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Direitos de Transmissão: sinais que o futebol brasileiro prefere ignorar
A temporada no Brasil está chegando ao final. O Campeonato Brasileiro terminou com um dos campeões de sempre, mostrando que no final das contas o dinheiro e a organização é que trazem felicidade. A Copa do Brasil e a Libertadores tiveram novos e improváveis campeões, coisas que só acontecem nas competições de copa. Improváveis pela desorganização e/ou pouco dinheiro disponível. Mas hoje vou falar sobre os direitos de transmissão no futebol.
Reta final de 2023
Resta agora o Mundial de Clubes, onde veremos o Fluminense em ação, e no contexto internacional, a última rodada das ligas continentais europeias.
Depois disso trarei um fechamento do ano, já projetando o início da temporada, pois logo teremos janela de transferência de atletas, novas diretorias, mudanças aqui e ali, conversas sobre a liga de clubes esquentando.
Falando nisso, na semana que passou a Premier League anunciou a renovação do contrato de direitos de transmissões locais.
Assim, o novo contrato atingiu a cifra de € 1,95 bilhão anuais, por um período de 5 anos. O valor é apenas 4% superior ao contrato anterior, aumento que ficou abaixo da inflação de mais de 15% desde o contrato anterior, mas ainda assim pode ser considerado positivo.
Em outubro, a Série A italiana anunciou a renovação de contrato de direitos de transmissão do futebol locais também por 5 anos, mas por € 900 milhões anuais, com bônus de desempenho que pode atingir até € 1bilhão a partir de 3º ano.
Queda nas receitas
Se tudo der certo, o número pode chegar a algo como € 1,2 bilhão, cerca de 40% abaixo da Premier League. Na largada já é 55% inferior ao campeonato inglês.
Mas há dois pontos interessantes na Premier League, e, de certa forma, espelhados na Série A: o tempo de duração e os players envolvidos.
Até o contrato anterior os contratos eram de 3 anos, porque as ligas viam crescimentos recorrentes de demanda e valores, e não queriam deixar dinheiro na mesa.
Nessa renovação, optaram por garantir um bom valor por mais tempo. Ou seja, a expectativa de aumento de demanda e valores já ficou para trás.
A estratégia das emissoras
No campo das ofertas, a Premier League permanecerá nas mãos da Sky Sports, da TVT Sports (Grupo BT) e da BBC (melhores momentos).
Já a Amazon deixará de transmitir a competição. Enquanto a DAZN não conseguiu atingir as melhores propostas, que nem foram tão altas assim.
Vale o mesmo para a Itália, que manteve DAZN e Sky Sports transmitindo a competição localmente.
Vamos entender mais sobre os direitos de transmissão futebol de uma maneira mais global, e lembrando que o campeonato francês não teve interessados dentro dos valores solicitados, e que a LaLiga (Espanha) renovou ainda em 2021 seu contrato por 5 anos, ainda num mercado em crescimento, pré-inflação, mantendo Movistar e adicionando o DAZN entre seus parceiros.
Lembro ainda que tanto a LaLiga como a League francesa venderam parte de suas media companies para o fundo CVC, que pagou € 1,99 bilhão por 8,25% dos direitos da LaLiga (exceto Barça e Real) e € 1,5 bilhão por 13% da liga francesa.
Limitação das receitas no futebol
Isso tudo indica uma limitação no crescimento das receitas do futebol europeu. Os mercados locais são o que são, e têm limitações de população e renda, ainda mais num ambiente econômico adverso.
Lutam contra a pirataria, mas também com a redução de assinaturas na TV Paga. Nesse sentido, o investimento em direitos de transmissão de futebol é uma forma de oferecer benefícios para que os assinantes permaneçam na base.
Segundo estudo da Ampere – Content Markets, na Europa os direitos esportivos representam 31% do total investido em aquisição de direitos de todos os tipos, incluindo filmes, shows e outras propriedades. Mundialmente esse número é de 20%. A Amazon investe 12% em esportes ao vivo, enquanto a Sky investe 38%.
Dinheiro no mercado externo
O que resta é buscar dinheiro no mercado externo. Os direitos de transmissão de futebol internacionais vinham crescendo até a última renovação, impulsionados pelo Oriente Médio e EUA, que atravessava a chamada “Guerra do Streaming”.
Hoje, com a redução da busca desenfreada por assinantes e o cansaço dos prejuízos, os streamings tendem a ser mais comedidos nas aquisições, realidade que confirmaremos nas próximas renovações, ligeiramente distantes.
Possivelmente não haverá espaço para todos. Premier League e Champions League devem seguir como competições de maior interesse, seguidas pela LaLiga. A Série A fará sua renovação em breve, e teremos uma melhor avaliação do tema.
Direito de transmissão no Brasil
E precisamos pensar no futebol do Brasil. Os direitos de transmissão do Brasileirão valem até 2024.
Ou seja, a renovação já está atrasada. Para ajudar, com a graciosa Lei do Mandante os clubes acabaram dividindo-se em dois grupos, que nem formam uma liga, nem conseguem se organizar para vender os direitos em conjunto.
E ainda tivemos antecipações, captações frustradas, conversas que vieram e voltaram.
Some-se a isso o ambiente econômico ainda complicado no país, e limitação de players locais. Temos a Globo, a Globo e a Globo.
A Amazon vem em parceria com a Globo. Depois, respeitosamente, temos um abismo em relação às demais possibilidades, pelo menos para fazer um pacote completo e superior ao atual.
Mesmo grandes players internacionais que estão no streaming farão conta.
Receitas em reais
Aliás, um erro comum de quem analisa de forma superficial é dizer que “para os gringos o custo do Brasileirão em dólares é barato”. Sim, cara-pálida. Mas as receitas são em reais, e em dólares serão baixas, se derem retorno.
A possibilidade de receitas com direitos de transmissão internacionais de futebol cai bastante, à medida em que não há um produto único, com negociação em conjunto, e ainda disputando espaço cada vez mais escasso nos principais mercados consumidores.
E ainda tem clube que iniciará 2025 com menos 20% das receitas de transmissão.
Os sinais estão aí. Os alertas, também.
Agora, ouve quem quer, procura ajuda quem quer.
Enquanto os processos seguirem organizados de forma desorganizada, vale a velha máxima: farinha pouca, meu pilão primeiro. Para reclamações posteriores, ligue no 0800 do seu clube.
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