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CEO da Lojas Renner (LREN3) diz que empresa pode ter de comprar produção no exterior
Empresas citadas na reportagem:
O presidente-executivo da Lojas Renner (LREN3), Fabio Faccio, ameaçou nesta segunda-feira (27) com importação de itens se o governo federal não taxar as vendas de produtos importados de até US$ 50, o programa Remessa Conforme.
“Vamos ter que fazer o que nenhuma empresa quer (…) e comprar produção no exterior”, disse Faccio em entrevista à Inteligência Financeira.
“Me perguntam muito por que a gente ainda não fez”, complementou.
Suas declarações surgem às vésperas da votação na Câmara dos Deputados de projeto que institui a cobrança de impostos sobre produtos importados de até US$ 50.
Atualmente, essas compras são isentas de impostos federais, mas sujeitas a uma alíquota de 17% de ICMS cobrada pelos estados.
Sobre produtos acima desse valor incide uma alíquota de 60%.
O caso expõe um crescente embate entre grandes varejistas brasileiros, como a Lojas Renner, e gigantes globais de comércio eletrônico, a exemplo de AliExpress, Shopee e Shein, que ganharam popularidade no Brasil.
A cobrança de imposto de importação sobre produtos dessas plataformas entrou no projeto que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover).
Embate entre popularidade e apoio à produção doméstica
A previsão inicial era de votação do projeto na semana passada na Câmara dos Deputados, mas ela foi adiada e pode acontecer até esta terça-feira (28).
Enquanto isso, representantes de entidades de classe, desde varejistas, indústrias e mesmo sindicatos de trabalhadores, vêm ampliando a pressão sobre o Congresso.
Para tentar convencer os parlamentares a acabar com a isenção, elas argumentam que o aumento das vendas de importados até US$ 50 está prejudicando a indústria e o varejo doméstico, com consequente perda de arrecadação e aumento do desemprego.
Nas contas do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), o governo federal já deixou de arrecadar cerca de R$ 67 bilhões entre Imposto de Importação e PIS/Cofins desde 2018 com esse setor.
Em contrapartida, um estudo da Tendências a pedido do Alibaba afirma que o comércio eletrônico internacional representa 0,5% das vendas do varejo brasileiro.
Lula fala em bugigangas
Porém, se a cobrança passar na Câmara dos Deputados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou que vetaria a medida.
“Nem sei se essas bugigangas competem com coisas brasileiras”, afirmou Lula na semana passada.
“Como você vai proibir pessoas pobres, meninas e moças que querem comprar uma bugiganga, um negócio de cabelo?”, acrescentou o presidente.
Para analistas, o governo Lula teme que a aprovação da cobrança comprometa seus níveis de aprovação, que já vêm caindo nos últimos meses.
Remessa Conforme: quem tem razão?
Aliás, outro ponto de discórdia entre empresários nacionais, é sobre quem é, afinal, o maior público comprador dos importados de até US$ 50.
Para Lula e parte do governo, a isenção garante à população de mais baixa renda acesso a produtos que não poderiam comprar de outra forma.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) rebate esse argumento, apoiando-se num estudo que revelaria que apenas 18% da população que ganha até dois salários mínimos compra em sites internacionais de produtos.
Para Faccio, da Renner, é enganoso o argumento de que a isenção valha apenas para uma lista limitada de itens de compra, ou quase só roupas.
Segundo ele, isso envolve desde remédios, produtos para pets, produtos eletrônicos e joias.
“Não são só bugigangas”, afirmou o executivo.
Para o CEO da Lojas Renner, também não é correto acusar os empresários brasileiros de defender protecionismo contra concorrência internacional.
“O que a gente quer é isonomia”, disse ele, alegando que, para dar condições equitativas para os produtores brasileiros, os importados deveriam ter uma sobretaxa média ao redor de 90%.
Ou seja, produtos hoje vendidos por e-commerces como a Shein por até R$ 250 poderiam chegar a até R$ 400 com os impostos.
Uma concorrência difícil
O caso evidencia as dificuldades de indústrias e varejistas brasileiros, já enfraquecidos pelos efeitos conjuntos de Covid, inflação e juros altos, de competir com grandes plataformas globais de comércio eletrônico, com estrutura de custos muito inferior.
Isso, sem contar a complexa e pesada carga de impostos, que torna os produtos brasileiros muito mais caros na comparação internacional.
Nesse sentido, o BTG Pactual publicou na semana passada relatório mostrando essas disparidades.
Então, o estudo mediu preços da chinesa Shein em vários mercados.
Dessa forma, concluiu que seus produtos no Brasil são em média 28% mais baratos do que seus comparáveis na Lojas Renner, 31% menos do que na Riachuelo e 33% abaixo dos da C&A.
Ainda assim, a mesma cesta de oito produtos em 15 países aqui é 70% mais cara do que nos Estados Unidos.
Para o BTG, movimentos de algumas dessas plataformas de aumentar a venda de produtos fabricados no Brasil devem dar a elas competitividade ainda maior.
Por outro lado, elas terão limitações mais parecidas com as que enfrentam os varejistas brasileiros.
“Ela enfrentará desafios semelhantes no aumento da capacidade de produção local, embora a sua rapidez de colocação no mercado e sua poderosa abordagem de mídia social continuem a ser uma enorme força num mercado competitivo”, concluiu o BTG.
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