Dólar caindo abaixo de R$ 5,00? É bem possível, dizem analistas

Barreira dos R$ 5 está em pauta (de novo); há otimismo com o cenário externo
Pontos-chave:
  • O dólar fechou em leve queda nesta quinta-feira, em movimento que destoou do exterior
  • Dólar caiu 0,08% e fechou a R$ 5,07

“Se fizermos muita besteira, dólar vai a R$ 5”. A frase foi dita pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, em 5 de março de 2020. Nesta mesma data, o dólar comercial emendou o 12º dia de alta e fechou com valorização de 1,54%, cotado a R$ 4,651 na venda. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, despencou neste dia 4,65%, aos 102.233,24 pontos, com todas as ações no vermelho. Havia na época um grande nervosismo com o surto do coronavírus.

A frase de Guedes sobre o dólar funcionou como uma predição. Uma semana depois da fala, o dólar rompia a casa dos R$ 5 pela primeira vez na história do Plano Real. Desde então, o mercado discute o momento em que veremos o dólar caindo abaixo de R$ 5 novamente. 

A discussão voltou com força à pauta do mercado financeiro neste início de ano. Até o fechamento desta quinta-feira (26), o dólar acumulava queda de 4% ante o real em 2023. A moeda norte-americana já é negociada abaixo de R$ 5,10 e há bons motivos para acreditar em uma queda ainda maior, segundo especialistas.

Por que o dólar está caindo?

Primeiro, é importante entender o motivo da desvalorização recente do dólar. O cenário externo explica boa parte e ainda há uma parcela de culpa das movimentações no Brasil. 

O sentimento do mercado internacional é de que os Estados Unidos estejam, finalmente, conseguindo controlar a inflação. Há duas semanas, os dados de inflação ao consumidor dos EUA vieram ligeiramente abaixo da expectativa do mercado, o que dá esperança ao mercado de controle dos preços. 

Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, explica que o indicador “mostra que a elevação da taxa básica de juros dos EUA está surtindo efeito e que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) não precisa subir tanto os juros quanto o mercado havia precificado”. 

Isso explica porque o dólar vem perdendo valor em todo o mundo, não apenas ante o real. O índice DXY, que compara o dólar com uma cesta de moedas importantes, caiu 1,9% no último mês. 

Na próxima quarta-feira, o comitê responsável pela política monetária dos Estados Unidos (Fomc) vai anunciar sua decisão sobre os juros do país. A expectativa é de aumento de 0,25 ponto percentual para o intervalo entre 4,5% e 4,75%. “Acredito que o dólar segue perdendo atratividade, especialmente frente ao euro, se a alta for de 25 bps [equivale a 0,25 ponto percentual]”, diz Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do IBMEC-RJ.

Dólar caindo abaixo de R$ 5 é possível? 

Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira dizem que sim. “O [governo] local precisa ajudar”, diz Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos. 

A fala de Komura faz alusão às vezes em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez discursos, antes e depois da posse, que estressaram o mercado financeiro.  

A avaliação do mercado é de que a ausência de falas consideradas polêmicas por membros do governo federal ajuda o real a andar, valorizando ante ao dólar. Há, inclusive, a torcida para que a calmaria continue: “O dólar caindo abaixo de R$ 5 é possível, basta o governo ajudar nesse movimento”, diz Komura. 

A China ainda entra como fator decisivo para a apreciação do real. O país acabou com a política covid zero e paralisações na indústria, o que impulsionou os preços do petróleo, minério de ferro, níquel e outras commodities. Como o Brasil é um grande produtor de matérias-primas, a valorização desses produtos é quase sinônimo de valorização do real. 

Fiscal no radar

Para Alexandre Espírito Santo, o valor justo do dólar atualmente é de R$ 4,80, mas o Brasil precisa “fazer o dever de casa”. A lição é da matéria de política fiscal e deve ser entregue em abril. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em seu discurso de posse que o governo vai trabalhar em um novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos. Depois, no Fórum Econômico Mundial, ele disse que os detalhes serão definidos em abril. O assunto é decisivo para o rumo do real no Lula 3. 

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