Agenda climática: retrospectiva e novos desenvolvimentos

A COP28 será mais um capítulo dessa história e com a urgência do tema a questão sobre como acelerar a transição energética deverá estar no palco central

Quando olhamos para o passado recente, o ano de 2015 foi um marco na agenda climática: tivemos a assinatura do Acordo de Paris durante a 21° Conferência das Nações Unidas.

O documento reúne esforços dos signatários para manter a temperatura do planeta com uma elevação “muito abaixo de 2°C” mas “perseguindo esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C”.

Foi nesse ano também que as Nações Unidas lançaram a Agenda 2030, um plano de ação para a humanidade, para o planeta e para a prosperidade.

Dessa maneira, esta agenda prevê que os governos, o setor privado, a sociedade civil e, claro, os investidores compartilhem responsabilidades.

Para medir os impactos durante essa trajetória, a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Após 6 anos da vigência deste acordo, durante a COP26 realizada em 2021, o chamado Pacto de Glasgow trouxe avanços importantes dessa agenda dentre os quais vale destacar as regras para um mercado de carbono global, destravando o chamado Artigo 6 do Acordo de Paris.

Assim, já na COP27, o acordo sobre a criação de um fundo de compensação aos países mais vulneráveis foi o grande marco do encontro, uma vez que era uma demanda de décadas dos países mais afetados pelas alterações climáticas.

Crise climática: perdas de US$ 295 bilhões

Se por um lado seguimos com os avanços na agenda climática, os eventos climáticos extremos também se mostraram mais presentes reforçando a relevância do direcionamento adotado para o seu combate.

Atualmente nos deparamos constantemente com notícias sobre como determinadas regiões vem sofrendo com secas enquanto outras enfrentam inundações sem precedentes.

O aumento da frequência de ciclones e incêndios, bem como ondas de calor mais pronunciadas também são exemplos reais destes eventos em 2023, fazendo com que as perdas econômicas sejam estimadas em US$ 295 bilhões.

Para colocar esse valor em perspectiva, uma publicação feita pela United Nations Office for Disaster Risk Reduction mostrou que entre 2000 e 2019, os eventos climáticos extremos geraram perdas econômicas em torno de US$ 2,97 trilhões.

O mesmo estudo mostra que esses custos foram 80% maiores em relação ao período entre 1980 e 1999.

Dessa maneira, vale reforçar que até pouco tempo atrás existia um debate sobre o aumento da intensidade desses eventos.

Os últimos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU encerram essa dúvida, sinalizando de forma clara tanto o aumento da frequência bem como da intensidade dos eventos climáticos extremos.

Combate deve seguir em linha com Acordo de Paris

O combate a esse desafio deve seguir em linha com o Acordo de Paris, e passa necessariamente por uma maior utilização de energias renováveis rumo à transição para uma economia mais eficiente em carbono.

Se entre 2015 e 2020 o investimento em energia limpa cresceu apenas 2% ao ano, esse ritmo foi acelerado para 12% nos anos subsequentes fazendo com que esses investimentos representem em torno de 80% do investimento total do setor de energia.

O surgimento de novos mercados de carbono regulados também contribuem positivamente com o avanço dessa agenda uma vez que colocam um preço nas emissões de carbono equivalente, o que acaba por estimular a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e fontes de energias renováveis.

Juntam-se ao time das energias solar, eólica e hídrica, tecnologias como a captura de carbono e o hidrogênio verde, que têm o potencial de serem protagonistas na matriz enérgica que se desenha para o futuro próximo.

Crise climática: sinais de atenção no horizonte

Mesmo com todos esses avanços, sinais de atenção surgem no horizonte.

Por exemplo, um novo relatório da UNEP – “Lacuna de Adaptação 2023: Subfinanciado e Mal Preparado” – revela serem insuficientes os recursos para que países em desenvolvimento consigam realizar ações de adaptação frente a essa nova realidade.

Novos estudos estimam que a trajetória desenhada pelo Acordo de Paris fica cada vez mais distante, contribuindo para que a margem de manobra em relação às emissões de carbono seja reduzida.

Dessa forma, um aumento no direcionamento dos recursos para seguir fomentando essa transição se torna necessário.

Nesse sentido o papel dos mercados de capitais é vital, seja na construção de soluções transparentes e que estejam alinhadas a regulações que surgem para auxiliar nessa jornada ou seja na elaboração de estruturas que consigam conectar agentes relevantes desse ecossistema.

Na indústria de investimentos, mais especificamente na gestão de recursos, engajamentos coletivos como os “Investidores pelo Clima” também ajudam a trazer mais conhecimento sobre a importância dessa agenda. Iniciativas como as recomendações da Task Force on Climate Related Financial Disclosures (TCFD) para considerar os riscos e oportunidades das mudanças climáticas geram elementos úteis para avaliar a resiliência dos portfólios e implicações em cada um dos cenários, impactando cada vez mais as decisões estratégicas de alocação de capital.

A COP28 será mais um capítulo dessa história e com a urgência do tema a questão sobre como acelerar a transição energética deverá estar no palco central. Fica claro o tamanho do desafio, mas ao mesmo tempo, da oportunidade de toda essa revolução que estamos vivendo, pois estamos tratando de uma temática universal e que engloba toda a humanidade.

Fica, portanto, a pergunta: Como estamos agindo nesse contexto?