Ibovespa ainda tem fôlego para buscar os 150 mil pontos?

Ibovespa em 150 mil pontos? Veja se o índice ainda tem força para alcançar as projeções feitas no início do ano, quando o patamar era recorde

As projeções de alguns dos principais bancos e casas de análises apontavam, no início do ano, o Ibovespa buscando os 150 mil pontos ao final de 2024. Com as quedas recentes, o principal índice da bolsa levantou dúvidas sobre se teria força para atender essas expectativas.

Analistas ouvidos pela Inteligência Financeira disseram, de forma consensual, de que o Ibovespa deve, sim, ter fôlego para atingir novos recordes, mesmo depois de se afastar dos 134 mil pontos alcançados no final de 2023 e ter caído abaixo dos 127 mil pontos, visto por alguns como patamar de segurança.

Para Fábio Perina, estrategista de ações do Itaú BBA, as quedas recentes não tiraram o viés positivo para o ano do Ibovespa. “Isso porque o índice negocia acima de sua média móvel de 200 períodos que é uma referência gráfica para a tendência de longo prazo”, afirma.

Assim, a tendência mais consistente começou em maio do ano passado, quando o índice passou a negociar acima dessa média móvel.

“Nossa projeção para o índice ao longo de 2024 continua em 150 mil pontos e será válida enquanto o índice negociar acima dessa média”, completa Perina.

Dessa forma, o movimento do Ibovespa segue o comportamento de índices importantes pelo mundo, mas com algum atraso.

Isso porque os principais índices internacionais como SP500, Nasdaq (EUA), CAC (França), DAX (Alemanha), e Nikkei (Japão) já superaram as máximas do ano passado.

Itaú BBA mantém projeção e XP aumenta aposta

Em fevereiro e março, o Ibovespa pausou o forte movimento de alta, se afastando dos 134 mil, alcançados no final de dezembro.

Assim, o grande gatilho agora é “marcar nova máxima, ou seja, superar a região dos 134.400 pontos para ficar com caminho livre para buscar os 150 mil pontos”, projeta Perina

Outras análises, como a da XP, que tinha expectativa para o Ibovespa em 142 mil em 2024, ganharam tons ainda mais otimistas.

Dessa maneira, a XP revisou projeção e acredita que o índice chegue a 149 mil pontos.

Nesse sentido, há uma percepção positiva por conta dos resultados das empresas relacionados ao 4T23 e projeções ainda melhores para os próximos trimestres. Com a manutenção da queda nas taxas de juros.

Para a XP, “a saída de capital estrangeiro”, registrada desde o início do ano, “não muda nossa visão estrutural de que o Brasil está bem posicionado globalmente e em mercados emergentes para continuar atraindo capital”.

Queda abaixo dos 127 mil pontos

No pregão da segunda, o Ibovespa fechou abaixo do patamar considerado seguro por boa parte dos analistas para garantir um ano de altas, abaixo dos 127 mil pontos.

Ainda assim, a queda foi vista como pontual.

“O que teve de fato foram problemas pontuais com dois ativos: Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4). Apenas e tão somente isso”, sentencia Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, escritório vinculado à XP.

Sede da Petrobras no Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O que dá mais força à tese é a retomada do Ibovespa nesta terça-feira, com o retorno à casa dos 127 mil pontos, tendo chegado aos 128 mil na máxima.

Na véspera, a Petrobras sofreu principalmente com as incertezas sobre pagamento de dividendos extraordinários. Caso ainda sem definição.

A Vale, empresa mais importante da bolsa, tem espaço para crescer depois de uma queda de 30% no preço do minério de ferro no ano.

“Vale está barata. Ela e a Petrobras não devem sofrer mais, com a petroleira contando também com resultados trimestrais robustos. Ambas devem se recuperar ao longo do tempo”, diz Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.

Desempenho das ações com maior participação no Ibovespa

EmpresaAtivoDesempenho em 5 diasDesempenho em 1 mês
Vale VALE3-8,12%-7,43%
ItaúITUB4+1,33%+0,35%
PetrobrasPETR4-8,41%-10,17%
PetrobrasPETR3-8,90%-11,68%
EletrobrasELET3+0,30%+1,79%
Banco do BrasilBBAS3-1,06%-1,29%
BradescoBBDC4+2,10%+2,10%
B3B3SA3+4,40%-0,31%
AmbevABEV3+0,31%-0,62%
ItausaITSA4+2,42%+2,03%
Dados compilados no fechamento do dia 12/03.

Riscos no exterior

As quedas do IBOV desde o início do ano estiveram relacionadas com a retirada de dinheiro estrangeiro, segundo Gustavo Biserra, analista da Nova Futura, depois de um 2023 de recorde nominal na bolsa.

Essa retirada esteve atrelada às indefinições com relação à mudança na política monetária nos Estados Unidos, com os dados econômicos mostrando atividade fortalecida na maior economia do mundo.

“O mercado ainda espera uma sinalização mais clara de quando e quanto vem de corte”, diz Biserra. A Nova Futura trabalha com projeção entre 140 mil e 150 mil para o Ibovespa ao final de 2024.

A longo prazo, os dados econômicos dos Estados Unidos devem seguir dando o tom das bolsas pelo mundo, inclusive da brasileira.

Os indicadores para se ficar atento são relacionados ao mercado de trabalho, “que tem se mostrado forte”, diz Boragini, da Davos.

Além disso, os núcleos da inflação, se continuarem vindo acima da expectativa, podem atrapalhar o desempenho dos ativos de risco no mundo.

“A inflação por lá ainda está bastante resiliente, isso acaba pesando um pouco, apesar do IPCA aqui ter vindo controlado”, detalha Alexandre Pletes, chefe de renda variável da Faz Capital.

Riscos locais

A inflação por aqui parece controlada.

Contudo, há riscos locais relacionados a questões políticas. A afirmação é de Alexandre Siqueira, analista do Grupo Fractal.

“Alguns pontos que podem alterar essa rota que o Ibovespa tem buscado são a gestão da política fiscal do país, que, se mal trabalhada, pode contribuir negativamente para os indicadores econômicos e, consequentemente, para a bolsa”, avalia Siqueira.

Além disso, no cenário interno, a fraca demanda chinesa também pode reduzir o fôlego da bolsa.

“Um estresse financeiro global ou uma derrapagem da China com impacto negativo nas commodities também têm potencial para impactar o valor final do Ibovespa”, diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Lula ao lado do presidente da China, Xi Jinping, na Cúpula do Brics, na África do Sul. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Preço / lucro ainda distante da média

Mesmo diante de um cenário negativo, que empurre a bolsa brasileira mais para baixo, Biserra crê que a bolsa encontra patamar saudável mesmo se cair aos 123 mil pontos. Isso porque a relação preço / lucro permanecerá vantajosa.

“Em relação ao preço / lucro do Ibovespa, ele está em 7,8 a 8 vezes. Sendo que a média é de 10 a 13 vezes. Então, em resumo, a bolsa continuará barata e atrativa”, afirma o analista.