Ministério da Economia tende a manter projeção de alta do PIB em 1,5%, mas quadro é desafiador
Governo se anima com geração de emprego e crescimento do setor de serviços, mas previsão é de alta na inflação
A área econômica do governo vê nos indicadores mais recentes sobre o nível de atividade sinais que reforçam seu cenário de crescimento de 1,5% para o PIB neste ano. A estimativa está sendo atualizada para o relatório bimestral de receitas e despesas e a tendência, até o momento, é de manutenção dessa projeção, prevista para ser divulgada na próxima semana.
Dados como geração de emprego e o crescimento do setor de serviços, o mais recente IBC-Br (indicador do BC que tenta mostrar o ritmo da atividade), de fevereiro, entre outros estão entre os indicadores que reforçam o cenário do governo.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
É perceptível a animação na Economia com a sequência de revisões para cima do PIB previstas na pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central junto ao mercado, que sobe há cinco semanas e agora chegou a 0,7% de expansão para o PIB. Ainda é menos da metade do que o governo estima, mas vale lembrar que essa é a chamada mediana e tem sido comum algum interlocutor do governo compartilhar informações de economistas de casas de renome, como Itaú e Bradesco, que já trabalham com números mais altos do que o ponto médio das estimativas do mercado.
Por outro lado, o viés para a projeção de inflação do governo, assim como para o mercado, é de alta. Atualmente, o cenário para o IPCA do ano é de 6,55% e ele deve ficar mais próximo de 8% — no mercado, com a décima sexta alta seguida, já está em 7,9%.
Últimas em PIB
Esse quadro inflacionário, péssimo para a população que vê seu poder de compra definhando, tem como lado positivo a ajuda nos indicadores fiscais do governo. A dívida bruta brasileira, por exemplo, está se consolidando abaixo dos 80% do PIB (ficou em 79,2% do PIB em fevereiro).
Somente olhando para os cenários de governo e mercado em torno do PIB e da inflação pode-se perceber a complexa e pouco animadora situação da economia brasileira. Mesmo com a área econômica aparentemente ganhando a queda de braço com o mercado sobre as projeções de PIB, a realidade é que 1,5% de expansão (ou mesmo 2% como mencionou o economista-chefe do Bradesco Asset, Fernando Honorato, nessa quarta-feira) é muito pouco para o que o país precisa. Ainda mais em um ambiente no qual o trabalhador está perdendo à galope o seu poder de compra.
Além disso, é preciso considerar que há enorme incerteza para a frente. Internas e, sobretudo, externas. A volatilidade cambial nas últimas semanas evidenciou isso.
Depois de vários dias de alta tensão, o Federal Reserve, o BC norte-americano, deu certo alívio ao mercado, mesmo partindo para uma postura mais agressiva na taxa de juros. A chave para isso foi a fala do seu presidente, Jerome Powell, na quarta-feira, descartando no curto prazo acelerar o passo de 0,5 ponto para 0,75 ponto porcentual.
Ato contínuo, o dólar devolveu ganhos ante o real e voltou para perto de R$ 4,90, depois de ter superado os R$ 5. Há um mês, a divisa encostava em R$ 4,60 e injetava mais ânimo para uma economia ainda muito machucada pela pandemia.
Claramente, o principal risco para o país hoje é o Fed mudar de opinião, diante da inflação persistentemente alta, e partir para uma postura ainda mais agressiva. Só a especulação em torno disso, com poucos sinais efetivos das autoridades nas últimas semanas, já fez um estrago, imaginem se a autoridade monetária americana realmente engrossar mais a voz.
Tudo que o Brasil não precisa agora é de um choque de juros nos EUA. Mas esse risco existe e precisa ser monitorado. Por isso, o governo precisa olhar também melhor sua articulação política no Congresso, a relação com os demais Poderes e seus próprios ímpetos populistas para evitar o avanço de medidas que passem uma mensagem muito negativa sobre o cenário fiscal brasileiro, o que só agravaria os impactos de uma piora nos já desfavoráveis ventos americanos — sem falar nos problemas que vêm da China com a nova onda de Covid-19 e da invasão russa à Ucrânia.
Em nada contribui a maneira atabalhoada com a qual está se discutindo piso de enfermagem. Tampouco, como o presidente Jair Bolsonaro trata do tema de gastos com servidores e medidas para as polícias. E, ainda menos, a volta de uma crise institucional com o Judiciário, que só faz o país parecer uma república bananeira, o que só ajuda a espantar investidores — sem entrar no óbvio e gravíssimo problema de desgaste da democracia do país.
O ritmo da economia pode estar um pouco melhor do que os pessimistas estavam dizendo. Mas ela ainda está frágil e todo o cuidado é pouco.