Quer saber como proteger seu dinheiro em 2024? Preste atenção no exterior
No Macro Vision 2023, economistas, empresários e atuais e ex-autoridades monetárias alertaram para os riscos com EUA, Argentina, China e conflitos internacionais
Guerras, inflação, juros e política fiscal nos Estados Unidos, tensões geopolíticas e Argentina.
Estes são pontos nos quais o brasileiro deve estar mais atento ao tomar decisões de investimento para 2024.
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Essa é uma das mensagens de economistas, atuais e ex-autoridades monetárias, analistas políticos e empresários no Macro Vision 2023, evento do Itaú BBA realizado na última quinta-feira.
Por ora, a principal barreira citada é o juro dos EUA.
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A taxa deve seguir entre 5% a 5,25% ao ano durante a maior parte de 2024, o pico em mais de duas décadas, para combater a inflação alta.
“Os EUA não vai baixar juros, a economia americana é muito forte, resiliente”, afirmou o empresário Abilio Diniz.
“Enquanto estiver nesse patamar de juros, qual o estímulo para se tomar risco?”, acrescentou.
Renda fixa
Por ser considerado um mercado de maior risco, o Brasil deveria manter uma certa gordura em relação à taxa paga nos EUA.
Dito de outra forma, 2024 será outro ano para apostar em renda fixa.
Isso porque um juro alto nos EUA por mais tempo tende a reduzir a capacidade do Banco Central brasileiro de continuar cortando juros.
É um recado que vários gestores já vinham sinalizando nos últimos dias.
No evento, gestores de recursos citaram o descasamento entre as previsões de economistas e do mercado para até quanto a Selic pode cair no ano que vem.
Economistas veem a taxa básica caindo até ao redor de 9,5%.
Mas os juros futuros atualmente indicam a ‘taxa terminal’ ao redor de 10,3%.
Atualmente, a Selic, que referencia o rendimento dos títulos públicos pós-fixados, está em 12,25% ao ano.
O BC indicou que cortará a taxa em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.
Prolongadamente alto
Embora as atenções estejam mais concentradas no próximo ano, participantes do Macro Vision consideraram que a inflação seguirá sendo um assunto por mais tempo.
Mas não é só isso.
A política fiscal frouxa nos EUA, tema que o mercado não tem levado muito a sério nos últimos muitos anos, agora está começando a preocupar, disse ele.
“Os EUA têm seguido uma trajetória fiscal insustentável”, sentenciou Clarida.
“A política fiscal é mais relevante agora para política monetária do que nas últimas décadas”, acrescentou Clarida, indicando que isso é outro combustível para a inflação por um cenário mais longo.
Fome de volatilidade
Para o ex-diretor do Fed, o compromisso de autoridade monetária com uma taxa de juros prolongadamente estável cria um desafio novo para os mercados: a ausência de volatilidade.
Após o Fed ter mantido o juro por duas reuniões seguidas, parte dos investidores começou a apostar que o órgão antecipará as quedas.
Coincidentemente ou não, enquanto o evento se desenrolava, o presidente do Fed, Jerome Powell, dispersou esse otimismo, alertando que uma chance de o juro subir nos EUA ainda não está descartada.
Isso jogou as bolsas para baixo e empinou os juros futuros, lá e aqui.
Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, o objetivo de Powell foi mais de sustar as apostas recentes do mercado de que o juro começará a cair em breve.
“Ele quis jogar a expectativa de corte de juros mais pra adiante”, disse Mesquita a jornalistas.
Conflitos geopolíticos
Enquanto bancos centrais pleiteiam deixar de serem a principal bússola para nortear as apostas diárias do mercado, o ritmo da economia global e conflitos geopolíticos seguem emergindo no balanço de riscos.
Nesse sentido, a China seguirá como um ponto de atenção.
“A economia na China está muito mal, isto é um fato”, disse Keyu Jin, professora da London School of Economics, citando o setor imobiliário e a falta de confiança dos consumidores.
“Mas não vejo um colapso econômico”, acrescentou ela.
Outro candidato a ser fonte de crescentes incertezas econômicas para o Brasil é a vizinha Argentina, segundo Christopher Garman, diretor da consultoria política Eurasia.
“Nenhum cenário de resultado da eleição na Argentina é bom”, disse Garman.
Ele referia-se ao embate entre o candidato governista Sergio Massa e Javier Milei, que quer dolarizar a economia do país.
Não é sua única preocupação.
Garman alertou para a chance de intensificação do conflito no Oriente Médio e na guerra entre Rússia e Ucrânia, além de piora das tensões da China com Taiwan, que terá eleições no ano que vem.
Nunca vivemos um momento político tão tenso quanto o atual nos últimos 25 anos, disse Garman.
Cenário doméstico
No Brasil, o risco mais citado por economistas e empresários foi o de o governo federal desistir da meta de déficit primário zero.
“O equilíbrio fiscal tem que ser restabelecido”, disse Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan (CSAN3).
Guillen, do BC, citou a incerteza fiscal como um dos três pontos que o órgão vê como influenciando as expectativas do mercado para a inflação, além do cenário externo e de mudanças na diretoria da própria autoridade monetária.
A desconfiança com o compromisso da meta de déficit fiscal zero em 2024 cresceu após o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tê-la desacreditado publicamente.
No evento, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender a meta.
“A meta zero (de déficit primário) é programática”, disse ele.