Saiba como o Ibovespa registra recorde nominal mesmo com saída de estrangeiros e institucionais

A bolsa de valores em 2024 aponta a saída de R$ 47,8 bilhões de investidores estrangeiros e institucionais. Apesar disso, o Ibovespa teve novo recorde nominal, chegando a 136 mil pontos no melhor momento recente.

Os especialistas dizem que essa diferença pode estar no fato de que investimentos estrangeiros e institucionais, aparentemente, estão concentrados em ações de maior liquidez.

“O Ibovespa ele não é linear, você tem empresas que pesam muito, como a Petrobras, a Vale e os bancos”. O destaque é de Pedro Serra, head de ações da Ativa.

Nesse sentido, o Ibovespa pode oscilar negativamente se as grandes empresas do índice tiverem queda de preço. O contrário também acontece, com o índice subindo sob influência das empresas mais líquidas, ainda que haja capital saindo em peso nas outras ações, de menor peso.

“Além disso, fatores macroeconômicos, como a taxa de juros, afetam o apetite de risco dos investidores e, assim, influenciam tanto as ações de grande porte (Ibovespa) quanto de pequeno porte (small caps)”, complementa Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.

Dinheiro ‘menor’, mas Ibovespa ‘maior’? Como isso funciona?

Piellusch explica que o mercado secundário da bolsa opera sempre com saldo zero. Nesse mercado, investidores negociam entre si, sem envolver diretamente a empresa emissora.

“Quando a bolsa apresenta uma oscilação negativa, isso significa que houve um aumento na oferta de ativos em relação à demanda. Ou seja, mais investidores estavam tentando vender do que comprar, o que pressiona os preços para baixo”, detalha o professor da FIA.

É o que aconteceu ao longo do ano, principalmente no primeiro semestre.

Entretanto, essa oscilação negativa não altera o saldo total negociado na bolsa. Isso significa que, para cada ação vendida, há um comprador. Mesmo quando os preços caem pela oferta maior, o volume total de compras será sempre equivalente ao volume total de vendas.

“Em outras palavras, o valor negociado entre os investidores permanece o mesmo, já que toda venda tem um comprador correspondente”, detalha Piellusch.

Contudo, o preço de mercado dos ativos segue outra lógica. “Ele é ajustado de acordo com a relação entre oferta e demanda”, acrescenta o professor.

Ações ‘pesadas’ registram altas consistentes

Nesse sentido, a procura foi grande por algumas das ações mais pesadas do Ibovespa. Sete das dez ações com maior participação no índice tiveram alta em 2024 até aqui.

Além disso, cinco dessas subiram mais de 10%. Petrobras e Itaú, que estão no top cinco das mais importantes do índice, estiveram entre as companhias com alta robusta em 2024. Veja.

• WEG (WEGE3) +46,58%
• Sabesp (SBSP3) + 29,54%
• Petrobras (PETR3) +16,70%
• Itaú (ITUB4) +14,22%
• Petrobras (PETR4) +12,36%
• Banco do Brasil (BBAS3) +8,95%
• Eletrobras (ELET3) +0,49

Além das ações mencionadas, estão entre as mais pesadas a Vale, a B3 e o Bradesco, que estão no vermelho em 2024 até aqui.

Concentração

Serra, da Ativa, ressalta que há fluxo de saída no que diz respeito à bolsa no geral desde o início do ano quando o assunto é participação de estrangeiros e institucionais.  

Nesse cenário, o índice Small Caps tem minguado na bolsa e perdeu mais de 10% em 2024. Ou seja, houve perda de atratividade das empresas pequenas. E isso tem a ver com um movimento comum de entrada de grandes investidores via ativos substanciais.

“Os internacionais quando entram (na bolsa brasileira), muitas vezes entram via ETF, ou seja, fundos passivos que recompram o Ibovespa, por exemplo. Então, as empresas que não fazem parte do Ibovespa acabam não levando esse fluxo”, destaca Serra.

Outro comportamento comum do grande investidor estrangeiro é montar combos de ações que contenham representantes de setores estratégicos, como petróleo, banco, mineração, utilities, entre outros.

Investimentos na bolsa de valores em 2024

Sabesp é destaque em volume no Ibovespa

O maior exemplo de empresa de setor estratégico escolhida para carteiras de institucionais e estrangeiros é a Sabesp (SBSP3). A empresa se destaca como a de maior volume de negociações nos últimos quatro trimestres.

“A ação que ocupava a vigésima sétima posição no quarto trimestre de 2023, subiu para o quarto lugar no terceiro trimestre deste ano, movimentando R$ 571 milhões por dia”, destaca Einar Rivero, consultor e sócio da Elos Ayta.

O interesse pelos papéis da empresa de saneamento básico de São Paulo está relacionado ao processo de privatização.

Vale e Petrobras são as mais pesadas da bolsa de valores

O levantamento da Elos Ayta mostra também que o maior volume financeiro oscilou entre as ações da Petrobras PN (PETR4) e da Vale ON (VALE3) nos últimos quatro trimestres.

Enquanto a Petrobras tem registrado entrada de capital, a Vale sofre com saída. A empresa perdeu 18,79% do seu valor de mercado na bolsa desde o início de 2024, reduzindo os ganhos do Ibovespa no período.

Importante mencionar que a Vale (VALE3) corresponde a mais de 11% do Ibovespa, enquanto a Petrobras é responsável por quase 15%, contando os dois tickers (PETR3 e PETR4).

Alta generalizada da bolsa de valores ainda é viável

Segundo Serra, da Ativa, o dinheiro que entra majoritariamente via ETFs e grandes empresas pode se espraiar para a bolsa como um todo nos próximos meses. Isso vai depender da confirmação de algumas premissas como crescimento econômico e inflação e dívida pública controladas.

“Assim, provavelmente, vão começar a entrar outros investidores que olham mais a fundo e podem começar a comprar as small caps, sem dúvida nenhuma”, avalia.

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