Criptomoedas seguem em queda livre – e isso pode ser bom para você

Bitcoin atinge fronteira dos US$ 20 mil pela primeira vez desde dezembro de 2020; saiba o que analisar antes de tomar uma decisão de compra/venda

Quais os motivos que levam uma criptomoeda a desvalorizar? - Ilustração: Renata Miwa
Quais os motivos que levam uma criptomoeda a desvalorizar? - Ilustração: Renata Miwa

A cotação das principais criptomoedas registrou fortes perdas nesta quarta-feira (15), dia de instabilidade nos mercados globais de risco, com receio de recessão e aversão dos investidores a ativos super voláteis, como é o caso das moedas digitais.

Qual é a cotação das criptomoedas hoje?

Maior das criptomoedas, o bitcoin derreteu quase 16% apenas nas últimas 24 horas, sendo negociado a US$ 23.603, com baixa de 15,7%, perto das 15h15 (horário de Brasília), segundo o CoinGecko. No final de semana, o bitcoin foi perdendo sucessivamente os patamares de US$ 28 mil e US$ 25 mil, e aprofundando os temores de um inverno cripto ainda mais duradouro do que os anteriores. A criptomoeda está em seu menor patamar desde dezembro de 2020.

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Por que as criptomoedas estão caindo?

A derrocada acontece já há algumas semanas, mas os preços vêm despencando mesmo desde a semana passada. Os dados de inflação dos EUA superaram as expectativas, frustrando qualquer esperança de que o aumento dos preços possa ter atingido o pico. As ações, por exemplo, caíram enquanto os rendimentos dos Treasuries de dois anos subiram para o maior nível desde 2008.

Bitcoin e outras criptomoedas sofreram nos últimos meses conforme o FED aumenta as taxas e os formuladores de política monetária intensificam os esforços para combater os aumentos de preços e à medida que ativos de risco, como ações de tecnologia, recuam.

O que deve acontecer com o preço das moedas digitais nas próximas semanas?

Os dados de inflação dos EUA estão ajudando a alimentar as baixas no fim de semana e “muito provavelmente veremos essa queda continuar na próxima semana, especialmente com a reunião do FOMC [comtitê de política monetária do Fed] chegando”, disse Vijay Ayyar, vice-presidente de desenvolvimento corporativo e internacional da plataforma de criptomoedas Luno.

“Se olharmos para os mercados de baixa anteriores, o bitcoin caiu cerca de 80% normalmente, com altcoins atingindo mais de 90% de baixa”, disse Ayyar. “Se esse for o caso, poderemos ver preços do bitcoin muito menores nos próximos um ou dois meses.”

O total de liquidações de criptomoedas ficou acima de US$ 100 milhões pelo terceiro dia consecutivo no domingo, após US$ 258 milhões na sexta-feira e US$ 290 milhões no sábado, segundo dados da Coinglass. E o índice MVIS CryptoCompare Digital Assets 100, uma medida ponderada por capitalização de mercado que acompanha o desempenho dos 100 maiores tokens, caiu para o nível mais baixo desde janeiro de 2021.

O que dizem os analistas sobre os criptoativos?

Na semana passada, analistas grafistas alertavam para a possibilidade de forte desvalorização para os criptoativos, caso o bitcoin rompesse o patamar de US$ 28 mil, como ocorreu no sábado (11). Na avaliação desses analistas, sem esse suporte a maior das criptomoedas poderia voltar para o patamar de US$ 22 mil.

Entre as demais moedas digitais, o ether tinha perdas ainda maiores, de 18% nas últimas 24 horas, negociado a US$ 1.241,06. Em reais, o bitcoin era negociado a R$ 121.645, com baixa de 5,2%, e o ether, a R$ 6.452,96, com perda de 4,81%, segundo o Mercado Bitcoin.

O que é o inverno cripto?

O termo que mais se ouve no mercado neste momento é “inverno cripto”. A queda das cotações puxou uma série de atitudes no mercado. Uma das maiores empresas do mercado de criptomoedas  nos Estados Unidos, a Gemini anunciou a demissão de 10% do seu quadro de funcionários. O comunicado foi feito no blog da companhia, que justificou a decisão devido a “condições de mercado turbulentas que provavelmente persistirão por algum tempo”. Segundo reportagem do CoinDesk, a Gemini comentou ainda que a indústria cripto está atualmente em uma “fase de contração, agravada pela atual turbulência macroeconômica e geopolítica.”

Outras empresas do setor também estão se ajustando ao inverno cripto. Em abril, a gigante Coinbase informou que suspendeu seus planos de contratação de novos funcionários e que iria reavaliar as necessidades de pessoal à medida que o mercado de criptomoedas sofre uma desaceleração dos negócios. O projeto inicial da empresa era de contratar 2.000 profissionais neste ano. No primeiro trimestre do ano, a Coinbase registrou US$ 430 milhões, ante um lucro de US$ 840 milhões, no último trimestre de 2021.

Como a queda das criptomoedas afetam o Brasil?

No Brasil, o Grupo 2TM, dono do Mercado Bitcoin, demitiu 90 dos seus 750 funcionários. Em nota, a empresa atribuiu os desligamentos à “mudança no panorama financeiro global”, marcado pela alta de juros e pela inflação mais elevada. A companhia declarou ainda que essas alterações nas condições macroeconômicas impacta principalmente as empresas de alto crescimento no setor de tecnologia, o que levará a buscar uma nova equação de crescimento e investimento.

O que querem os investidores?

Todo investidor, do mais conservador ao mais arrojado, só pensa em uma coisa: dinheiro, óbvio. Mas não é só isso. De acordo com analistas, os mercados globais seguem pressionados com o avanço da inflação. “A expectativa de um aumento ainda maior na taxa de juros dos Bancos Centrais tem impactado o comportamento dos investidores, que tem buscado liquidez nesse momento para se proteger das incertezas. A volatilidade alta deve ditar o ritmo dos mercados”, disse Lucas Passarini, trader do MB.

Para esta semana, os investidores observam os ajustes na política monetária pelo FED, que podem ser um novo golpe para esses mercados.

“As criptomoedas são ativos de altíssimo risco, como as ações de tecnologia. É natural que neste momento estejam entre as mais penalizadas por conta da política monetária. Difícil é saber neste momento em que fase estamos do inverno cripto”, disse Jefferson Colombo, especialista em criptoativos da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Por que a queda das criptomoedas pode ser boa para você?

Se por um lado a queda das criptomoedas pode representar desespero para alguns, para outros ela pode ser uma boa oportunidade. Mas veja: é preciso aceitar o risco e isso significa que amanhã você pode acordar, puxar seu extrato de moedas digitais e ver que sobraram centavos.

Agora, se você tiver um pouco de paciência, persistência e der uma nova chance às criptomoedas, pode aproveitar os preços baixos. Aqui, vale a velha máxima “compre na baixa”, repetida milhões de vezes. Mas atenção: nunca deixe a ganância ser maior do que a cautela. Para qualquer cenário e ainda que você seja classificado com forte tolerância ao risco, não coloque mais do que 5% dos seus investimentos em criptomoedas.

Ainda que os preços estejam caindo e que você possa achar que, para o seu perfil, a hora é boa para comprar moedas digitais, vá com calma. Os mercados mundiais ainda estão tentando se recuperar das últimas desvalorizações.

E se você, assim como milhares de outros investidores, está pensando em vender suas criptos, analise o cenário: assim como caíram rapidamente, os ativos digitais dão demonstrações de que podem voltar a subir. E sempre leve em consideração seus objetivos. Essas duas pontas (leitura sobre o mercado + seus planos) devem guiar suas atitudes.

Cinco perguntas para você fazer antes de investir em criptomoedas

  • Qual é o objetivo da cripto?

A primeira coisa que especialistas olham é para o problema que a criptomoeda vai resolver. É por isso que muitos se referem a elas como “projetos”. Algumas criptos de memes, como o Dogecoin, ganharam muita fama no mercado, mas, pensando no longo prazo, a recomendação é que o ativo tenha um propósito. O primeiro ponto que olha ao analisar um ativo é seu propósito, se a cripto vem solucionar um problema no mundo real e trazer inovação. 

  • Quem são os desenvolvedores do projeto? 

Os golpes envolvendo criptomoedas não são raros. Muitos desenvolvedores não mostram a identidade e “aparecem” ao público usando avatares, o que deve ser um ponto de atenção para quem quer investir em seu projeto. É fundamental conhecer os desenvolvedores. 

  • Como saber se a criptomoeda está cara ou barata? 

Para responder esta pergunta, é preciso saber a quantidade de moedas que está circulando atualmente no mercado, quantas serão emitidas e se há um teto de emissão. Isto ajuda a entender como se dará a oferta da moeda em determinado período de tempo. Uma cripto que tenha 21 milhões de unidades e ainda valha US$ 10, por exemplo, pode ser considerada com potencial para atingir um valor mais alto. 

  • Como saber se uma criptomoeda está sendo negociada?

Depois de verificar como é a dinâmica da oferta da cripto, é preciso observar o outro lado do balcão, o da demanda. Afinal, se não há uma comunidade por trás do ativo, você pode comprar e ver a cotação estagnar ou despencar ou ainda não ter compradores para aquele ativo. 

  • Como saber se um boato envolvendo uma criptomoeda é verdadeiro? 

É comum no mercado de criptomoedas ver recomendações de projetos que serão, segundo uma fonte sem credibilidade, usados por grandes empresas, como Google ou Facebook. São apontadas como “o Google está apostando nesta criptomoeda”. Isto é feito para enganar investidores e inflar o preço do ativo.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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