A chegada de Neymar e o efeito perverso para o futebol brasileiro

Tecnicamente, jogadores do calibre de Neymar fazem a diferença? Na maior parte das vezes, sim. O problema está na acomodação financeira

Eis que temos o retorno de Neymar ao futebol brasileiro. Vestirá a camisa do Santos FC, clube que o revelou, supostamente pelos próximos 6 meses. Trata-se de uma história que pode ser contada de diversas formas. Envolve uma série de agentes, mostra um pouco do momento do futebol brasileiro, e é cheia de riscos e oportunidades. Vamos tentar abordar tudo isso nos próximos parágrafos.

Primeiro, vamos ao que todo mundo gosta de falar, porque gera cliques e “engajamento”: o salário de Neymar no Santos. Segundo divulgado em diversos veículos de imprensa, Neymar receberá R$ 1 milhão mensais, mais 90% de todas as receitas comerciais que levar ao clube.

Era este o modelo que tinha no clube antes de ser transferido para o Barcelona. Na época, pelo que se ouvia aqui e ali, ele levava algo como R$ 3,5 milhões mensais de patrocínios, e ficava com R$ 3,15 milhões, deixando o clube com R$ 350 mil.

Corrigido pelo IPCA do período o valor que Neymar recebia equivale a R$ 6,1 milhões mensais.

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    Patrocinador vai pagar salário?

    Uma das lendas urbanas que os dirigentes de futebol contam, conforme vimos há algumas semanas neste espaço, é de que “o patrocinador vai pagar os salários”. E a lenda nasce porque há exceções, e Neymar é uma delas. A outra é Ronaldo Fenômeno.

    Ambos, no Santos e no Corinthians, atraiam tanta atenção de mídia, e já tinham tantos patrocinadores e marcas querendo associarem-se a eles que conseguiram estruturar uma forma de serem pagos pelos patrocinadores, e ainda deixarem algum dinheiro no clube.

    Isto significa que o Santos terá que abrir espaço no seu uniforme – já bastante poluído – ou em outras propriedades para acomodar os patrocinadores do Neymar. Ou ele se associará a esses patrocinadores, recebendo valor adicional por isso. Não conheço a forma de negociação, mas não foge disso.

    Como Ronaldo era único, e atualmente apenas uns três jogadores possuem esta capacidade de agregar receitas – Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo – fica a dica para os demais dirigentes: não tentem fazer isso em casa. Vira lenda.

    Impactos no Futebol Brasileiro

    Para o futebol brasileiro é ótimo, pois atrai atenção da imprensa mundial, movimenta o mercado local, e quando ele estiver em campo é uma atração que leva público aos jogos e para a frente das TVs.

    E Neymar é a mais recente ação nesse sentido, que atualmente conta com Memphis Depay, teve recentemente Suarez, e está virando moda.

    Há algum tempo tivemos Daniel Alves, o Flamengo tem contratado jogadores de destaque, o São Paulo teve a volta de Lucas e Oscar, tem o sueco Braitwhite, Payet, Hulk, e vários outros.

    Tecnicamente eles resolvem? Na maior parte das vezes sim. O problema está na acomodação financeira. O futebol brasileiro está inflacionado. Os salários locais estão acima do que praticam boa parte dos clubes europeus, mesmo que os jogadores não tenham espaço no futebol que movimenta mais dinheiro no mundo. E mesmo que os clubes não tenham capacidade de pagar a conta.

    Só como referência, se pegarmos os 100 maiores salários de algumas ligas europeias, o piso das listas é o seguinte:

    • Itália: R$ 900 mil/mês
    • Alemanha: R$ 1.250 mil/mês
    • Espanha: R$ 1.550 mil/mês

    As informações da imprensa dão conta de que há muitos jogadores chegando ao Brasil com contratos acima desses valores, incluindo luvas e bônus. Ou seja, estão no top 100 das maiores ligas, sendo que no Brasil a receita média é de 40% da Seria A italiana e 35% da Bundesliga.  

    Daí vem sempre a mesma coisa: precisa investir para ser competitivo, o patrocinador paga, terá mais público no estádio, venderemos mais patrocínios, será bom para o produto. Tudo muito bom, se o futebol brasileiro não estivesse numa espiral de desorganização financeira perigosa.

    Contas em dia?

    Boa parte dos clubes não consegue pagar suas contas em dia, e isso tem virado aumento recorrente de dívidas. Uma grande maioria das SAFs está dependo do aporte recorrente de recursos dos acionistas para contratar e fechar as contas, o que mostra que os investimentos são incompatíveis com a capacidade dos clubes.

    E seguirão sendo, porque o resultado no caixa será menor que o gasto, porque temos apenas dois finalistas nas copas, apenas um vencedor por campeonato, se o desempenho é inferior à expectativa o público abandona o clube.

    Dinheiro das bets

    Para ajudar, o futebol depende cada vez mais do dinheiro das casas de apostas para vender suas cotas de patrocínio. Valores inflacionados pela chegada do setor, e que qualquer análise razoável sabe que é dinheiro finito, que acomodará em patamares mais baixos a partir da consolidação do mercado.

    Ou seja, estamos falando de um momento em que temos uma bolha, seja dos patrocínios, seja do dinheiro aportado pelos donos. E se todos os clubes queriam um jogador de qualidade para chamar de seu, agora todos aumentaram as apostas – que piadinha infame, mas ok – e vão querer no elenco os Ramos, Paredes, Dybalas, Firminos, e depois vemos como fazer.

    Voltamos algumas casas no tabuleiro da sustentabilidade. Que Neymar venha, jogue, encante. O problema nem é ele, que se paga. Mas os tantos que chegam, ganham, jogam muito ou pouco e sempre deixam estragos nas finanças. Por acaso ouvi “James Rodriguez” por aí?

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