Ações de commodities: o que está acontecendo com a China e como isso afeta a bolsa?

Economia chinesa desacelera e impacta ações de commodities; entenda a relação

As ações de commodities da bolsa brasileira já estão sofrendo impactos importantes do que está acontecendo com a China: redução no crescimento econômico. O país asiático vem registrando crescimento abaixo de 7% desde 2016, com exceção de 2021, quando a base de comparação era baixa: 2020, ano do início da pandemia. Os dados são da Statista.

Esses números significam uma forte desaceleração da economia chinesa, que por muitas vezes registrou crescimento superior a 10%. Isso acontece porque a grande transformação da China de economia pré-industrial à maior produtora de bens industrializados do mundo já está consolidada.

Com isso, a demanda do país por commodities, produtos amplamente exportados pelo Brasil, mudou em definitivo, aparentemente. “Os próximos ciclos de commodities tendem a ter flutuações normais de qualquer ciclo econômico”, pondera Luís Moran, head da EQI Research.

O que está acontecendo com a China?

O especialista diz que é pouco provável que a China volte a registrar 10% de crescimento do PIB como visto em outras décadas. Isso porque o país está envelhecendo rapidamente, tem relações comerciais mais complexas com o Ocidente e alto endividamento em setores cruciais, como o imobiliário.

Além disso, a economia chinesa tem enfrentado aumento de preços, destaca Milena Araújo, estrategista de investimentos da Nexgen Capital. “Eles estão fazendo movimento de corte de estímulos para conter a alta da inflação, principalmente na parte de construção civil”, destaca.

Como a China afeta a bolsa?

Com esse freio na economia chinesa, o preço do minério de ferro – principal matéria-prima do setor de construção – no primeiro semestre teve queda de mais de 10%. Isso se espalhou pelas principais companhias brasileiras que atuam com essa commodity.

Essa nova fase, com a China demandando menos commodities e registrando crescimento mais comedido, pode mudar inclusive a composição do Ibovespa, diz Moran. “As commodities devem perder importância relativa no índice, assim como no fluxo de capital estrangeiro, que se acostumou a ver o Brasil como um player de commodities”, complementa.

Assim, o investidor deve considerar que a demanda chinesa não poderá oferecer o mesmo suporte de preços como visto principalmente entre os anos 2000, durante o boom das commodities.

Quais são as commodities de interesse da China?

A China é grande demandante de commodities, no geral, mas algumas são especialmente importantes para a segunda maior economia do planeta.

Com relação às commodities que o Brasil produz, uma das que mais interessa ao país asiático é o minério de ferro para produção de aço. “A China é de longe o maior produtor de aço do mundo”, destaca Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Finance da Trevisan Escola de Negócios.

Mas há outras commodities produzidas aqui que são caras aos chineses, como alumínio, o próprio aço, papel e celulose e proteína animal.

Quais empresas brasileiras da bolsa são impactadas pela China?

As empresas mais afetadas pelo crescimento mais modesto da China no que diz respeito a mineração e siderurgia são Vale (VALE3), Usiminas (USIM5), Gerdau (GGBR4) e Gerdau Metalurgia (GOAU4), CSN (CSNA), CSN Mineração (CMIN) e Paranapanema (PMAM3).

Já com relação ao alumínio, destaque para CBA (CBAV3). Para papel e celulose, o destaque é Suzano (SUZB3). No segmento de proteína animal, BRF (BRFS3), JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3) são as mais importantes.

“Com a desaceleração da economia chinesa, que pode impactar no poder de compra da população local, essas empesas com certeza vão ter impacto direto nas suas performances aqui no Brasil”, diz Marinello.

Como as mineradoras são afetadas pela China?

“A Vale (VALE3) tem uma sensibilidade muito maior porque é uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo e tem exposição muito significativa em relação à China”, diz o coordenador da Trevisan.

Por outro lado, outras mineradoras e siderúrgicas que trabalham com produtos de maior valor agregado tendem a sofrer menos impacto por conta do crescimento menor da China.

ações de commodities
Ações de commodities, como o aço, sofrem especial impacto da força da economia chinesa – Foto: José Paulo Lacerda / CNI

“Usiminas e Grupo CSN, por exemplo, atuam na mineração, mas também têm outros negócios. E, com isso, se tornam um pouco mais resilientes a uma queda no mercado chinês. Isso porque conseguem distribuir minério de ferro, derivados e produtos de maior valor agregado em outros mercados, inclusive doméstico”, destaca Marinello.

Outro exemplo é a Paranapanema, “que atua com muita força no mercado de cobre refinado e tem oportunidade mais ampla para vender seus produtos, para além do mercado chinês. Dentro do segmento de cobre, a companhia representa mais de 90% da produção do Brasil”, complementa.

Impacto da economia chinesa sobre a siderurgia brasileira

Entre as mineradoras e siderúrgicas, algumas delas são mais ativas na produção de aço, material oriundo do minério de ferro. São os casos, por exemplo, de CSN e Gerdau. Nesses casos, a desaceleração da demanda chinesa pode ter um efeito diferente.

“A China depende muito da oferta de aço, mas é também a maior produtora. Então, com a desaceleração da demanda chinesa por aço, pode haver um excedente de produção e a indústria brasileira pode ter que reduzir os seus preços para baixar os estoques”, explica. Isso afeta negativamente as ações do setor na bolsa.

Quais empresas podem se beneficiar?

Assim, empresas brasileiras que lidam com commodities podem ter vida mais difícil com a queda do crescimento chinês.

Porém, as que trabalham com bens substitutos aos fabricados na China podem se beneficiar. Companhias de máquinas e equipamentos industriais até fabricantes de produtos de baixo valor agregado podem se destacar.

“Talvez a WEG (WEGE3), de maquinaria industrial, e a Dexco (DXCO3), de materiais de construção, possam ser beneficiadas por esse movimento. Assim como a Alpargatas (ALPA4), que, com uma possível redução de produtos oriundos da China, pode acabar ampliando sua participação aqui”, avalia Marinello, da Trevisan.