- Home
- Mercado financeiro
- Selic
- Selic pode subir a 15%? Legacy estima taxa para levar inflação a 3%
Selic pode subir a 15%? Legacy estima taxa para levar inflação a 3%
O Banco Central começou atrasado o ciclo de altas da Selic e precisará agora acelerar o ritmo de aperto monetário para manter credibilidade sobre o processo de convergência da inflação. Essa é a avaliação do economista-chefe e sócio fundador da Legacy, Pedro Jobim.
“Vai ser difícil manter ritmo de 50 pontos-base. Com um o pacote de corte de gastos que deve trazer uma melhora apenas efêmera [dos prêmios de risco], esse ritmo ficou insuficiente”, diz Jobim, que participou de um painel em evento organizado pelo UBS em São Paulo.
“O BC vai acabar indo para 75 pontos-base e se fizermos contas, a Selic para levar a inflação a 3% no horizonte seria perto de 15%. Acredito então que pode chegar a um patamar talvez perto de 14%. É o que está apreçado no mercado e ainda assim vai entregar inflação bem fora da meta”, diz Jobim, que projeta uma inflação de 5,5% no fim de 2025.
Ciclo de alta da Selic
O economista avalia que o país ainda colhe os benefícios de ter baixado a meta de inflação para 3% – em momentos anteriores em que a taxa de desemprego estava tão baixa, a meta de inflação era 4,50%, a meta perseguida era mais perto de 6% e a observada rodava em 7%.
Apesar disso, continua, o governo não parece disposto a fazer o necessário para tirar o “elefante na sala” que é a perspectiva de elevação da dívida em um cenário em que o externo ficou mais adverso e o dólar não deve ajudar.
Apesar do cenário complicado para 2025 e 2026, Jobim ressalta que o país ainda longe de uma situação de dominância fiscal. Dominância é aquela situação em que o BC sobe juros e a situação dos ativos piora, porque existe a percepção de uma dívida explosiva que piora mais com alta de juros.
“Se o BC tivesse dado 75 pontos-base [na última reunião], o que teria ocorrido é um efeito positivo sobre cambio, juros longos, talvez até a bolsa”, argumenta.
“Estamos distante dessa discussão, o BC é hoje a única força no curto prazo que gera perspectiva de ancoragem. No fundo, vai acabar entregando bastante do que está apreçado, mas infelizmente não vai ser suficiente para manter inflação baixa.”
Para o chefe de pesquisa da Kapitalo Investimentos e ex-diretor do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, a situação de dominância fiscal está longe, mas os riscos não são desprezíveis. Ele nota o que parece ser uma resistência encabeçada pelo presidente Lula em desacelerar a economia.
“Lula parece que aceitou gestos como a alta da Selic ou algum corte de gasto como símbolos, algo que se pode fazer para virar o cenário sem desacelerar a economia. Ao mesmo tempo, ele fala que as pessoas precisam ter dinheiro no bolso para gastar, que o juro baixo não resolve tudo. Ou seja, me parece que existe o risco de vermos a política monetária atuando para fazer economia esfriar e o governo não aceitando. Não estamos neste momento, mas tem essa questão fundamental em jogo.”
Para Viana, o pacote que a equipe econômica deve anunciar nos próximos dias pode trazer medidas “minimamente estruturantes” e outras de redução de gastos que ajudem o novo arcabouço a se manter de pé no horizonte visível, mas não deve atacar o problema central da trajetória de alta da dívida pública. Ele pondera, no entanto, que a reação dos investidores é imprevisível, já que em 2023, o mercado aceitou e teve até um momento de otimismo com a divulgação de um arcabouço que não se sustentava de pé.
“A impressão que eu tenho é que a equipe econômica sonha com a volta a esse momento, de que o arcabouço bastou”, diz.
Com informações do Valor Econômico
Leia a seguir