Onde investir: na bolsa (que está barata) ou em títulos atrelados à Selic (que está alta)?
A resposta depende do seu apetite ao risco e ao que acontece na China
Nessa semana, o Federal Reserve (Fed) passou uma mensagem importante sobre o fim do ciclo de alta dos juros na maior economia do mundo – e que serve como guia para os demais mercados.
Por aqui, a mais recente indicação do Comitê de Política Monetária (Copom) foi de que o ciclo de juros deve permanecer estável e não deve recuar no primeiro semestre.
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Entre os investidores estrangeiros, a avaliação é de que a bolsa brasileira está barata e os gestores apontam que, mesmo com incertezas e volatilidade, o mercado é atrativo.
Mas e entre os gestores brasileiros, a percepção é a mesma?
Ainda vale a pena alocar recursos em ativos negociados na bolsa nesse cenário de juros básicos a 13,75% ano?
O tema foi debatido durante a Smart Summit 2023, feira de investimentos do Rio de Janeiro realizado pela InvestSmart XP e apresentado pela QR Asset.
E, em suma, a resposta para a dúvida é: sim, ainda vale a pena investir na bolsa.
Mas é preciso observar alguns fatores.
“Estamos entrando num novo quadrante da matriz de investimentos global. Melhor e mais adequado em relação a risco. A China deve chegar ao fim do ano com saldo positivo e recuperação cíclica da economia. Quando a alta de juros parar nos Estados Unidos, a principal praça de bolsas do mundo começa a ir melhor”, resume Paolo di Sora, sócio fundador e chefe de investimentos da RPS Capital.
O que acontece com a bolsa quando os juros tendem a cair?
A trajetória dos mercados mostra que as bolsas passam a ter ganhos quando os juros estão próximos de cair. E o movimento da curva de juros é um ponto que todo o mercado monitora com atenção.
“O Brasil continua com o juro real mais alto do mundo. Temos ouvido coisas da equipe econômica do governo federal que fazem sentido e que ajudariam os juros caírem. O que nos distancia de uma posição melhor é o discurso do presidente dissonante de sua equipe. Se tivermos sinergia para que as promessas sejam cumpridas, podemos aproveitar a retomada da onda de otimismo global com as bolsas. Por isso, não ter nenhum investimento na bolsa não é o caminho”, analisa di Sora.
Onde investir?
Para investir em fundos de ações ou ações a partir das características e os fundamentos de uma empresa específica (análise ‘bottom-up’), alguns cuidados são básicos, lembra Tiago Reis, fundador da Suno.
- a empresa deve ter caixa estruturante, com resultados operacionais positivos;
- a empresa deve apresentar boa lucratividade ao longo do tempo e ser boa pagadora de dividendos;
- a empresa deve ter margens maiores do que as concorrentes do segmento;
- a empresa deve ter endividamento controlado;
- a empresa não deve fazer emissão de ações de forma recorrente.
Com essas características, empresas dos setores agrícola, mineração, elétrico estão entre as preferências do profissional da Suno. “Temos muitas empresas boas que estão distribuindo caixa aos acionistas”. Para ele, parte do que acontece agora é resultado de aprendizados construídos em cima de erros feitos em alocação de capital até o início da década passada.
“As empresas aprenderam com seus erros e agora se tornaram opções interessantes para quem consegue aguentar a volatilidade da bolsa até que voltemos às médias históricas”, sustenta.
Na busca por boas oportunidades, e em se tratando de bolsa, elas existem mesmo quando a renda fixa está mais atrativa, Márcio Fontes, gestor do fundo ASA Hedge, vê ativos de estatais como opções boas e baratas para o investidor, ainda que seja necessário monitorar o encaminhamento das políticas governamentais.
É hora de investir em commodities?
Algumas questões conjunturais, como os sinais vindos da China, tornam os papéis ligados às commodities atrativos. Mas não é só isso.
“As empresas de commodities estão baratas principalmente em face do ESG [sigla em inglês para designar a agenda ambiental, social e de governança], que precisa de toda uma infraestrutura verde a ser construída e aprimorada. É um paradoxo interessante”, diz Fontes.
Ações ligadas ao consumo interno estão caras
Já os ativos de empresas relacionadas ao consumo interno estão caras.
O indicador mais comum para saber se um papel está barato ou caro é o “preço sobre lucro”, o famoso “P/L”(entenda mais aqui).
Frente ao quadro, fundos multimercados podem ser mais interessantes ao investidor, já que a flexibilidade característica do produto permite exposição em várias bolsas e com variedade de ativos.
“A combinação de estratégias é uma boa opção para lidar com a bolsa brasileira do jeito que está”, sustenta Fontes.
Cautela para o investidor
Apesar de concordar que esse é um momento para maior exposição dos investidores, di Sora, da RPS, avalia que o momento exige cautela para a maior parte deles.
“É um momento de muitas incertezas em que a janela de oportunidades ainda está ficando clara. Com a bolsa competindo com o CDI a 13,75%, faz mais sentido aplicar de maneira tercerizada via gestoras”, aponta.
“Em três anos tivemos pandemia e guerra na Ucrânia. Não dá para prever onde e quando vai acontecer a próxima crise, mas podemos prever que irá acontecer e que irá impactar as bolsas”, lembra Reis.
“O investidor precisa olhar para as bolsas e para os ativos, entender como se comportaram nesses períodos e se perguntar: eu aguento lidar com isso? A pior coisa é montar uma carteira incompatível ao risco real da pessoa”, reitera o fundador da Suno.