BC só elevaria a Selic em cenário de deterioração fiscal expressiva, diz BNP Paribas

No cenário-base do banco, a taxa básica de juros deve encerrar 2023 em 12% ao ano

Em um mundo com menos liquidez e atividade econômica global em desaceleração, a discussão fiscal é o ponto chave para o próximo ano e deve ser vetor decisivo para a condução da política monetária à frente. A avaliação é do chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, Gustavo Arruda, cujo cenário básico aponta para o início do processo de redução da Selic apenas no segundo semestre de 2023.

O mercado de juros tem indicado aumento da possibilidade de uma retomada do ciclo de aperto monetário no próximo ano pelo Banco Central. Arruda, porém, avalia que esse cenário, para se materializar, precisaria de uma deterioração ainda maior da política fiscal “ou pelo menos muito próximo ao que foi publicado de intenção de gasto fiscal pelo governo eleito na semana passada”.

Na visão do economista, em um ambiente de gastos mais moderado e com desvios relativamente pequenos da inflação, o BC poderia acomodar no tempo de convergência da inflação para a meta.

“Se tivermos uma revisão da inflação que não for mais 5%, mas 5,5%, o BC pode olhar para a frente e aceitar uma convergência que leva mais tempo e não necessariamente subir juros. A barra é muito alta para que ele mude o sinal e volte a elevar a Selic. Seria preciso uma mudança completa de cenário e de deterioração das expectativas de inflação”, avalia Arruda. Para ele, caso o cenário-base de cortes nos juros no segundo semestre de 2023 não se concretize, o mais provável é que o BC mantenha o juro básico parado ao longo do próximo ano inteiro.

O economista do BNP Paribas condiciona a reação da política monetária ao cenário fiscal. Sobre a PEC da Transição, Arruda diz que seu cenário abarca gastos acima do teto que fiquem entre R$ 100 bilhões e R$ 125 bilhões em 2023.

Com um valor extrateto próximo de R$ 150 bilhões, ele avalia um aumento de possibilidade de não haver redução da Selic em 2023. E, entre R$ 175 bilhões e R$ 200 bilhões fora do teto de gastos, ele acredita que o debate começaria a se tornar “mais complicado”.

Arruda pontua a importância de restringir os valores fora do teto de gastos para apenas um ano. “O prazo é relevante, porque, sabendo que ele é de apenas um ano e que os gastos devem permanecer, poderíamos ver discussões no primeiro semestre do ano que vem sobre como essa conta irá fechar.”

Ele alerta que, se houver um cenário agressivo de deterioração fiscal, o câmbio pode ser a variável que deve piorar de forma expressiva. “É o que está faltando para vermos esse cenário mais negativo. Boa parte do ajuste nas variáveis macroeconômicas aconteceu na curva de juros, e não no câmbio. Essa pouca movimentação preocupa e, caso ela aconteça, pode ser algo agressivo”, aponta Arruda.

No cenário-base do BNP Paribas, a Selic encerra 2023 em 12%, enquanto o dólar chega ao fim do próximo ano negociado a R$ 5,20.

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