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Sérgio Vale: “Aproximação de Bolsonaro com Putin pode ter consequências econômicas no longo prazo”
Mesmo pressionado e na contramão das principais lideranças globais, o presidente Jair Bolsonaro tem evitado de se posicionar contra a invasão da Rússia à Ucrânia. O conflito no leste europeu estourou menos de uma semana depois de Bolsonaro ter passado por Moscou e se encontrado com o presidente Vladimir Putin, que ordenou o ataque russo a Kiev. Em entrevista à Inteligência Financeira, o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, avalia os motivos de o presidente brasileiro não condenar a investida russa nem fazer críticas diretas a Putin. Vale também fala dos potenciais efeitos econômicos que a postura de Bolsonaro no conflito pode provocar.
Confira os principais pontos da entrevista:
Inteligência Financeira: Com a invasão da Ucrânia, como avaliar a viagem que o presidente Jair Bolsonaro fez à Rússia já com os indícios de que poderia haver um conflito na região?
Sérgio Vale: Não tinha muito sentido econômico. A viagem que ele fez à Rússia foi muito mais simbólica para o eleitorado interno. O Bolsonaro transita com regimes autoritários ou que ficaram autoritários ao longos dos anos, como a Hungria também. Porque é tipo de governo que ele acha correto é o que ele queria, mas não tem força para implantar isso no país. Além disso, entre as potências, a Rússia é o país que recebe ele e o que ele consegue visitar.
IF: Isso explica o fato de Bolsonaro não ter se posicionado imediatamente contra a invasão da Rússia à Ucrânia?
Sérgio Vale: Era esperado que ele fosse ter essa atitude. Fica difícil de se desvencilhar agora depois das declarações que deu durante o encontro com Putin. Então a tendência é não condenar nem reforçar um apoio.
IF: O Brasil tem sido pressionado principalmente pelos Estados Unidos para tomar uma posição no conflito. Ao não rechaçar o ataque russo e se distanciar da posição da maioria das lideranças ocidentais, quais podem ser os efeitos para o país?
Sérgio Vale: Essa aproximação do presidente Bolsonaro com a Rússia pode ter consequências no longo prazo em termos de investimento, especialmente americano e europeu. Se a gente for avaliar também dentro de um contexto ESG, em que há uma cobrança forte por governança, não é interessante investir em um país alinhado com democracias iliberais.
IF: Mas pode haver algum tipo de retaliação ou sanção econômica contra o Brasil?
Sérgio Vale: No curto prazo, não. Tem a questão eleitoral. Os países vão esperar o resultado da eleição presidencial para saber o que vai acontecer com o Brasil. Até aqui, todas as decisões do ponto de vista das relações exteriores foram equivocadas. Então os países esperam que o Brasil volte à sua civilidade diplomática. Agora, ações não podem ser descartadas em um eventual segundo mandato de Bolsonaro.
IF: O conflito envolve países que são fortes fornecedores de insumos agrícolas. Poupar Putin de críticas passaria por uma percepção do governo brasileiro de que o agronegócio poderia se beneficiar de um desfecho pró-Rússia?
Sérgio Vale: Seria um tiro pé no curto prazo, já que a guerra traz um impacto negativo. A inflação vai continuar pressionada, o Banco Central pode ter que subir mais a taxa Selic e tudo isso vai afetar o crescimento econômico. Além disso, nesse momento de crise os insumos que são importados daquela região, como fertilizantes, vão atrasar e ficar mais caros. Os custos agrícolas vão ficar mais caros por conta disso. Então é um efeito que precisa ser acompanhado.
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