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Americanas (AMER3): como os minoritários avaliam o plano de recuperação da companhia?
“É rir para não chorar”. É assim que um investidor descreveu a reação dos acionistas minoritários da recuperanda Americanas (AMER3), cujo plano de reestruturação para sair da recuperação judicial envolve um aporte de R$ 10 bilhões e a venda de um jatinho corporativo.
A impressão desta pessoa ouvida pela Inteligência Financeira é de que nenhum dos acionistas minoritários levou o plano de recuperação da varejista a sério.
Em um grupo de WhatsApp no qual participam apenas os minoritários, as mensagens são debochadas.
O advogado, que representa os acionistas na Justiça em pelo menos três ações, diz que o plano é “midiático”. Ou seja: foi feito para ter uma boa recepção na mídia.
O que dizem os minoritários de Americanas (AMER3)
Para esta pessoa que está a par do grupo de acionistas minoritários de Americanas, o sentimento de desespero faz com que muitos acionistas reagissem com ironia ao plano de recuperação judicial. “São pessoas que perderam tudo”, diz.
O plano de recuperação judicial, detalhado pela Americanas em fato relevante divulgado na segunda-feira (20), envolve o aporte de R$ 10 bilhões em capital dos três sócios controladores da varejista e donos da 3G Capital: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Além disso, está prevista a venda de um jatinho corporativo avaliado em R$ 40 milhões e a venda da participação de 70% na Uni.Co, que une as marcas Imaginarium e Pucket, e do Hortifruti Natural da Terra.
A varejista espera aumentar o caixa em pelo menos R$ 3 bilhões com a venda dos ativos, mas analistas alegam que a companhia deve se desfazer desses ativos por um preço menor.
Os R$ 2 bilhões fariam parte de uma recompra de dívida junto aos principais credores de Americanas, que são os maiores bancos comerciais do Brasil.
No dia seguinte após a divulgação do plano de recuperação judicial, AMER3 subiu 7% na B3. No entanto, desde o início da semana, a ação acumula queda de 8,26% até às 12h33 desta sexta-feira (24)
Plano da Americanas não é suficiente, diz advogado dos minoritários
Contudo, para o advogado Daniel Gerber, representante dos acionistas minoritários na Justiça, a injeção de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência para salvar a Americanas não é o suficiente, considerando que a dívida da varejista é de R$ 43 bilhões.
“Só que, indo além, a entrega de um avião como parte desse plano escancara o caráter midiático”, diz Geber. “Porque, matematicamente, o avião não faz diferença alguma nesta conta. Entretanto, psicologicamente, ele gera impressão do público de que aqueles que estão cedendo o avião realmente estão perdendo alguma coisa, quando na verdade não estão perdendo nada.”
O avião corporativo avaliado em R$ 40 milhões, nesse sentido, seria “a cereja do bolo que ninguém vai comer”, diz Gerber.
O advogado, junto aos acionistas minoritários de Americanas, chegou a pedir o bloqueio e confisco de bens de Lemann, Telles e Sicupira na Justiça.
No momento, circulam três ações diferentes entre Rio e São Paulo em nome dos minoritários:
- Um pedido cautelar, em trâmite na 4ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro;
- E duas notícias de fato, que circulam nas Procuradorias da República carioca e paulista cada uma.
Mesmo que a Americanas apresente um pedido de recuperação judicial, diz Gerber, o dever de indenizar os danos causados por uma fraude ainda cabe aos acionistas de referência, as ‘pessoas físicas’ por trás da empresa.
“A recuperação judicial é um problema de questão comercial. Não diz respeito às vítimas do delito que merecem ser indenizadas”, afirma Gerber, explicando que, para quem vendeu a ação no dia seguinte às denúncias de inconsistências contábeis, a recuperação pouco importa.
“Praticamente todos os acionistas minoritários venderam as ações da Americanas, porque praticamente todas as corretoras ligaram para os clientes, antes que as ações derretessem até o chão.”
Daniel Gerber, advogado dos acionistas minoritários de Americanas
Gerber: MP ignora indenização
Ainda de acordo com o advogado, o Ministério Público e o Poder Judiciário estariam acompanhando a investigação em ritmo de tartaruga, o que gera estresse entre os acionistas minoritários.
Gerber explica que o procedimento padrão da Polícia Federal para casos de fraude, lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema financeiro e, por fim, organização criminosa é adotar primeiro o bloqueio de bens. Em seguida, determinar o afastamento de executivos e cargos diretivos.
“O dever de indenizar os acionistas em decorrência da prática de um crime vem sendo surpreendentemente ignorado pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Estamos falando de um dos maiores, senão o maior escândalo da bolsa brasileira. Na esfera penal, estas medidas que são tradicionalmente adotadas em qualquer investigação sequer são cogitadas”, conclui o advogado.
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