Debate tem ausência de propostas de Lula e Bolsonaro; Padre Kelmon faz papel de linha auxiliar e tenta irritar petista

Debate da Globo teve postura ofensiva de Bolsonaro, Lula nostálgico e terceira via mais propositiva

O debate da Globo começou com discussões tensas entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Em uma troca de réplicas, os candidatos acusaram um ao outro de mentir.

Além de Lula e Bolsonaro, participaram do debate da Globo os candidatos Ciro Gomes (PDT), Felipe D’Ávila (NOVO), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB).

No início, em pergunta do Padre Kelmon (PTB), Bolsonaro mostrou que veio ao debate na ofensiva, levantando sua pauta de costumes que é característica, falando sobre uma suposta, porém falsa, “ideologia de gênero”, e mencionou o histórico de corrupção que maculou as gestões do PT.

Auxílio Brasil de R$ 600

Em discurso, Bolsonaro prometeu continuar com o Auxílio Brasil, benefício social concedido durante a pandemia, sob o valor de R$ 600. Economistas alertam que manutenção do programa de renda do governo nesse valor pode levar ao aperto das contas públicas. O presidente alega que, hoje, pelo menos 20 milhões de famílias. Em apelo ao público feminino, Bolsonaro citou que “80% são de famílias com mulheres na frente”.

Lula falou do papel das estatais em seu governo, e defendeu a manutenção e fortalecimento de bancos públicos. O candidato citou Banco do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal, e disse que, caso uma estatal não dê lucro à União, “ela deixará de existir”.

Fora algumas ocasiões pontuais, os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais não detalharam muito propostas sobre economia ou outras áreas. Houve uma predileção de apelo ao passado por parte de Lula, enquanto Bolsonaro focou na melhora recente da inflação e no corte de impostos decretados pelo governo federal.

Lula contra Bolsonaro

As acusações de corrupção desencadearam uma série de respostas via direito de réplica, pedido que foi concedido por Willian Bonner a Bolsonaro e a Lula. Em resposta a Bolsonaro, o candidato do PT mencionou a rachadinha e disse que o presidente “impôs um sigilo de 100 anos” sobre a investigação que atinge os filhos do presidente.

Bolsonaro, por sua vez, reagiu às acusações sobre rachadinha, e desafiou o ex-presidente a citar o decreto que impôs o sigilo de 100 anos sobre o processo. A estratégia de ambos é de desgastar o outro com acusações. Lula, em réplica, disse que pretende passar um decreto para derrubar os decretos de sigilo imposto pelo presidente, como no caso do cartão corporativo ou no processo administrativo do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Em seguida, perguntando para Simone Tebet, Bolsonaro trouxe à tona uma teoria da conspiração conhecida na direita. O candidato do PL ligou a morte de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, a Lula, dizendo que o ex-presidente esteve envolvido no assassinato do político. Em direito de resposta, Lula negou e disse que Celso Daniel era um amigo próximo.

Durante a troca de respostas entre Lula e Bolsonaro, Ciro Gomes perguntou se os outros candidatos “deveriam esperar lá fora”. Simone Tebet, que recebeu a pergunta sobre o caso Celso Daniel, diz que o presidente foi “covarde” e que ele deveria fazer a pergunta diretamente ao candidato do PT.

Padre Kelmon é acusado de ser “cabo eleitoral”

Soraya Thronicke insiste em chamar o Padre Kelmon para o púlpito. A candidata fez uma pergunta para o candidato do PTB se, ao defender “um governo que levou a morte de pessoas durante a pandemia”, ele não teria “medo de ir para o inferno?”.

O questionamento fez o padre partir para o ataque, falando que Soraya Thronicke não o respeitava. Na resposta seguinte da candidata, Kelmon a interrompeu diversas vezes até a intervenção de Willian Bonner.

Mais tarde no debate, Padre Kelmon e Lula bateram cabeças em discussão que se estendeu por interrupções de ambos, mas mais do candidato do PTB. Ele parece tentar irritar Lula para desequilibrar o candidato. O petista chegou a mandar o Padre ficar de “bico fechado” enquanto ele respondia.

Lula e Padre Kelmon (Imagem: Marcos Serra Lima/g1)

Padre Kelmon fez, novamente, papel de linha auxiliar de Bolsonaro. O presidente fez dobradinha com o padre mais de uma vez, onde ambos debateram pautas de costumes. Ele foi acusado por Soraya Thronicke de ser “cabo eleitoral” de Bolsonaro e se defendeu da acusação.

Propostas: Saúde, Economia e Educação e Meio Ambiente

Felipe d’Avila e Simone Tebet desenvolveram um pouco de suas propostas no campo da saúde. A candidata defendeu providenciar equipamento mais moderno para hospitais e Santas Casas pelo Brasil. Já o presidenciável do Novo mencionou que, se eleito, planeja rever a tabela do SUS e melhorar a coordenação do Sistema Único de Saúde com hospitais privados.

Ciro Gomes e Soraya Thronicke debateram sobre propostas da seara fiscal. Ambos defenderam um plano de governo que prevê uma reforma fiscal e tributária. Ciro defendeu a renegociação de dívidas das famílias brasileiras para aumentar o poder de consumo médio, enquanto Soraya defendeu a extinção de impostos para criação de um tributo único que recairia sobre as transações fiscais.

Ciro Gomes (Imagem: Marcos Serra Lima/g1)

Para Soraya Thronicke, Tebet propôs uma reforma do Ensino Médio técnico caso seja eleita. A emedebista prometeu criar um prêmio — uma espécie de benefício — de R$ 5 mil para todos os estudantes que completarem o Ensino Médio, estipulando um gasto anual de R$ 10 bilhões. Além disso, Tebet disse que vai implementar internet em mais escolas Brasil afora.

Lula e Tebet chegaram a discutir suas propostas para o meio ambiente. O ex-presidente defendeu a extinção total do garimpo ilegal de áreas de preservação florestal da Amazônia e do Pantanal, enquanto a emedebista disse em zerar o desmatamento ilegal. Tebet disse que “agropecuária e meio ambiente” podem avançar juntos. A candidata também defendeu um “revogaço” de decretos de Bolsonaro que prejudicaram órgãos de fiscalização ambiental, como o IBAMA.

Simone Tebet (Imagem: Marcos Serra Lima/g1)

Mais tarde, no quarto bloco do debate, Lula e Ciro voltaram ao tema do meio ambiente. Lula defendeu a criação de um “Ministério dos Povos Originários” para promover o diálogo com indígenas e ajudar na preservação de áreas de reserva ambiental. Já Ciro Gomes defendeu redesenhar as zonas de terras demarcadas sob o aspecto “econômico e ecológico”.

Orçamento secreto

Ciro questionou Bolsonaro sobre o orçamento secreto, dizendo que ele teve “uma oportunidade de ouro” para barrar a corrupção no governo, mas deu aval à prática que permite gastos não fiscalizados de parlamentares.

Jair Bolsonaro e Ciro Gomes (Imagem: Marcos Serra Lima/g1)

Bolsonaro retrucou falando que “quem criou o orçamento secreto foi o Congresso” e que o Senado e a Câmara teriam “a última palavra sobre a aprovação do orçamento”. Não é verdade, porque o presidente é quem encaminha o Projeto de Lei do Orçamento Anual (PLOA), e ele tem poder de vetar e sancionar trechos individuais. O Congresso pode derrubar ou manter os vetos.

Bolsonaro chama Soraya de “laranja”

Soraya questionou Bolsonaro no último bloco sobre se ele pretende respeitar o processo eleitoral, ao qual já fez diversas críticas e tentou deslegitimar se for derrotado. Em seguida, perguntou se o presidente se vacinou, e pediu para que ele especificasse qual seria o imunizante que tomou.

Soraya Thronicke (Imagem: Marcos Serra Lima/g1)

Bolsonaro não respondeu às perguntas e ressaltou a compra de vacinas pelo governo federal. Na resposta, ainda chamou Soraya Thronicke de candidata “laranja”, falando que “ninguém falava o nome dela para presidente” em Mato Grosso do Sul, seu reduto eleitoral e estado que a elegeu senadora.

A candidata do União Brasil pediu direito de réplica e acusou Bolsonaro de ter “traído” apoiadores que o defenderam nas eleições de 2018, como o atual candidato ao governo do Mato Grosso do Sul, Capitão Contar (PRTB). Bolsonaro, depois, usou seu tempo de resposta concedido por Willian Bonner para demonstrar apoio a Contar na disputa do governo sul-matogrossense.

Estatais

Lula disse à Simone Tebet que, em seu terceiro mandato, estatais que “não servem para nada, ela vai deixar de existir”. O petista falou de fortalecer bancos públicos, como o BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, porque “são coisas que funcionam”.

Luiz Inácio Lula da Silva (Imagem: Marcos Serra Lima/g1)

Soraya disse que não é a favor de privatizar a Petrobras, mas defendeu a privatização de estatais que não dão lucro, quando foi perguntada por Ciro Gomes sobre o assunto. Ciro, por sua vez, mencionou que o governo Bolsonaro criou uma estatal para administrar a malha da Infraero, a NAV Brasil. Criada em dezembro de 2020, a companhia seria, na visão de Ciro, fruto de um processo precário de privatização.

Audiência do debate da Globo

No último debate das eleições antes do primeiro turno, a rede Globo tem motivo para comemorar. Isso porque, na noite desta quinta-feira, a transmissão manteve-se acima dos 30 pontos de audiência ao longo dos primeiros 45 minutos. Esse patamar representou o dobro do saldo obtido na mesma faixa horária da quinta anterior.

Os números são do Kantar Ibope Media na Grande São Paulo, região que concentra o maior colégios eleitorais do país e também o maior número de domicílios com TV. Um ponto no índice equivale a 205.755 espectadores.

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