Embalada por pesquisas, campanha de Lula elege Paulo Guedes como novo alvo

Ministro da Economia vira antagonista ideal para ex-presidente explorar crise dos combustíveis e inflação de alimentos

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa no lançamento da pré-campanha da chapa Lula-Alckmin, em maio, em São Paulo (Foto: Reprodução Twitter/PT Brasil)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa no lançamento da pré-campanha da chapa Lula-Alckmin, em maio, em São Paulo (Foto: Reprodução Twitter/PT Brasil)

Estimulado pelas recentes pesquisas de intenção de voto para as eleições deste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma ofensiva para se contrapor à agenda econômica do presidente Jair Bolsonaro (PL), tendo o ministro Paulo Guedes como alvo. A ideia em gestação no QG petista é transformar o “Posto Ipiranga” do governo em antagonista central da campanha, dando a ele amplo espaço nas peças de comunicação. A avaliação dos estrategistas do PT é a de que Guedes personifica o fracasso da gestão bolsonarista no combate à inflação, tema nevrálgico da disputa pelo Planalto.

O ministro também é apontado em pesquisas qualitativas feitas pela equipe de Lula como o personagem que melhor traduz o distanciamento do atual do governo das demandas populares.

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Segundo esses estudos, escrutinados pelo marketing petista, Guedes não consegue transmitir “sinceridade e confiança” nas suas falas dirigidas à população mais pobre. Nem mesmo quando o assunto é o Auxílio Brasil, programa social que distribui mais que o dobro de recursos disponibilizados pelo Bolsa Família, o chefe da equipe econômica de Bolsonaro tem sucesso na sua comunicação com o eleitorado.

Guedes é o protagonista de materiais de divulgação preparados pelos marqueteiros de Lula na seara dos combustíveis, onde é descrito como “homem bomba” e na escalada de preços dos alimentos, situação em que é apontado como responsável pela “inflação do churrasco”.

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A aposta é nas comparações. O conteúdo produzido pela campanha que alcançou mais sucesso nas redes até aqui foi o que colocou lado a lado carrinhos de compras em supermercados com itens adquiridos com o salário mínimo.

“Em 2016, o salário mínimo não apenas podia comprar os mesmos alimentos que comprava em 2002, como ainda sobravam R$ 335. Em 2022, para o salário mínimo comprar os mesmos alimentos que conseguia comprar em 2018, faltam R$ 559”, diz a peça de publicidade petista.

Na mesma esteira, as falas de Guedes consideradas simbólicas pela campanha de Lula viraram memes. O carro-chefe é a declaração, dada em entrevista ao JOTA, em março do ano passado, segundo a qual o ministro relata que era cumprimentado pelos consumidores nos supermercados.

Também viraram hits da propaganda petista os gráficos do “crescimento em ‘V’” mencionado por Guedes para a retomada das atividades econômicas pós-pandemia e o vídeo em que ele promete que o Brasil “vai surpreender o mundo”, numa referência às previsões pessimistas para o PIB, feitas por organismos internacionais.

“O que está se provando com as novas pesquisas é que Guedes é um dos melhores cabos eleitorais de Lula. O próximo centrão admite isso”, afirma uma fonte da campanha ao JOTA, referindo-se à entrevista concedida pelo ministro Fábio Faria (Comunicações) na qual ele reconhece que a crise econômica travou a recuperação da popularidade do presidente.

O contra-ataque petista ocorre na semana em que Bolsonaro deve protagonizar as primeiras inserções de TV do seu partido, o PL, para a corrida presidencial. Os comerciais da sigla vão explorar o Auxílio Brasil de R$ 400, chamado de “maior programa social do mundo”.

A estratégia visa exatamente atribuir ao presidente a autoria do plano, já que o diagnóstico do partido é o de que a maioria do eleitorado desconhece as diferenças para o antigo Bolsa Família, vitrine de administrações petistas.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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