‘Vai aumentar o dólar, cair a bolsa? Paciência’, diz Lula ao defender fim do teto de gastos

Fala do presidente ocorre no momento em que governo de transição tenta aprovar PEC com furo na regra fiscal de até R$ 198 bilhões em 2023

Em seu segundo dia de agenda pública na COP27, a conferência climática da ONU, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o teto de gastos, afirmando que “não adianta só ficar pensando em dado fiscal”, mas é preciso falar em “responsabilidade social”. O modelo atual, segundo o presidente eleito, “tenta desmontar tudo o que é da área social”.

Lula participou de um evento organizado pela sociedade civil, no qual ouviu demandas e pedidos de grupos de jovens, cientistas e representantes dos movimentos negro e indígena, por exemplo. Um dia após à entrega da minuta da PEC de Transição ao Congresso, ele disse que tudo que o teto de gasto em sua forma atual faz é “tirar dinheiro da saúde, da educação, da cultura”.

“Você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e não tira um centavo do sistema financeiro. Se eu falar isso, vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar? Paciência. O dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia.”

O petista comentava a reação do mercado após sua primeira visita ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde funciona a transição de governo, no dia 10. Na ocasião, disse que a questão social deve ser colocada à frente de temas que interessam ao mercado — o que fez o Ibovespa cair 2,58% naquele dia.

“O que é o teto de gastos? Se fosse para discutir que não vamos pagar a quantidade de juros do sistema financeiro que pagamos todo ano, mas mantivéssemos os benefícios, tudo bem. Mas não, tudo o que acontece é tirar dinheiro da educação, da cultura. Tentam desmontar tudo aquilo que é da área social”, afirmou ele, que chegou acompanhado de Fernando Haddad, da futura primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e do ex-chanceler Antônio Patriota, que atualmente comanda a missão diplomática brasileira no Egito.

Mercado

Na quarta-feira à noite, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) entregou ao Congresso Nacional o texto da chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, movimento que deve viabilizar a manutenção dos R$ 600 do Auxílio Brasil e o cumprimento de promessas feitas por Lula (PT) durante a campanha eleitoral, como o aumento do salário mínimo acima da inflação, a partir de janeiro de 2023.

Antes disso, a Bolsa sinalizou que apreensão com relação à exceção dos gastos proposta no texto e pelo fato da despesa ser por tempo indeterminado, o que amplia a aversão ao risco. Ontem, o Ibovespa registrou forte queda e o dólar fechou em alta de 1,53%, cotado a R$ 5,38.

Nos últimos pregões, antes do fechamento de ontem, o dólar apresentou baixas diante da possibilidade de alterações no texto que deixassem a proposta menos danosa, na visão do mercado, para as contas públicas.

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