundos, ampliou sua posição em caixa e se o problema persistir pode fechar ainda mais fundos.
“Estamos atentos ao ritmo de captação nos demais fundos, e eventualmente teremos novos fechamentos de fundos para captação”, pontua a gestora, no comunicado aos cotistas.
A casa tem hoje 18% do patrimônio no caixa. E, sobre crescimento, o foco está neste momento nos fundos de condomínio fechados, o JURO11, o CDI11 e CRAA11.
A ideia da Sparta é esperar para ver se a situação melhora. Mas, na opinião de Marcelo Tramontina Peixoto, gestor de crédito corporativo, nada indica uma mudança de cenário. “Acho que vai continuar caindo ainda mais”, afirma. Peixoto é sócio da Trígono Capital e gestor de dois fundos de crédito recém-lançados. Antes, foi gestor da área na asset do Santander por oito anos.
“Depois daquela abertura lá atrás de Americanas, Light, os spreads estavam muito convidativos, muito elevados. A gente vê um fechamento desde então, meio que sem parar”, diz.
Ele conta que no universo de empresas com nota máxima de crédito a situação está difícil. “A Gerdau, algum tempo atrás, emitiu a CDI + 0,6%. Excelente empresa, metade da receita e fluxo de caixa (vem dos negócios nos) Estados Unidos. Mas no (fundo da) Trígono a taxa (de administração) é de 0,45%. O que é que sobra para o meu cotista? Não sobra muito”, diz.
Risco um pouco maior
Por ser um fundo ainda pequeno, o gestor da Trígono diz que consegue entrar em emissões menores ou rechear o produto com ativos sem isenção de impostos.
A lei permite que antes de dois anos de vida um fundo registrado para investimentos em debêntures incentivados consegue ter até 35% do patrimônio em papeis sem isenção. Depois desse tempo, 85% do patrimônio precisa estar investido exatamente na classe determinada.
No universo de debêntures não incentivadas e com um pouco mais de risco, ele conta, os prêmios também estão em queda, mas ainda permanecem atrativos.
Marcelo Peixoto destaca, como exemplo, as holdings. A Simpar, que tem JSL, Movida e Vamos, entre outras, têm papeis de prazo curto que pagam CDI + 4,34%. A holding da AEGEA, de saneamento privado, negocia suas debêntures também a CDI +2,60%.
O mercado costuma exigir um prêmio de risco maior das holdings porque elas dependem de dividendos das operações em que são sócias ou donas.
“Eu tenho uma janela interessante por ser um fundo novo. Mas eu acho que quem tem um problema gigantesco na mão talvez sejam as grandes assets. Esses caras recebem um fluxo de dinheiro muito grande”, afirma.
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