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Em 100 dias de agenda, Lula viajou o equivalente a uma volta ao redor da Terra
Em meio a diversas polêmicas colecionadas ao longo de seus 100 primeiros dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve sua agenda com compromissos em diversas regiões brasileiras e com intenso trânsito internacional.
De 1º de janeiro até 9 de abril de 2023, segundo dados apurados pela Inteligência Financeira, Lula viajou por cerca de 52 mil quilômetros, o equivalente a rodar pouco mais de uma vez a circunferência da Terra, que é de aprox. 40 mil km.
Em Brasília, Lula concentra seus compromissos da agenda se encontrando com ministros e aliados fora do 1º escalão que vem de quadros do PT. Sobrou pouco tempo — pelo menos, oficialmente — para atender pastas que estão na mão de quem fez parte da chamada frente ampla nas eleições de 2022.
Como as contas foram feitas?
Os dados estão disponíveis na agenda de Lula, divulgada toda manhã pela equipe do Palácio do Planalto, entre 1º de janeiro, data da posse, até 10 de abril, no site oficial do governo.
A partir de lá, o editor Thiago Araújo utilizou Python (veja o script), linguagem de programação, para fazer a captura dos dados. A categorização de cada compromisso com a data, horário, o detalhamento do evento e seu local (veja como ficou a planilha final) foi possível por conta do script e pelo trabalho de apuração da reportagem. Uma parte das classificações dos compromissos, dados como cidade, país e o território, contou com a ajuda do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial.
O que não foi considerado
As viagens de Lula dentro de Brasília, como compromissos oficiais nos prédios da Esplanada ou no Planalto Central, não foram considerados ao medir a distância total viajada pelo presidente.
Tampouco as idas à Base Aérea de Brasília, principal ponto de decolagem do Airbus A319, aeronave oficial de Lula para viajar.
Distâncias percorridas pelo presidente dentro de uma mesma cidade também foram desconsideradas no saldo total de quilômetros percorridos.
A despeito dos encontros oficiais do presidente, foram medidos todos os compromissos oficiais, divididos entre aliados do 1º escalão, 2º escalão e aliados.
Lula privilegia petistas no Planalto em 100 dias de governo
O levantamento da IF mostra que aliados de Lula da base petista ocuparam a maioria da agenda ao longo dos 100 dias de governo.
Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, foi o ministro que mais se encontrou com Lula oficialmente, em 57 ocasiões nos 100 dias — 3 reuniões particulares e 54 acompanhadas de uma ou mais autoridades.
Em seguida, outros ministros do PT configuram o ranking de visitas a Lula: Paulo Pimenta, ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), com 47 visitas; Rui Costa, chefe da Casa Civil, com 34 compromissos; Fernando Haddad, que se encontrou com Lula 34 vezes; e Márcio Macêdo, que esteve com Lula em 19 ocasiões.
Na Economia, é conhecido em Brasília o racha interno entre a equipe mais técnica do Ministério da Fazenda e a ala mais ideológica do governo, encabeçada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. E o fogo cruzado se reflete na agenda do presidente.
Gleisi teve mais encontros com Lula do que a maioria dos ministros
De acordo com a agenda oficial de Lula, Gleisi se encontrou com o presidente dez vezes nos 100 dias de governo. Metade dos encontros foi particular, em que Lula apenas se encontrou com a presidente do PT em um ambiente privado.
No 1º escalão, apenas três ministros superam a petista em encontros particulares com Lula. Todos são de áreas estratégicas e sensíveis na condução da política: José Múcio, ministro da Defesa; Jorge Messias, Advogado-Geral da União, e Fernando Haddad. Cada um acumula seis visitas privadas ao presidente.
Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, também tem dez encontros com o presidente. Prates tem mais encontros privados do que reuniões coletivas com Lula — é o único aliado fora do 1º escalão a ter visto o mandatário mais vezes a portas fechadas. Dos dez encontros, seis foram particulares.
Prates foi senador pelo PT, enquanto Rui Costa foi governador da Bahia pelo partido. Paulo Pimenta, Gleisi, e Márcio Macêdo são deputados federais, eleitos em 2022.
Haddad é ex-prefeito da cidade de São Paulo, e concorreu ao governo paulista no ano passado, sendo derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Frente ampla em segundo plano no governo Lula
Se o Planalto dos 100 dias de Lula foi mais frequentado por aliados da base, restou à frente ampla um lugar na janelinha ao invés de uma mão mais firme na condução do governo.
O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin foi o aliado da frente ampla que mais se encontrou com Lula, com nove encontros. Se iguala ao vice o ministro da Justiça Flávio Dino, também do PSB, que viu o mandatário em nove ocasiões.
Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, que deu, em primeiro momento, apoio crítico a Lula nas eleições, teve seis encontros com o presidente — nenhum deles foi particular.
Marina, outra apoiadora crítica, teve apenas um encontro oficial com Lula desde o início do governo.
No caso de ministros que vieram de fora do mundo político, a agenda com Lula também foi restrita. É o caso do ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, e da ministra da Igualdade Racial Anielle Franco.
Almeida teve quatro reuniões com Lula, enquanto a irmã da vereadora carioca Marielle Franco teve dois encontros.
Mais sindicalistas, menos empresários
Dentro dos 100 dias de governo, Lula acumula mais encontros com representantes de sindicatos do que com empresários, mostra o levantamento da IF.
Desde a posse, o presidente encontrou a portas fechadas três executivos de centrais sindicais: CUT, Força Sindical, e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, seu berço político.
Em outras duas ocasiões, Lula teve audiências coletivas com sindicalistas.
Por outro lado, o presidente se encontrou com quatro empresários oficialmente desde o início do mandato:
- Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza;
- Josué Gomes, presidente da Fiesp;
- Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan;
- Abílio Diniz, presidente do conselho de administração da Península Participações.
Trajano e Josué Gomes se mostraram aliados do presidente nos primeiros 100 dias de sua gestão, replicando críticas de Lula à taxa de juros básicos, a Selic — o presidente da Fiesp chegou a chamá-las de “pornográficas”. Ometto financiou parte da campanha de políticos bolsonaristas em 2022.
Internacional: Lula priorizou latinos em 100 dias de governo
Só para você ter uma ideia, nesses 100 dias Lula percorreu o equivalente a um distância que vai dos Estados Unidos à Itaipu.
Ou de Rondonópolis (MT) à Aracaju (SE).
O presidente determinou uma agenda de compromissos dentro e fora do país intensa, com foco em reuniões com presidentes de vizinhos latino-americanos e a Joe Biden, mandatário dos EUA.
Dados da IF mostram que Lula encontrou 62 autoridades internacionais desde o início do mandato entre embaixadores, reis, primeiros-ministros, vice-presidentes e presidentes.
Líderes e representantes latino-americanos, de países da América do Sul e Central, tiveram preferência do presidente brasileiro. Cerca de 35% dos encontros com autoridades internacionais foram realizados com líderes de países como Cuba, Argentina, Peru, El Salvador e Chile.
Ao mesmo tempo, Lula também priorizou líderes europeus em sua agenda. Cruciais para destravar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, os líderes do velho continente se preencheram 24% da agenda do presidente via telefonemas, encontros e uma videoconferência — com o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelenski.
O destaque dos 100 dias de governo na agenda internacional foi o encontro com o presidente Americano Joe Biden. Mas Lula preferiu passar mais tempo em Buenos Aires, quando se encontrou com o presidente Alberto Fernández.
Ao viajar, Lula rodou o mundo em 100 dias de governo
Foco em viagens nacionais e presença em catástrofes, como as enchentes no Maranhão, o desastre no litoral norte de São Paulo e a crise humanitária do povo originário Yanomami.
Em 100 dias de governo, a maioria das 33 viagens feitas pelo presidente para fora de Brasília foram focadas na inauguração de programas e ajuda humanitária.
Dos 442 compromissos na agenda do presidente até 10 de abril, apenas 34 foram realizados fora do Brasil.
Mas um cronograma agitado na política nacional fez Lula percorrer pouco mais de 52.541,51 km em viagens oficiais dentro dos 100 dias de governo. Isso equivale a um giro ao redor da circunferência terrestre, que tem 40.075 km.
O maior trajeto percorrido pelo presidente foi seu voo à Washington D.C, capital dos EUA, na visita a Joe Biden. O segundo maior foi percorrido quatro vezes pelo presidente: o voo de Brasília a Boa Vista (RR).
A terceira maior viagem em carga horária e quilometragem realizada por Lula foi no embarque para a Argentina, no encontro bilateral com Alberto Fernández.
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