Anfavea critica taxa de juros ‘incompatível com expectativa de crescimento’ do setor após queda na produção

Vendas de automóveis subiram em abril na comparação com o mesmo mês de 2022, diz a associação do setor

A produção de veículos em abril ficou menor do que no mesmo período de 2022. A queda de demanda interna e nos principais mercados de exportação faz com que a indústria automobilística não consiga programar aumento de produção.

Com 178,9 mil unidades, a produção em abril caiu 3,9% na comparação com o mesmo mês do ano passado, uma época que foi fortemente marcada pela falta de componentes, principalmente semicondutores.

No acumulado do ano, no entanto, houve aumento de 4,8%, com 714,9 mil veículos emplacados no quadrimestre.

Segundo a Anfavea, a associação que representa as montadoras, os números estão abaixo do que foi calculado para esse período. “Temos condições de compensar, mas o mercado precisa reagir”, disse hoje o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite.

Nível de juros “incompatível”

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, disse, nesta segunda-feira, que o atual nível de juros “é incompatível com a expectativa de crescimento da indústria”.

Segundo o dirigente, o setor apoia a independência do Banco Central e entende que a taxa de juros depende de uma série de fatores, como inflação, receita e mercado externo. “Mas, com esses juros o mercado não cresce”, destacou.

Leite mostrou-se preocupado com a situação do varejo de veículos, que se comporta de forma mais tímida do que a venda direta que segue, sobretudo para locadoras de automóveis. E previu problemas na indústria caso o quadro se mantenha. “Vamos continuar dando notícia de paralisação nas fábricas ou as notícias serão piores?”, questionou.

Leite integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado “conselhão de Lula”, que reúne integrantes do setor privado, sociedade civil e que pretende repetir a fórmula de um órgão consultivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, “buscar alternativas” para compensar a alta dos juros foi uma das discussões na sessão inaugural do conselho na semana passada.

Uma das resoluções da Anfavea, tiradas dessas primeiras discussões, foi um encontro com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, marcada para ocorrer ainda na tarde desta segunda-feira. Segundo Leite, o foco do encontro será a utilização do Finame como linha de financiamento para veículos pesados e também a discussão de linhas especiais para exportação de veículos.

Vendas sobem 9%

Apesar de crescimento nas vendas de veículos em abril, tanto na comparação mensal quanto no acumulado do ano, o setor automotivo mantém um ritmo de atividade bem abaixo da sua capacidade e das projeções para o ano, o que torna ainda difícil operar sem paralisações esporádicas das fábricas de automóveis e diminuição na quantidade de turnos nas linhas de caminhões.

Com 160,71 mil veículos, a venda interna avançou 9,2% em abril na comparação com o mesmo mês do ano passado. No quadrimestre, foram vendidas 632,5 mil unidades, um avanço de 14,4%.

“Há um ano passávamos por uma crise de oferta muito forte pela falta de semicondutores”, destacou nesta segunda-feira, Márcio de Lima Leite, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ao divulgar os resultados do setor. Segundo ele, naquele momento, o mercado estava muito limitado pela impossibilidade de produzir para atender a demanda. “Havia até filas de espera por carros”, destacou.

Abril também foi um mês fraco, disse Leite, em razão dos feriados. A média diária de emplacamentos foi uma boa notícia. Aumentou de 7,7 mil veículos um ano atrás para 8,9 mil. Mas os estoques não se alteraram a despeito da série de paralisações de produção nas fábricas. Em abril, a quantidade de veículos nas fábricas e nas concessionárias manteve-se exatamente igual ao de março: suficiente para 38 dias de vendas.

Segundo Leite, esse estoque certamente teria crescido não fossem as paralisações programadas pelas montadoras, por meio de férias coletivas ou suspensão temporária dos contratos de trabalho.

No segmento de caminhões, houve uma queda de 16,6% nas vendas de abril na comparação com o mesmo mês do ano passado, com total de 7,8 mil unidades emplacadas. Já no acumulado do ano, com 36,4 mil unidades, a venda de caminhões cresceu ligeiramente, 0,6%.

No caso dos caminhões, trata-se de um reflexo direto do aumento dos preços provocado pelos novos equipamentos de controle de emissões, que atendem à legislação que entrou em vigor em janeiro. As. montadoras têm reduzido o número de turnos para equilibrar a produção à queda da demanda.

Exportação cai 24%

Quedas de demanda nos principais mercados externos da indústria automobilística provocaram uma retração nas exportações no primeiro quadrimestre, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgados nesta segunda-feira.

Somente em abril, o embarque de 34 mil veículos representou uma queda de 24,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado. A receita, por outro lado, cresceu 12,9%, num total de US$ 905,3 milhões. No quadrimestre, o volume exportado atingiu 146,3 mil veículos, uma queda de 4,3%. E a receita, no período, US$ 3,6 bilhões, alta de 25,4%.

O aumento da receita se deve, em parte, pela venda externa de veículos de maior valor a mercados mais exigentes. Houve uma inversão de posições nos destinos, com o México passando à frente da Argentina. Em um ano, a fatia do mercado mexicano nas exportações brasileiras de veículos aumentou de 16% para 37% enquanto que a do argentino saiu de 27% para 30%. A participação da Colômbia caiu de 19% para 9% e a do Chile, de 18% para 7%.

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