Selic vai baixar? Veja 6 dúvidas que o Copom deve responder e que vão mexer com seu bolso
Especialistas mostram no que você deve de fato prestar atenção
A reunião desta semana do Copom reúne mais certezas do que dúvidas, de acordo com fontes do mercado ouvidas pela Inteligência Financeira. É consenso que a Selic vai baixar, seguindo o que o comitê do Banco Central já sinalizou na última reunião, em agosto. No entanto, pairam algumas dúvidas que o mercado espera que se sejam respondidas ao final desta reunião.
Há expectativas de que o Copom faça sua tradicional análise do panorama do mercado, apresentando a visão dos diretores do Banco Central para o momento atual. A trajetória da inflação, o cenário econômico externo e o ritmo das próximas quedas da Selic são alguns dos pontos no radar.
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“O Copom tende a fazer uma descrição do que está acontecendo”, afirma Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco e colunista da Inteligência Financeira.
O especialista explica o comitê escreve seus comunicados de forma minuciosa, de modo a detalhar as avaliações feitas pelos diretores.
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Para te ajudar a entender o que está em jogo neste Copom, a Inteligência Financeira lista seis perguntas a serem respondidas pelo comunicado e pela ata da reunião.
1. Quanto a Selic vai baixar?
Que a Selic vai baixar nesta reunião é algo consenso no mercado. De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem também é certo que a Selic deve cair 0,50 p.p. nesta reunião, passando a ser de 12,75% ao ano.
“Qualquer coisa diferente de uma queda de 0,50 ponto seria uma das maiores surpresas da minha carreira”, afirma Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.
“É um consenso do mercado, mas muito ancorado pelo que o próprio Copom estabeleceu na última reunião. E os fatos dos últimos 45 dias confirmam essa projeção”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno.
2. O Copom vai acelerar a queda da Selic?
Se é consenso que a Selic vai baixar em 0,50 p.p. nesta reunião, há expectativas de qual recado o comitê vai dar sobre as próximas reuniões.
“A dúvida que o mercado tem é o que vai acontecer na sequência. Se teremos alguma sinalização de que o corte de juros pode ser acelerado”, diz Gonçalves, do Itaú.
O especialista explica que a instituição considera ser possível um corte maior, de 0,75 p.p., em dezembro, com a Selic encerrando o ano em 11,50% ao ano. No entanto, ele defende que o comitê não antecipe essa possibilidade nesse comunicado. “Fazer uma sinalização de aceleração agora incorreria no risco de levar a uma desancoragem das expectativas para a inflação”, afirma.
João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kinitro, ressalta que os diretores afirmaram que era consenso entre os membros do comitê que poderíamos esperar “cortes da mesma magnitude” que o feito em agosto. Ou seja, redução de 0,50 p.p. “A perspectiva é que o Copom reforce esse plano de voo para as próximas reuniões.”
“No nosso cenário-base não está essa opção de cortes maiores. Se tiver será no final do ano, caso existam dados que justifiquem isso. No início desse ciclo de cortes é necessário parcimônia, as perspectivas de inflação precisam estar melhor ancoradas”, argumenta Gustavo Sung, da Suno.
3. Diretores do Banco Central seguirão divididos?
Na última reunião, os diretores do Banco Central se dividiram ao meio, entre a defesa por corte de 0,25 p.p. ou de 0,50 p.p., na reunião de agosto. Para os economistas ouvidos pela Inteligência Financeira, a expectativa é que dessa vez a decisão seja unânime.
“Deve vir mais consensual, devem repetir que o corte de 0,50 p.p. é unânime. Eles já escreveram na última reunião que estavam em consenso sobre cortes nessa magnitude para as reuniões seguintes. Não vemos motivo para se ter desvios nessa unanimidade”, diz Fernando Gonçalves.
4. Inflação pode acelerar no Brasil?
Na análise feita pelos integrantes do Copom, um ponto tradicionalmente importante é o das perspectivas que os diretores fazem para a inflação no país.
“O cenário de inflação está mais favorável, incluindo o setor de serviços que sempre é pedra no sapato, mas o jogo ainda não está ganho”, afirma Alexandre Espírito Santo, da Órama. “Esperamos que tenham alterações nas previsões para a inflação. Esperamos que eles alterem para pior, mas que essa alteração seja pequena”, diz João Savignon, da Kinitro.
Fernando Gonçalves explica que o Copom deve detalhar o comportamento dos núcleos de inflação e as perspectivas que estão no horizonte. “A maneira como isso será colocado e as nuances serão importantes”, diz o superintendente de pesquisa econômica do Itaú.
5. Como o Copom vê o cenário externo?
Os especialistas afirmam que o mercado aguarda uma sinalização de como o Banco Central vê alguns pontos do cenário externo e seus possíveis impactos sobre o Brasil. Na lista, estão a alta do petróleo, o cenário de altas taxas de juros no exterior e uma possível desvalorização do real.
“O barril de petróleo está em US$ 95, e muita gente diz que pode chegar a US$ 100. Isso é ruim porque a Petrobras já está com preço defasado, vai precisar subir, e nós sabemos que isso terá impacto sobre a inflação”, explica Alexandre Espírito Santo.
Para Gustavo Sung, “o ponto são os bancos centrais ao redor do mundo”. “O Copom vai observar se eles ainda estão em uma política contracionista, se estamos ou não no fim do ciclo de altas dos juros”, explica.
Isso é importante, entre outros motivos, porque a redução do diferencial de juros entre as taxas do Brasil e dos Estados Unidos pode levar a uma desvalorização da taxa de câmbio. “Esse câmbio depreciado também terá impacto sobre a inflação”, diz João Savignon.
6. Como o Copom vê as contas públicas?
A algumas reuniões atrás, a pauta fiscal era protagonista nas discussões do Copom. Para os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, o comitê deve fazer uma análise sobre o tema, mas sem direcionar o seu foco para o assunto.
“O Copom já reconheceu que os riscos da pauta fiscal foram controlados”, diz Fernando Gonçalves. “Eu não acredito que condicionariam isso [o panorama fiscal] às decisões de política monetária. Agora mencionar as coisas que estão sendo discutidas sim, porque há essa tendência de se fazer uma análise”, observa.
“Não há razão para o Banco Central voltar com isso. Vamos ter que esperar o desenrolar dos próximos dois ou três meses. Se o governo tiver dificuldades para aprovar os projetos para a arrecadação e a PEC da Reforma Tributária, aí sim isso volta ao radar”, diz João Savignon.
“O risco fiscal existe e ainda está no radar do Banco Central, mesmo que ele não fale sobre isso. O arcabouço fiscal trouxe regras claras, mas há dúvidas sobre a execução”, diz Gustavo Sung. “Ao que tudo indica o governo não vai conseguir zerar o déficit no ano que vem. Se isso começar a afetar de forma mais preponderante o Copom deve voltar a falar sobre isso, mas por enquanto não.”