Joesley Day: dois dias que marcaram a vida dos investidores da Bolsa de Valores
Há exatos seis anos, um dos maiores escândalos parou o mercado de ações
O ano era 2017. A bomba estourou no dia 18 de maio, data que recebeu o nome de Joesley Day. Naquele dia, a Bolsa de Valores despencou e o dólar disparou. Isso porque o empresário Joesley Batista, então presidente do grupo JBS, uma das empresas do grupo J&F (cujo J&F dono é o pai de Joesley, o empresário José Batista Sobrinho), colocou a boca no trombone.
Uma conversa gravada entre Joesley e o então presidente do Brasil Michel Temer demonstrava indícios de corrupção. Dessa forma, rapidamente, a gravação foi parar na mesa do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, um dos nomes mais importantes da imprensa brasileira.
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Pois bem, como consequência imediata, pairou no ar o rumor de que Temer iria renunciar. Isso deixou os investidores em pânico e o circuit breaker da B3 precisou ser acionado pela primeira vez desde a crise do subprime, em setembro de 2008.
O que aconteceu até o Joesley Day
O presidente Michel Temer havia assumido em 31 de agosto de 2016, logo após o impeachment de Dilma Rousseff. Toda sua agenda era pró-mercado financeiro.
Anteriormente ao Joesley Day, o governo Temer já havia passado no Congresso o teto de gastos, a reforma trabalhista e avançava para aprovar uma ampla reforma da Previdência. Mas o temor do mercado que afundou a Bolsa de Valores se confirmou nos meses seguintes.
A gravação comprometedora de Joesley mudou o foco do mandatário. Afinal, o projeto que mexia no regime de aposentadorias – e visava reequilibrar as contas do país – foi colocado de lado para que o presidente concentrasse esforços para garantir sua sobrevivência no Palácio do Planalto.
Como tudo começou?
A história toda começou nove meses antes do Joesley Day estourar. Acompanhe abaixo.
31 de agosto de 2016
O Senado confirma o impeachment de Dilma Rousseff (PT), e Michel Temer (MDB) é empossado como presidente da República.
Dessa forma, Temer chega prometendo uma relação pacificadora com o Congresso e tem como prioridade o avanço de reformas econômicas defendidas pelo mercado financeiro.
Até maio de 2017
A gestão Temer aprova propostas que agradaram o empresariado e as instituições financeiras. Por exemplo, o teto de gastos, para conter o crescimento dos gastos públicos, e a reforma trabalhista, que flexibilizou as regras para a contratação de funcionários. Tudo indicava que o então governo não teria dificuldades de fazer a reforma da Previdência.
17 de maio de 2017
Às 19h30, o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, publica na internet a notícia de que o empresário Joesley Batista havia delatado o presidente Michel Temer à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Uma gravação feita por Joesley ligava Temer a um escândalo de corrupção. O áudio não foi divulgado inicialmente, mas a principal revelação de Lauro Jardim era que o presidente supostamente dava aval para que o empresário continuasse fazendo repasses. E, ainda, para que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso na época, ficasse em silêncio.
Cunha foi o responsável por instaurar o processo que culminou no afastamento de Dilma da presidência. A frase de Temer “Tem que manter isso, viu?” ficou famosa na época.
18 de maio de 2017
A Bolsa de Valores abre em forte queda e aciona o circuit breaker quando o Ibovespa afundava mais de 10%. A expectativa era pela publicação da íntegra da gravação do encontro entre Joesley e Temer.
Às 14h50, o jornalista Ricardo Noblat, que era próximo a Temer, publica a nota em seu blog no jornal O Globo de que era real a possibilidade de o presidente renunciar. Afinal, havia três grandes fatores em questão: a gravidade dos fatos, a pressão da oposição e a pressão até mesmo de aliados.
No Palácio do Planalto, por volta das 16h e ainda sem o áudio vir à tona, Michel Temer faz um pronunciamento visivelmente nervoso e afirma que não tinha pretensão de renunciar.
A Bolsa de Valores paralisa suas atividades por 30 minutos e o Ibovespa fecha em queda de 8,80%, no maior tombo diário desde 22 de outubro de 2008. Já o dólar salta 8,15%, cotado a R$ 3,38, na maior alta em quase 20 anos.
O que aconteceu depois do Joesley Day
Depois que a bomba explodiu, o presidente Michel Temer conseguiu que a Câmara barrasse duas denúncias contra ele relacionadas à delação.
Outras crises vieram. Temer, por exemplo, teve que tourear a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, o que derrubou sua popularidade ainda mais, caindo para um dígito. Isso inviabilizou qualquer possibilidade dele buscar a reeleição.
Além disso, meses após deixar o cargo, em 21 de março de 2019, ele foi preso em um desdobramento da Operação Lava Jato.
Já o empresário Joesley Batista, da JBS, foi preso em 10 de setembro de 2017, também pela Lava Jato. Joesley foi acusado de omitir informações no acordo de delação premiada fechado com a Procuradoria-Geral da República e que envolvia Temer.
Já no governo de Jair Bolsonaro, depois de ser aprovada na Câmara e no Senado, a reforma da Previdência é promulgada em 12 de novembro de 2019 em sessão do Congresso. A principal mudança é a que fixa uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos para os homens e de 62 anos para as mulheres.
Como está a JBS hoje?
A JBS é uma empresa com ações negociadas em Bolsa, sob o ticker JBSS3. Toda essa confusão não abalou sua posição mundial: a companhia ainda é uma das maiores do ramo de processamento de carnes do mundo.
A companhia ten 70 anos de mercado, 250 mil funcionários e exporta para 20 países. Seus produtos vão desde carnes in natura e congelados até pratos prontos para o consumo. Ela dona das marcas Swift, Seara, Seara Gourmet, Doriana, Massa Leve, Pilgrim’s Pride, Swift Prepared Foods, Primo.
A JBS ainda atua em mercados como couro, biodiesel, colágeno, envoltórios naturais, higiene pessoal e limpeza, embalagens metálicas, transportes e soluções em gestão de resíduos, reciclagem.
A holding ainda é controladora do Banco Original do Agronegócio e do Banco Original. Na operação, Joesley vai adquirir as ações da J&F que hoje pertencem a seu pai, o empresário José Batista Sobrinho. Wesley vai assumir as ações atualmente sob o controle da JBJ Agropecuária, de seu irmão José Batista Júnior, que hoje controla a J&F Participações.
Números bilionários
Em março de 2022, o valor de mercado da JBS era de R$ 89,3 bilhões, com receita líquida de R$ 350,7 bilhões em 2021, crescimento de quase 30% em relação a 2020 e lucro líquido de R$ 20,5 bilhões, crescimento de espantosos 345,5% em um ano.
Retorno ao acionista
A empresa atingiu R$ 7,4 bilhões em dividendos, com um dividend yield de 8,2% em 2021, afirmou na divulgação de resultados Guilherme Cavalcanti, CFO da companhia.
Acrescentando a recompra de ações (R$ 10,6 bilhões), o yield total chega a 20%. Quando se soma a valorização das ações da JBS na Bolsa (o papel subiu 60,4% no ano passado, contra uma queda de 11,9% do Ibovespa) e o retorno ao acionista na forma de dividendos, o retorno total ao acionista da JBS atingiu 73,4%.