Os investidores do setor de energia gostaram do que viram nesta terça-feira (26), quando a Neoenergia (NEO3) divulgou o balanço de suas operações no segundo trimestre. A empresa reportou Ebitda 30% maior que o esperado pelo mercado e lucro líquido 65% superior à projeção consolidada pela Refinitiv. Os números foram muito bem recebidos e a ação da companhia avançava 2,15% às 12h38 desta quarta-feira (27).
A unidade de distribuição foi a que mais animou analistas. O volume de energia distribuída subiu 0,7%, o que pode ser comemorado por investidores, já que a unidade é responsável por 96,5% das receitas da companhia. “Estamos vendo retomada das atividades para a indústria, que consome muita energia. Na parte residencial, o auxílio emergencial pode ajudar um pouco”, diz Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
Quatro das cinco distribuidoras da empresa apresentaram queda nas perdas totais de energia. Na Neoenergia Brasília, distribuidora mais nova do grupo, houve redução das perdas pelo sexto trimestre consecutivo.
O processo de recuperação de valor da nova distribuidora foi muito elogiado por analistas ouvidos pela Inteligência Financeira. Bernardo Viero, analista da Suno Research, afirma que o processo “vem sendo tocado com agilidade”.
Por outro lado, os olhares mais desconfiados se concentram na capacidade de Neoenergia de entregar os projetos de transmissão que tem em mãos. No ano passado e em junho deste ano, a companhia saiu vencedora de leilões de transmissão, mas o mercado considerou o preço alto demais e, desde então, há desconfiança sobre a eficiência desses investimentos.
“Apesar de estas (aquisições) terem sido baseadas em um estudo aprofundado realizado pela empresa, cabe monitorar se ela conseguirá efetivamente entregar seus projetos prometidos”, diz Nelly Pires Colnaghi, analista da Levante.
Matheus Jaconelli, analista da Nova Futura Investimentos explica que “as novas concessões de transmissão nos leilões de junho gerarão aumento de Capex nos próximos anos, impactando a possibilidade de pagamento de dividendos e desalavancagem da companhia representado pela Dívida Líquida/Ebitda em 3,14x”.
Porém, para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o histórico pesa a favor da Neoenergia. “O fato de as conquistas dela no leilão de 2017 terem sido entregues tanto com eficiência de Capex quanto de tempo de execução da obra é um diferencial”, diz o especialista.
Essa desconfiança do mercado ajuda a explica o desconto da ação, que é negociada a um Preço/Lucro de 4,35x.
Balanço didático
A Neoenergia foi a primeira grande empresa do setor de energia a divulgar seu balanço do segundo trimestre. A empresa costuma abrir a temporada no setor de energia e, como tem um portfólio completo, serve de termômetro para que os investidores saibam o que esperar de outras companhias do setor.
Para Ilan Arbetman, o balanço “tem caráter didático” e é um bom sinal para as geradoras de energia. Empresas como Cemig, CPFL e Copel também devem apresentar bons resultados, espera o analista.
Em cada balanço é preciso analisar dados de perda de energia e inadimplência, que podem dar o tom da reação do mercado aos números. “Pela conjuntura complexa que temos atualmente, esses elementos fazem a diferença nessa temporada e quem mostrar maior capacidade de resiliência vai atrair mais a atenção do investidor”, diz Arbetman.