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Como a Nvidia atropelou gigantes para se tornar uma das empresas mais valiosas do mundo
Intel, AMD e Qualcomm. Estas eram as grandes responsáveis pelo aumento da capacidade de processamento quando os mercados de computadores e celulares explodiram nos anos 1990 e 2000, respectivamente.
Enquanto isso, a Nvidia, fundada em 1993, não fazia sombra a essas gigantes.
Contudo, décadas depois, a então pequena empresa de placas de vídeo viria a revolucionar o mercado, atropelando as antigas referências.
Assim, no último ano, os BDRs da Intel (ITLC34) subiram 71%, os da AMD (A1MD34) valorizaram 145% e da Qualcomm (QCOM34) avançaram 31%.
Mas os certificados da Nvidia (NVDC34) dispararam 256% na B3.
Na última segunda-feira (4), a Nvidia ultrapassou a Aramco, empresa saudita de petróleo, para se tornar a terceira maior companhia do mundo em valor de mercado, ficando atrás apenas da Apple e da Microsoft.
Os dados foram compilados pela Bloomberg.
Com isso, a Nvidia passou a valer US$ 2,1 trilhões. Na sexta-feira (8) já valia US$ 2,3 trilhões. Entre as outras empresas de tecnologia citadas, a AMD é a que tem maior valor de mercado: US$ 341,54 bilhões, segundo o MarketCap, na mesma sexta-feira.
Parceria alavanca TSMC e Nvidia
Na corrida das gigantes de chips e semicondutores, outra empresa vem ganhando destaque à frente de Intel, AMD e Qualcomm: a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company Ltd.), que já está na nona posição na lista de maiores empresas do mundo, com valor superior a US$ 770 bilhões.
A ascensão da TSMC está diretamente relacionada ao avanço da Nvidia. Os chips da empresa asiática permitem a produção das placas superpoderosas da nova gigante norte-americana.
Nesse sentido, entenda o que faz exatamente a Nvidia e como suas ações se tornaram as “mais importantes do planeta Terra”, segundo o Goldman Sachs.
Empresas de tecnologia por valor de mercado
Posição | Empresa | Valor de mercado |
1ª | Microsoft | $3.040 trilhões |
2ª | Apple | $2.609 trilhões |
3ª | Nvidia | US$ 2.316 trilhões |
4ª | Saudi Aramco | $2.049 trilhões |
5ª | Amazon | $1.836 trilhões |
6ª | Alphabet (Google) | 1.675 trilhões |
9ª | TSMC | 773,90 bilhões |
27ª | AMD | 31,54 bilhões |
62ª | Qualcomm | 196,10 bilhões |
63ª | Intel | 195,12 bilhões |
O que faz a Nvidia?
A Nvidia não vende a solução completa, ela vende componentes, como a placa de GPU para ser acoplada a servidores. É aí que entra a parceria da Nvidia com a TSMC, que hoje é maior do mundo na fabricação dos chips que compõem essas placas superpoderosas.
O crescimento global de data centers é um dos principais vetores de crescimento da Nvidia. Esses data centers são grandes depósitos, com dezenas ou milhares de computadores, onde são processadas as informações que circulam na rede e na nuvem pelo mundo todo.
E esse segmento ainda tem espaço para crescer, de acordo com Luís Guedes, professor da FIA Business School. “Parece que há ainda um upside grande (no segmento de data centers)”.
Dentro desses data centers, onde está exatamente a Nvidia?
Dentro de cada uma dessas dezenas de milhares de computadores tem uma placa de circuito, especializada em aceleração gráfica.
A maioria delas é produzida pela Nvidia.
“As placas permitem que você tenha uma capacidade de processamento muito grande, com os diferentes usuários utilizando o equipamento por um período. Sem uma placa aceleradora, não seria possível alguns usos comuns hoje”, acrescenta Guedes, que também é engenheiro de computação.
Esses usos estão relacionados a serviços corporativos, que vão desde o desenvolvimento de plantas para a construção civil até a exploração de petróleo, entre vários outros.
Já o grande público se beneficia diretamente das placas da Nvidia por ela ajudar a viabilizar serviços como jogos na nuvem, streaming de vídeo, compras online, entre muitas outras funcionalidades.
Valor das ações das empresas de chips e placas
Empresa | Ticker da ação | Valor das ações |
Nvidia | NVDA | US$ 852,33 |
TSMC | TSM | US$ 138,26 |
AMD | AMD | US$ 205,36 |
Qualcomm | QCOM | US$ 166,56 |
Intel | INTC | US$ 45,61 |
O diferencial da Nvidia
Para explicar o motivo da diferença da Nvidia para os outros produtores de componentes para computadores é preciso entender a diferença do que cada um produz.
O negócio da Nvidia está estruturado sobre GPUs, que são Unidades de Processamento Gráfico.
Em resumo, as GPUs permitem a realização de contas em uma escala inimaginável. “O processamento é simples em termos cognitivos, em termos intelectuais, mas impossível em termos manuais”, explica Guedes, professor da FIA.
“O processamento gráfico demanda grande capacidade computacional, mas o chip de computador tradicional, que processa uma instrução de cada vez, não é capaz de suportar essa demanda”, complementa Guedes.
Assim, é a capacidade de reunir componentes capazes de fazer contas nessa escala que destacou a Nvidia das outras gigantes, com sua placa dedicada e capacidade de acelerar gráficos.
É a partir daí que surgem os videogames e depois as plataformas de jogos nos computadores, segmento no qual a Nvidia se notabilizou antes de tomar conta dos data centers.
Com o avanço da inteligência artificial nos últimos cinco anos, a demanda por esse tipo de processamento gráfico se tornou ainda maior.
“A Nvidia já tinha soluções que passaram a ser usadas em inteligência artificial, que são muito mais velozes, processam dados muito mais rápidos e são mais eficientes até em termos de energia”, detalha William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da corretora digital Avenue e colunista da Inteligência Financeira.
Como a Nvidia saltou à frente dos concorrentes?
O crescimento exponencial da demanda por capacidade de processamento por conta das novas soluções em inteligência artificial acaba sendo o grande trampolim para que a Nvidia superasse os players mais tradicionais do mercado. “A Nvidia conseguiu desenvolver uma Ferrari quando o mercado mais precisou de carros de corrida velozes”, compara Castro Alves.
Rapidamente, o mercado percebeu que as placas aceleradoras de gráfico da Nvidia, utilizadas inicialmente para jogos, depois, para abastecer datacenters pelo mundo todo, também são adequadas para fazer a quantidade imensurável de contas que a inteligência artificial precisa para se desenvolver.
“Assim, os negócios da Nvidia se multiplicaram no segmento de games, onde começou. Mas depois, tudo o que precisava para processar imagem, a empresa já estava muito bem-posicionada para atender”, detalha Guedes.
Os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira confirmam que há iniciativas das empresas tradicionais de chips no desenvolvimento de soluções para processamento gráfico, além de outras iniciativas pelo mundo de empresas menores.
Mas a largada na frente da Nvidia é um diferencial competitivo difícil de ser alcançado no curto prazo. “Já faz cerca de dez anos que inteligência artificial aparece como uma linha de receita da Nvidia”, explica Castro Alves, da Avenue.
Outra vantagem competitiva
Além disso, a Nvidia tem outra vantagem competitiva. O código de programação utilizado em HPC (Higher-performance Computing) é o Cuda, desenvolvido pela própria empresa.
“Para esse mercado, é mais fácil para quem está desenvolvendo colocar suas aplicações na Nvidia”. A afirmação é de Silvio de Campos, CEO da Positivo Serves Solutions, empresa parceira da Nvidia em datacenters e outras soluções.
Assim, o domínio da Nvidia em HPC não está relacionado apenas a linguagem, mas também ao custo dos componentes. “Hoje, em uma solução de Higher-performance Computing, de 60% a 70% do custo é do componente da Nvidia”, complementa o executivo.
O crescimento do mercado de IA é maior que o de HPC, assegura Silvio. Contudo, o produto utilizado nas duas áreas é o mesmo, o que garante a hegemonia da Nvidia em ambas as atividades.
Resultados da Nvidia no último trimestre
Principais áreas de atuação | Receita do último trimestre | Crescimento ano contra ano (4T23) | Crescimento trimestre contra trimestre (4T23) |
Data Center | US$ 18,404 bilhões | +409% | +27% |
Gaming | US$ 2,865 bilhões | +56% | estável |
Visualização profissional | US$ 463 milhões | +105% | +11% |
Automotivo | US$ 281 milhões | -4% | +8% |
Total | R$ 22,103 bilhões | +265% | +22% |
Parceria com as gigantes
A Nvidia passou a ser estrategicamente muito importante para o Google, Microsoft, Amazon, Apple, Netflix, Meta, entre outras. “Todas essas rodam suas aplicações sobre computadores que são implementados com placas da Nvidia”, diz Guedes.
“Apesar de entrar num mercado em que já havia muitas outras placas e aceleradoras de vídeos, a qualidade do produto da Nvidia se destacou. Com isso, ela abocanhou uma parte importante do mercado”, complementa.
Durante a pandemia, houve uma aceleração da venda de computadores de mesa, jogos online e teleconferências.
Dessa forma, esses são alguns dos produtos e serviços mais importantes para a Microsoft hoje.
Sobre Amazon e Apple, há uma disparada nas vendas pela internet, especialmente pelo celular, diante do fechamento dos pontos de venda físicos. Além disso, houve migração de vários serviços para dentro dos smartphones.
Já a Netflix e a Meta se beneficiaram do crescimento exponencial do uso de streamings, especialmente de vídeo.
“Então, esse foi o conjunto de fatores que impulsionou o consumo de processamento em data centers, que é onde a Nvidia nada de braçada”, explica Guedes.
Tudo isso coincidiu com o crescimento exponencial das iniciativas em inteligência artificial, que aumentou ainda mais a demanda pelas soluções da Nvidia.
Gigantes de tecnologia estão dependentes da Nvidia?
As grandes empresas do mundo são de tecnologia e contam com a Nvidia para seus resultados recordes, tanto nos seus balanços quanto no desempenho na bolsa de valores, com a Nasdaq e a S&P 500 em patamares recordes por conta das Magnificent 7.
Os especialistam avaliam que a relação não é de dependência, mas de “forte conexão entre elas”, diz Castro Alves. Ainda assim, destaca que as gigantes estão atentas a uma concentração de mercado, o que pode impulsionar ainda mais os preços.
Nova concorrente à vista
A Groq, uma startup de hardware de IA, chamou a atenção do mercado dias atrás após demonstrações “impressionantes”. Assim definiu o Itaú BBA ao comentar sobre o modelo de código aberto da empresa voltado para soluções em inteligência artificial.
O modelo da Groq alcançou rendimento até quatro vezes superior ao de outros serviços quando o assunto é inferência. Enquanto isso, a startup cobra menos de um terço dos concorrentes.
Segundo a IBM, “inferência é o termo que descreve o ato de utilizar uma rede neural para fornecer insights após ela ter sido treinada”. Ou seja, é a capacidade de a máquina colocar em prática o que ‘aprendeu’.
“Modelos de IA precisam ser executados de maneira extremamente rápida para atender usuários e fornecer respostas. Foi a excelente velocidade da Groq que chamou a atenção dos investidores”, destacou o Itaú BBA em relatório apresentado no último dia 26.
Por outro lado, a Groq não seria capaz de implementar sua solução em modelos muito grandes. Isso parece ser sua principal fraqueza em relação a soluções como da Nvidia.
Assim, o surgimento de novos hardwares mostra que o mercado de IA “provavelmente se tornará mais competitivo”, avalia o Itaú BBA.
No entanto, a Nvidia ainda tem vantagens e é a aposta mais segura para o longo prazo, segundo o banco.
Futuro das ações da Nvidia
Mesmo depois da alta de mais de 200% em um ano, o Itaú BBA dobrou a aposta nos papéis da Nvidia.
Em outro relatório, o banco disse ter enxergado evidências importantes de que a empresa não estará sob pressão tão cedo.
Além disso, vê grande capacidade de a empresa absorver a demanda crescente, mesmo diante do aumento de concorrência em várias linhas importantes dos negócios da companhia.
“É por isso que seríamos compradores do Nvidia mesmo pelo que chamaríamos de preço justo”, sentenciou o banco no relatório, assinado por Thiago Kapulskis, head global do time de Equity Research.
Por outro lado, a oferta de infraestrutura para os serviços de HPC e IA devem passar por alguma desaceleração nos médio e longo prazos.
“A Nvidia está pavimentando o caminho (para desenvolvimento de soluções em HPC e IA), mas o fato é que não é preciso construir pistas o tempo inteiro”, compara Castro Alves.
“De fato, os negócios da Nvidia parecem muito adequados, mas não dá pra esquecer que também são cíclicos. Então, hoje ela está na crista da onda, mas em algum momento, esse movimento pode arrefecer”, alerta o estrategista da Avenue.
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