Em ano eleitoral, crise deve empurrar mais 1 milhão de brasileiros para o desemprego

A incerteza gerada pelo ciclo eleitoral doméstico limita o dinamismo econômico e gera consequências para a retomada do emprego
Pontos-chave:
  • A geração de vagas não será suficiente para absorver quem está entrando no mercado. É a mais alta taxa em ano eleitoral dos últimos sete pleitos

Neste ano eleitoral, a lenta recuperação do mercado de trabalho, com inflação e juros altos, deve dominar os debates. Tiago Tristão, economista da Absolute Investimentos, estima que ao fim de 2022 serão 13,4 milhões de pessoas desempregadas, 1 milhão a mais que no fim do ano passado, mesmo com a expectativa da geração líquida de 400 mil vagas neste ano. Ou seja, a geração de vagas não vai acompanhar o aumento da procura por trabalho.

A incerteza gerada pelo ciclo eleitoral doméstico limita o dinamismo econômico e gera consequências para a retomada do emprego. O cenário para 2022 está bastante deteriorado e é desafiador, com destaque negativo para a queda do rendimento médio dos trabalhadores, diz Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria. Ele diz que a taxa de desemprego deve ficar em dois dígitos nos próximos dez anos, apesar de prever para dezembro um número de desempregados menor do que Tristão: 12,7 milhões.

A economia estagnada — o mercado projeta crescimento de apenas 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano — vai afetar a decisão dos eleitores, dizem especialistas. Bancos e consultorias estimam que o desemprego pode fechar 2022 entre 11,8% e 13%, acima dos registrados em outros anos eleitorais.

A taxa no fim dos governos

Fonte: IBGE. Arte: Reprodução O Globo

Índice em ano eleitoral

Na reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do IBGE, hoje extinta, mostrava taxa de desemprego em dezembro de 6,32%. Em 2002, quando o PT ganhou as eleições do PSDB, o índice, ainda medido pela PME mas com nova metodologia, que captava melhor o desemprego, era de 10,5%.

Quando o país reelegeu Lula em 2006, a taxa de desocupação era de 8,4%. E na eleição de 2010, quando o petista conseguiu fazer de Dilma Rousseff a sua sucessora, o índice estava em 5,3%.

Em 2014, a crise econômica que então começava ainda não havia se refletido no mercado de trabalho quando das eleições. Na época, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua mostrou que a taxa de desemprego fechou o ano em 6,6%, uma das menores da série, e Dilma foi reeleita.

Desde então, com dois anos de recessão (2015 e 2016) e a pandemia, esse indicador só aumentou. Na última eleição, em 2018, a taxa média de desemprego no ano ficou em 12,3%. O indicador fechou o ano em 11,7%.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que a recuperação vigorosa de 2021 não vai se repetir este ano. O mercado de trabalho, diz, continuará precário, sustentado por ocupações que exigem baixa qualificação e informais, com o agravante da inflação, que corrói a renda do trabalhador. Esta já caiu 11% frente ao ano passado.

A reversão desse quadro depende do aquecimento da atividade econômica. O que não deve acontecer, de acordo com as projeções da MB para o PIB deste ano, que são de estagnação. “Vai demorar para chegar a uma taxa de desemprego de um dígito. Para isso acontecer, vamos precisar de taxas de crescimento da economia mais expressivas. O crescimento que temos tido, entre 1% e 2%, não vai ser suficiente”, diz Vale.

Com reportagem de O Globo.