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Barcelona segue endividado, mas prova que ajustes trazem bons resultados
Há alguns meses escrevi uma coluna tratando da situação financeira do FC Barcelona, e de como o clube estava tentando se ajustar através das chamadas “alavancas”, que eram vendas de ativos não-core, ou seja, não relacionados à atividade principal – jogar futebol. E quanto este movimento era um risco, seja porque não haveria ativos assim o tempo todo para serem negociados, e que havia a necessidade de fazer muito mais para sair do caos financeiro que o clube se meteu.
Nesta coluna vou tratar dos números mais recentes do clube blaugrana, e verificar como as coisas estão efetivamente evoluindo. Há notícias boas, mas também a manutenção de alguns desafios.
Barcelona segue em dificuldades
Primeiro, vamos lembrar que o Barcelona segue em dificuldades em atender ao fair play financeiro da LaLiga. No início da atual temporada, o clube precisou negociar atletas, incluindo Vitor Roque, para contratar outros, e no final sempre passa raspando, mas passa. Mostra que a situação ainda está longe do ideal. Vamos então aos números do ano passado e ao orçamento de 24/25 para avaliar a situação.
Acompanhei abaixo as receitas do Barcelona:
Em 23/24, o clube praticamente repetiu as receitas da temporada anterior. Com redução de receitas de Matchday, em função de jogar num estádio alternativo enquanto o Camp Nou está em reformas, e crescimento modesto nas Comerciais e na negociação de Atletas.
O orçamento da atual temporada prevê um aumento um pouco maior – cerca de 5% – com crescimento relevante das Comerciais e do Matchday. Ainda assim, cerca de € 140 milhões distantes da sonhada meta de € 1 bilhão que era falada pré-pandemia.
Agora, convenhamos, receitas não são um problema. E aqui uma notícia positiva: quando o Camp Nou estiver pronto, haverá certamente o aumento nas receitas de Matchday, e daí podemos falar em triplicar as receitas atuais, facilmente. Ou seja, dos € 863 milhões orçados para24/25 o clube poderia atingir € 1,16 bilhão, o que seria o início do desafogo.
O que segura as contas do Barcelona
Porque por enquanto são as alavancas que têm segurado as pontas. Em 22/23 foi a venda de direitos futuros de transmissão, mas em 23/24 foram menos relevantes, como vemos no gráfico abaixo. E não estão previstas novas para a atual temporada.
Custos X despesas do Barcelona
Mas se as receitas seguem elevadas, certamente entre as 5 maiores do futebol mundial, como estão os custos e despesas? Veja abaixo.
Aqui temos um grande esfoço do clube catalão. No principal custo – salários de atletas e comissão técnica – houve redução de 28% em 23/24, equivalente a € 163 milhões.
Junto a outras reduções, o total de custos e despesas foi 27% na temporada passada, e o orçamento de 24/25 projeta a manutenção dos números. Por isso, para trazer atletas novos era necessário dispensar de atletas que estavam na conta do ano anterior.
O que está acontecendo com o time
Vamos a alguns insights interessantes. O primeiro é que há capacidade de redução, mesmo em clubes grandes, contrariando a velha falácia dos dirigentes brasileiros de que não é possível cortar custos salariais porque perde-se a competitividade.
O segundo insight está justamente na capacidade de gerir melhor o dinheiro menor. A atual temporada, com alguns ajustes – destacadamente a chegada do novo treinador, o alemão Hansi Flick – foi suficiente par o clube apresentar futebol mais qualificado e se destacar tanto na LaLiga quanto na Champions League. Isto significa, inclusive, mais dinheiro no futuro por conta de performances potencialmente melhores.
“Mas, Cesar, não tem que gastar mais para melhorar o time?”
Não, Pedro Bó!
Como sempre digo, e insisto novamente, é preciso gastar melhor! Ser mais eficiente na formação do elenco, na escolha do treinador certo. E antes que alguém pergunte, já digo: não é fácil. A maior chance que há é de erro, porque estamos falando se seres humanos. Agora, quanto mais preparados forem os profissionais da gestão esportiva, melhor os sistemas, a análise de desempenho, mais é possível mitigar os riscos.
O que os clubes brasileiros podem aprender com o Barcelona
Pensando no Brasil, isto serve para muitos clubes brasileiros, como o Corinthians gastão, e o São Paulo, que entrará num momento de maior controle e restrições de gastos. Dá para fazer mais e melhor, desde que haja quem seja capaz de fazê-lo.
Dívidas
Aqui o calcanhar de aquiles do Barcelona. O clube ainda carrega um endividamento elevadíssimo. Veja abaixo:
Dívidas:
2022/23 | 2023/24 | Var. % | ||
Dívida Líquida CP | 261 | 73 | -72% | |
Dívida Líquida Total | 2.016 | 1.912 | -5% |
Alavancagem:
2022/23 | 2023/24 | |||
Dívida Total / EBITDA Recorrente | 11,0 | 17,5 | ||
Dívida Total / Receita Recorrente | 2,5 | 2,3 |
Mas temos uma boa notícia: as dívidas foram alongadas e hoje a parcela de curto prazo é bastante baixo, e a dívida total caiu um bocadinho (5%). Ainda assim, segue acima de 2 vezes as receitas, número inaceitável para um clube de futebol.
Lembra da situação do Corinthians? Pois é, estamos falando em números semelhantes. Se estamos incomodados com a dívida do Timão, não é possível estar tranquilo com o Barça.
Claro, com aumento futuro das receitas com o novo Camp Nou essa relação deve cair, e se houver um escalonamento justo dos vencimentos, o tempo cuidará de corrigir o problema. Mas estamos falando de dívidas que custam 5% ou 6% ao ano, diferentemente do que acontece com o Corinthians, cuja dívida custa, na média, 16% pelo menos.
Clube ainda depende de uma gestão eficiente
Ou seja, o cenário do Barcelona ainda é complicado, e sem tirar novos coelhos da cartola o clube dependerá de tempo e manutenção de uma gestão eficiente para se reequilibrar. É inegável, entretanto, que há evoluções, e merecem destaque.
Ao mesmo tempo, fica o exemplo para os clubes brasileiros de que há soluções para saírem de situações estressadas, e a receita é sempre a mesma: precisa de gestão, dentro e fora de campo, mas essencialmente vontade, planejamento e execução. O Barcelona mostra que o caminho é longo, por vezes tortuoso, mas possível.
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