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Direito de transmissão no futebol: cenário desafiador, pelo menos por enquanto
O mundo não para. Tudo que é verdade hoje vira mentira amanhã, para depois voltar a ser verdade. Quando falamos de esporte e seu ecossistema, esse cenário é ainda mais comum. Se a questão for relativa a direitos de transmissão, piorou. E entender os impactos dessas idas-e-vidas no Brasil é algo que poucos querem fazer, porque mostrar a realidade nem sempre é bom. Nesta coluna vamos tratar de direitos de transmissão, mudanças na indústria e como isso pode impactar o Brasil. Pelo menos até o próximo cavalo-de-pau, que nos levará ao imprevisível.
Menos players, menor valor de venda
E imprevisível é o que pode acontecer na venda de direitos esportivos após o anúncio da criação de uma espécie de “hub de streamings” nos EUA, que consolida num só lugar os canais de esportes da Disney, Warner e Fox.
Num único local os assinantes poderão ver esportes dos 3 distribuidores, teoricamente pagando mais que cada um individualmente, mas menos que a soma dos três.
Num primeiro momento, a trinca que transmite cerca de 55% de todas as principais ligas de esportes americanos, devem seguir competindo pela compra dos direitos de transmissão da NBA, MLB, NHL, que são as que tem contratos vencendo mais cedo.
Mas, convenhamos, não será uma surpresa se resolverem criar um pool para comprarem os direitos em conjunto. Resultado disso? Menos players, menos demanda, menor valor de venda.
Não é por acaso, mas por ter uma visão clara, com análise de risco e conhecimento de mercado, que algumas ligas renovaram contratos recentemente por prazos acima do que faziam anteriormente.
A NFL foi pioneira, com contrato de 10 ano. A MLS fez um contrato também de 10 anos com a Apple, e tanto a Premier League quanto a Serie A renovaram os contratos domésticos por 5 anos, sendo que a liga italiana ainda incluiu uma cláusula de revenue share com a DAZN – elas dividirão as receitas a partir de determinado valor.
Receita de publicidade maior que com direito de transmissão
Os clubes europeus também estão cientes dos riscos, e começam a se movimentar.
Segundo o último relatório Deloitte Money League, as receitas com origem comercial – basicamente publicidade – foram, pela primeira vez, superiores às receitas com direitos de transmissão. Acompanhe o levantamento abaixo:
Não houve evento isolado que levasse a este crescimento, mas uma soma de comportamentos de todos os clubes. Para apontarmos destaques, Real Madrid, Barcelona e Milan foram os que cresceram acima da média.
E aqui falamos da nata, clubes que disputam Champions League, que na temporada passada distribuiu mais de € 2 bilhões aos clubes participantes, sendo que 83% do valor vem da venda de direitos de transmissão. Fora a parcela que recebem das ligas nacionais. Ainda assim, as receitas comerciais foram maiores que as de transmissão.
Novamente, não é por acaso. É porque a análise indica que os valores tendem à estabilidade. Para mudar a questão do direito de transmissão no futebol é preciso sacrificar algumas coisas, como por exemplo, o calendário e a condição física dos atletas. Acontecerá a partir de 2024/25, com o novo formato da Champions League e o Mundial de Clubes nos EUA. Falaremos sobre isso nas próximas colunas.
O que acontece no Brasil sobre direito de transmissão no futebol
Ainda sobre direito de transmissão no futebol, enquanto isso, no Brasil, parece que vivemos numa bolha, imune ao que se passa no mundo. Ainda se vende a ilusão de que a o Brasileirão vale muito mais do que a Globo paga. E para isso usam referências equivocadas, e preferem ignorar os movimentos em outras regiões.
Usam a LaLiga e a Premier League para vender a ideia de grandes receitas com direitos internacionais, casos consolidados e descolados das demais ligas.
O Brasileirão em termos de promoção internacional parece mais a Bundesliga e a Serie A que os irmãos ricos.
Usam referências de outros mercados sobre direito de transmissão no futebol, sem entender que o mercado brasileiro tem características próprias, como a predominância de TV aberta, é um meio relevante de distribuição. Comparam com países que vendem quase tudo em pay-per-view, concentrados em poucos players, tradicionais em seus mercados.
Forte União resolveu seguir a “tendência” europeia e os clubes venderam 20% das receitas futuras de transmissão, acreditado que elas duplicariam no Brasil.
Afinal, se a LaLiga e a Ligue 1 fizeram, então isso deve ser bom. Mas os clubes fizeram em conjunto, com uma história de negociações de direitos através das ligas. Sem risco de metade da liga ficar com 20% a menos da principal receita, como acontecerá no Brasil.
O que estão fazendo os streamings?
Muitos caíram no conto de que chegaremos a R$ 3 bilhões de receitas com TV, “porque os streamings virão com cheques gordos”, e “vamos pulverizar em inúmeras plataformas”.
Os streamings estão se unindo para reduzir custos, como vimos mais acima, e pergunte o que torcedores e veículos pensam do Paulistão à la Jack the Ripper.
Enquanto isso, nos mercados maduros e mais valiosos, as pontes são construídas com menos parceiros. Mas cada um vende seu peixe como quer.
Parceiros da indústria do futebol
O principal parceiro da indústria do futebol são as empresas que transmitem suas partidas, daí a importância de falarmos sobre direito de transmissão no futebol. É de onde ainda vem a maior receita, quem conecta o clube com seu torcedor, quem dá visibilidade ao parceiro comercial. Entender este mercado, antever seus movimentos, reconhecer e mitigar os riscos é fundamental para garantir a estabilidade do negócio.
Nas últimas colunas falamos justamente da bolha das apostas e do boom de naming rights.
Ações com mais ou menos risco, mas que buscam reduzir a dependência da TV, que aparenta ter menos dinheiro. Pelo menos até o próximo cavalo-de-pau da indústria.
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