Riscos e oportunidades em Fiagro: entenda mais sobre o fundo de investimento do agronegócio

Fiagros são opção para investir no setor que mais cresce no país

Novo no mercado, o Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, ou simplesmente, Fiagro, pode ser bastante rentável. Segundo levantamento, rendimentos nessa modalidade chegaram a 27% de janeiro a agosto de 2023.

Especialistas apontam que Fiagros podem ser boas opções de investimento, levando em conta que se beneficiam do crescimento do setor mais pujante da economia brasileira: o agronegócio.

Mas é preciso saber avaliar riscos e oportunidades.

Entenda os riscos envolvidos nos Fiagros e as maneiras de superá-los para encontrar boa rentabilidade.   

Impacto das commodities sobre os Fiagro

Grande parte dos Fiagros compram ativos que dependem dos preços de commodities.

A commodity tem alta volatilidade e pode ser afetada por questões econômicas, políticas, cambiais e climáticas relacionadas a diferentes mercados.

Entre as commodities agropecuárias – como proteína animal, soja, milho, entre outras – houve aumento de preços em 2022, segundo Luciana Ikedo, especialista em investimentos, por ocasião do recrudescimento das tensões entre Rússia e Ucrânia.

“Os preços aumentaram bastante e fizeram com que os produtores se animassem a ponto de aumentarem a produção”, destaca.

Há a expectativa, por isso e por conta do clima favorável, de uma safra recorde no Brasil neste ano.

Por outro lado, a demanda global deve ser insuficiente para absorver esse incremento de produção.

“Ou seja, deve haver aumento da oferta, sem o aumento da demanda correspondente, o que faz com que os preços das commodities agropecuárias caiam”, explica Luciana.

Isso, naturalmente, tornam os investimentos relacionados a essas commodities menos atraentes.

Assim, apesar do cenário menos favorável do que no ano passado para os Fiagros, a modalidade ainda pode ser uma boa opção, segundo a especialista. “Principalmente pensando em diversificação de carteira, com possibilidade de valorização atrativa nos médio e longo prazos”, afirma.

Diversificação para diluição de risco

Apesar da queda no preço da alimentação em geral, que vem sendo expressa na desaceleração da inflação no Brasil, alguns produtores se beneficiam mais do que outros, como os de proteína animal.

Em 2022, essa indústria sofreu por conta do aumento do preço da soja e do milho, que são responsáveis pelo principal custo desse segmento.

Com isso, a inclusão na carteira de Fiagros relacionados à criação e produção de carne pode ser uma boa opção de diversificação da carteira.

“É importante entender o quão diversificado é o Fiagro”, diz Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, ao mencionar a importância de ter ativos relacionados à commodities agrícolas e pecuárias.

“Por ser um mercado novo, muitos fundos são pequenos e com portfólios concentrados, o que aumenta bastante o risco”, complementa.

Risco de crédito e ambiental

Além disso, existe o risco de crédito dos devedores que compõem a carteira do fundo e questões ambientais e sociais relacionadas aos players financiados.

“Ao longo da cadeia produtiva podem ocorrer alguns problemas em terceiros”, destaca Mara Limonge, diretora de Relações com Empresas da Apimec Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais do Brasil).

Assim, diante de uma eventual insolvência dos players por questões relacionadas a crédito, é preciso observar o grau de preferência do recebimento, tendo em vista que alguns fundos têm uma hierarquia entre os investidores, ou seja, alguns recebem antes de outros.

Dessa maneira, em relação tanto à saúde financeira quanto a questões ambientais, Mara afirma que são efetuadas diligências nas propriedades e que os investidores devem estar atentos a esse tipo de ação para identificar se há questões que podem significar um aumento do risco.

Mas a especialista diz que o sistema é eficiente em identificar problemas antes de as propriedades serem incluídas num processo de financiamento via Fiagro.

“Os filtros aos quais os fundos estão expostos procuram dar mais segurança. E não só em relação à saúde financeira, mas também às práticas ESG”, diz.  

Tipos de players e de garantias

Uma das maneiras de diluir riscos é optar por fundos relacionados mais ao financiamento de empresas que de produtores rurais. Isso porque é mais fácil haver questões de inadequação à legislação entre os produtores.

A opinião é de Bruno Lund, gestor da Ecoagro, especializada no desenvolvimento e estruturação de operações financeiras para o agronegócio.

Outro ponto importante, segundo Lund, é observar as garantias envolvidas no financiamento.

“Prefiro garantias mais líquidas porque em caso de execução você consegue monetizar a garantia mais facilmente”, explica.

Ele diz que uma das garantias mais comuns é a propriedade da terra, o que pode ser um problema.

Isso porque, diante de uma insolvência do devedor, a liquidação desse ativo pode ser mais complicada por questões legais e burocráticas.  

Por isso, ele diz preferir os recebíveis, ou seja, a posse do que o financiado teria que receber de seus compradores. “Esses recebíveis são contratos dessas empresas com diversos produtores”, explica.

A tributação de fiagro

O Fiagro, quando investido por pessoa física, assim como o CRA, é isento de IR.

Mas, para isso, é preciso atender alguns critérios de pulverização, como:

  • Número mínimo de 500 cotistas (antes da MP 1184, o número era de 50)
  • Cotistas não podem concentrar mais de 10% das cotas
  • Precisa estar listado e ser negociado em bolsa de valores

“É importante destacar ainda que a isenção é em relação ao rendimento do fundo. Caso a cota seja vendida em valor superior ao seu preço de curva, essa diferença, que é o ganho de capital, será tributada”, ressalta Mara, da Apimec.

Para ganhos de capital na alienação da cota, o IR é de 20%, independentemente de atendidas ou não as regras de pulverização.