Caixa Econômica lança conta digital e home broker 2.0 até abril, diz presidente do banco

Em entrevista à Inteligência Financeira, o presidente Carlos Vieira também revelou planos para o Drex e mais de R$ 10 bilhões 'escondidos' no banco

A Caixa Econômica Federal deve lançar até abril sua versão de conta digital, enquanto tenta reagir à crescente dominância das fintechs.

Em entrevista exclusiva para a Inteligência Financeira, o presidente do banco estatal, Carlos Vieira, revelou que a ofensiva digital da Caixa inclui ainda a modernização do home broker, para concorrer também com as plataformas digitais de investimentos.

“Meu objetivo é que em 90 dias a gente tenha essa conta digital pronta e disponibilizada para nosso público interno e externo”, disse ele.

Vieira assumiu o comando do banco em novembro passado, com a promessa de tirar o atraso da Caixa no universo digital.

Maior instituição financeira do país, com mais de 150 milhões de clientes, a Caixa tem uma porção significativa das transações realizadas nas agências físicas.

Uma parcela majoritária desse público é formada por beneficiários de programas como Bolsa Família, FGTS, PIS, etc.

Além disso, falhas nos aplicativos e insatisfação de clientes com atendimentos demorados nas agências colocam o banco no topo de rankings de reclamações, como do Reclame Aqui.

“A gente tem essa clareza da necessidade de atualização da Caixa nesse mundo”, afirmou.

Caixa não tem

A Caixa até fez uma primeira investida digital mais vigorosa em 2020 por meio do Caixa Tem.

O aplicativo foi o principal canal de pagamento do auxílio emergencial do governo federal durante a pandemia.

No ápice, o serviço chegou a ter uma base com mais de 100 milhões de usuários.

Isso levou o então presidente do banco a planejar a listagem em bolsa do negócio que, segundo ele, poderia valer mais de R$ 100 bilhões.

No entanto, os repetidos problemas de tecnologia e a falta de uma prateleira mais robusta de produtos fez o Caixa Tem fracassar em tornar usuários em clientes.

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Enquanto isso, bancos digitais como o Nubank e o Inter, além das carteiras digitais PicPay e Mercado Pago, têm formado dezenas de milhões de clientes.

Para tentar virar o jogo, Vieira acena com um plano mais elaborado.

Em janeiro, o banco aprovou um programa de demissão voluntária (PDV) para reduzir 3.200 posições tradicionais.

Simultaneamente, deu sinal verde para um concurso de 4 mil vagas, metade delas para profissionais de tecnologia.

“Temos agora que acelerar internamente o nosso processo de chegar ao patamar digital dos outros bancos”, afirmou Vieira.

Parte das soluções, admite, terá que envolver parcerias com empresas privadas.

Numa delas, já em fase de testes com a Microsoft, a Caixa deve lançar nos próximos meses uma aplicação para o Drex, o real digital.

Na prática, o serviço permitirá que clientes ‘armazenem’ recursos nos telefones celulares, podendo fazer pagamentos e transferências mesmo offline.

Bilhões ‘escondidos’

As iniciativas, segundo Vieira, fazem parte do trabalho de tornar o banco mais eficiente.

Embora seus ativos totais de R$ 1,7 trilhão em setembro representassem quase 80% do montante do Banco do Brasil (BBAS3) no período, o lucro da Caixa é menos da metade do apresentado pelo rival também controlado pelo governo federal.

Para Vieira, mesmo considerando o papel social da Caixa e suas implicações para a lucratividade, o banco tem grandes espaços para melhorar sua eficiência.

Como ilustração, ele revelou ter descoberto a soma de 1,8 mil contratos de clientes em atraso com o banco, que somam mais de R$ 10 bilhões.

Ou seja, uma fragilidade do banco no serviço de cobrança.

“É um número estarrecedor”, afirmou.

“Não somos cobrados a ter um ROE (rentabilidade) igual ao do mercado, mas eu também preciso dar isso se não não estou cumprindo meu papel”, concluiu.