Alta de preços no atacado sinaliza inflação maior ao consumidor, projeta economista

Quebra de safra por causa da seca e a valorização do minério de ferro estão entre as principais pressões

O resultado do IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) de janeiro já sinalização uma inflação para o consumidor mais alta do que a que vinha sendo esperada para 2022. A avaliação é do economista André Braz, responsável pelo índice. Segundo ele, o cenário reflete principalmente pressões no preço de matérias-primas brutas, como soja e milho, em função de questões climáticas, mas também incertezas em torno do cenário internacional, que afetam o câmbio e os combustíveis, e apontam para preços maiores ao consumidor.

“O IPA antecipa impactos que ainda vão chegar no consumidor. A gente tinha no radar para 2022 um impacto menor na agricultura. A alta dos preços de alimentos foi de 16% em 2020 e de 8% em 2021, não foi pequena. Esse ano eu previa em torno de 4%”, afirmou Braz, explicando a piora de sua estimativa. “Mas dado que a seca afeta culturas importantes, a gente está com cenário mais pessimista para alimentos, algo em torno de 7%. Isso acelera a expectativa para a inflação. Se meu número antes era de 5,2% para a inflação ao consumidor, agora está mais perto de 6%”.

O IGP-DI subiu 2,01% em janeiro, bem acima da taxa de 1,25% observada em dezembro de 2021. A maior influência no resultado veio do IPA, que teve alta de 2,57%, após subir 1,54% no mês anterior. O destaque negativo veio de matérias-primas brutas, que avançou 4,42% em janeiro antes 4,40% em dezembro.

“São dois meses de alta acima de 4% no grupo matéria-prima bruta. E esse grupo reúne o minério de ferro e a soja, que são os itens de maior peso no IPA. O minério tem a ver com apetite do mercado mundial, que se sustenta há várias semanas. Como se já não fosse suficiente, os grãos refletem o problema da seca no sul do país. Como são safras de ciclo mais longa, se quebram, levam mais tempo para se recuperar. É um impacto que vai chegar em outros alimentos, como aves, que usam ração, e também a carne bovina. O boi também depende das condições de pastagem”, explicou André Braz.

O economista lembrou ainda o conturbado cenário geopolítico por causa da crise entre Rússia e Ucrânia, que tem potencial para desestabilizar o mercado de petróleo, e o efeito da incerteza das eleições e da situação fiscal no câmbio.

“A preocupação com a inflação vai além de alimentos. Temos questões políticas no mundo que abrem possibilidade de impacto nos derivados de petróleo. Com isso, se repetiria um pouco a história do ano passado, em que os combustíveis foram os vilões. Há também incerteza doméstica por causa das eleições e da situação fiscal que pode afetar o câmbio. São questões que podem ser fonte de pressão inflacionária também. É mais um ano difícil para a inflação”, completou Braz.

Com reportagem do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico