Inadimplência tem espaço para crescer e deve atrapalhar crédito em 2023, diz presidente da Febraban

Em entrevista ao JOTA, Isaac Sidney diz que calotes devem atingir teto entre 1º e 2º trimestre de 2023

Isaac Sidney, presidente da Febraban (Foto: Claudio Belli/Valor)
Isaac Sidney, presidente da Febraban (Foto: Claudio Belli/Valor)

O Brasil não está conseguindo pagar seus boletos e ficará mais difícil encontrar crédito na praça. Após três anos de crescimento sólido, a expectativa é que o mercado de crédito enfrente um arrefecimento no próximo ano em função do processo de alta da inadimplência, cenário que deve manter os bancos mais seletivos.

No acumulado de 2022 até outubro, o setor bancário desembolsou R$ 4,9 trilhões em concessões de crédito, com crescimento de 23,2% em 12 meses. O saldo de operações de crédito superou o patamar de R$ 5 trilhões e registrou, em outubro, alta de 15,8% na mesma comparação. Apesar do desempenho, o crédito trava uma batalha com a inversão da curva de inadimplência.

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A elevação do número de pessoas que não cumpriram com as obrigações foi um reflexo do aumento da inflação nos últimos anos e da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central, hoje em 13,75% ao ano. A inadimplência, que estava em 2,3% no final de 2021, atingiu 3% no final de outubro deste ano, e ainda não chegou ao seu pico, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

“Os bancos brasileiros precisaram reforçar seus níveis de provisão para perdas de crédito,” afirmou o presidente da entidade, Isaac Sidney em entrevista ao JOTA. “Este movimento está no centro do nosso radar e estamos trabalhando para reduzir o impacto das condições monetárias adversas sobre o endividamento e a inadimplência.”

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Segundo o dirigente, a inadimplência deve atingir seu teto entre o primeiro e o segundo trimestres de 2023. A projeção é que ela volte a ceder no segundo semestre, conforme a inflação comece a perder força e a autoridade monetária do país dê início ao processo de redução da taxa de juros. O cenário deve manter os bancos mais seletivos na concessão de crédito nos próximos trimestres.

Custo de crédito

A prioridade do setor bancário para o ano que vem é a redução do custo do crédito, representado pelo spread bancário. Em outubro deste ano, a diferença entre a taxa de empréstimo e a taxa de captação foi de 20,1 pontos percentuais. A razão dessa disparidade é normalmente atribuída à necessidade de os bancos brasileiros continuarem lucrando.

Dados consolidados pela Economatica mostraram que o lucro líquido dos quatro maiores bancos brasileiros — Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil — em 2021 foi o maior já registrado desde 2006 em termos nominais. O valor alcançou R$ 81,63 bilhões e superou o recorde anterior, de 2019, quando lucro das companhias chegou a R$ 81,50 bilhões.

Mas o presidente da Febraban afirmou que atribuir os spreads elevados aos lucros excessivos dos bancos é uma “explicação simples, eu diria até simplória”. Sidney argumentou que 80% do spread bancário correspondem aos custos de intermediação financeira. Se o lucro dos bancos fosse zerado, o spread seria de 16,1 pontos percentuais, segundo ele.

O dirigente sustentou que a diminuição dos spreads está associada à redução da inadimplência, que representa cerca de 30% do custo de crédito. Por isso, seria necessária a instituição de um marco legal de garantias. Hoje, existe um projeto de lei em tramitação no Congresso que trata do tema (PL 4.188/2021). Ele já passou na Câmara e aguarda votação no Senado.

“No Brasil, a recuperação de garantias é baixa, demora muito e custo caro. É preciso entender que uma boa recuperação de garantias reduz consideravelmente o custo da inadimplência e permite que se pratique juros mais baixos”, afirmou Sidney.

Ele também questionou o sistema tributário brasileiro. O setor bancário lida com uma carga tributária de 45%, considerando o imposto de renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), em comparação com os 34% dos demais setores.

Quanto ao crédito, ainda há a incidência de PIS/Cofins sobre receitas de intermediação financeira e o IOF. “O cliente está tomando um empréstimo para comprar uma casa ou um carro, a empresa para investir e pensa que está pagando juros, mas está pagando impostos”, disse.

“A redução destes custos é nossa prioridade e nosso roteiro de atuação,” concluiu.

(Por Arthur Guimarães, repórter do JOTA em São Paulo)
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