Campos Neto: reajuste dos combustíveis foi correto, mas inflação subirá até o fim do ano

Chefe do Banco Central também explicou voto de desempate que resultou no corte de 0,5 ponto da Selic

O reajuste dos combustíveis foi acertado, disse nesta terça-feira (22) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

“O reajuste do preço dos combustíveis pela Petrobras foi uma medida correta”, disse Campos Neto durante palestra na 24ª Conferência Anual do Santander.

“Mas isso deve fazer a inflação subir até o final do ano”, acrescentou ele.

Na semana passada, a Petrobras (PETR4) anunciou aumento de R$ 0,41 por litro no seu preço médio de venda de gasolina para as distribuidoras.

A decisão veio na esteira de aumento das cotações internacionais do barril do petróleo.

A medida levou vários economistas a elevarem as projeções da inflação medida pelo IPCA para 2023.

O episódio aconteceu dias após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC ter iniciado um ciclo de cortes da Selic, reduzindo a taxa de 13,75% para 13,25% ao ano.

O Copom também indicou novos cortes da taxa básica nos próximos meses, considerando um cenário inflacionário melhor.

Voto de Minerva

Questionado sobre seu voto na última reunião do Copom, que desempatou um debate sobre o qual deveria ser a magnitude do corte da Selic, Campos Neto explicou que essa divisão já vinha desde o encontro anterior do comitê, em junho.

Na reunião de junho, o Copom havia decidido por unanimidade manter a Selic em 13,75% ao ano.

Porém, parte dos nove diretores do órgão defendia que o comunicado sobre a decisão deixasse em aberto a possibilidade de uma redução na reunião seguinte.

No entanto, outros defendiam que a ata que detalha as discussões do encontro não mencionasse a chance de corte da taxa.

De acordo com Campos Neto, entre uma reunião e outra houve uma melhora do cenário de inflação.

Além disso, havia uma discussão no governo sobre a possibilidade de o Conselho Monetário Nacional (CMN) elevar a meta de inflação a partir de 2026.

No entanto, o CMN manteve no fim de junho a meta em 3% ao ano.

“A dinâmica da inflação mudou de uma reunião para outra”, afirmou Campos Neto.

Com isso, os membros do Copom que defenderam a menção ao corte, ele inclusive, passaram a defender corte da 0,5 ponto da Selic.

Foram cinco votos com esse entendimento. Os outros quatro diretores, que votaram em redução de 0,25 ponto, foram vencidos.

Rotativo

No evento, Campos Neto voltou a defender mudanças no funcionamento do parcelado sem juros do cartão de crédito.

Segundo o presidente do BC, o cartão de crédito representa cerca de 40% do consumo no Brasil, mais do que em qualquer país por larga diferença.

E cerca de 1/3 das compras no cartão são feitas por meio do parcelado sem juros, disse.

“Sabemos que não existe crédito sem juros, logo essa conta está sendo paga de alguma forma”, disse o chefe da autoridade monetária, comparando a relação com a meia entrada do cinema.

Campos negou que tenha defendido o fim da modalidade do parcelado sem juros.

“É importante, não pode ter ruptura”, disse ele.

Porém, uma das consequências desse modelo é que o crédito rotativo tem uma taxa de juros muito alto, o que influencia no nível de inadimplência desse produto, ao redor de 50% de inadimplência.

“Ainda não tem como dizer qual será a solução, mas não fazer nada talvez possa ser pior”, concluiu.

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