Petrobras (PETR4): entenda como parte do mercado avalia a empresa neste momento

Ações da Petrobras: analistas dizem que dividendo mantém gestoras no papel; preocupações envolvem também investimentos fora do core da empresa

A recuperação do patamar de R$ 40 das ações da Petrobras (PETR4) depende principalmente do pagamento de dividendos extraordinários retidos, segundo analistas ouvidos pela Inteligência Financeira. Além disso, o desempenho da petroleira na bolsa estará relacionado ao destino dos investimentos, mais do que propriamente de quem comandará a empresa.

Assim, para a Guide Investimentos o futuro deve ser de pagamento de dividendos e manutenção do presidente atual da empresa, Jean Paul Prates, o que favoreceria o preço dos ativos a seguir no caminho da valorização mesmo no curto prazo.

Dessa forma, há rumores de que Lula articula a entrada de Aloisio Mercadante, presidente do BNDES, no posto máximo da companhia. A apuração é de Valdo Cruz, Andréia Sadi e Marina Franceschini, em reportagens veiculadas no G1 e Globonews.

Foto de Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. Ele é homem, tem um bigode branco, veste um terno preto e gravata vermelha.
Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Pagamento dos dividendos é principal ponto de atenção

Então, a corretora está otimista com relação ao pagamento de dividendos, embora reconheça que há entraves, especialmente no convencimento do presidente Lula para a liberação do valor aos acionistas.

Por outro lado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, segundo apuração da jornalista Malu Gaspar, de o O Globo, defende a liberação dos dividendos – retidos em março -, deve apresentar proposta ao presidente da República.

Além disso, a Guide acredita no pagamento dos dividendos retidos da Petrobras (PETR4) porque isso já aconteceu dentro do governo Lula, quando os valores retidos em 2022, na gestão anterior, foram pagos no primeiro ano do atual governo.

“Isso mostra que o pagamento de dividendos extraordinários retidos não é 100% repudiado pelos representandos do governo, porque já aconteceu. Portanto, é possível, sim, que seja aprovado (o pagamento), e estamos otimistas com relação a isso”, diz Matheus Haag, analista da Guide Investimentos.

Gestoras se apegam a dividendos para manter posição, diz RB

Assim, apesar dos rumores relacionados à troca na gestão, o que deve pesar sobre o futuro do preço das ações da Petrobras (PETR4) é mesmo o pagamento de dividendos, segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

“Desde o ano passado, a gente vê nas gestoras a decisão de ficar na ação por conta dos dividendos. Portanto, essa sinalização (de pagamento dos valores) está em linha com o risco que as gestoras estão topando tomar”, comenta Cruz.

Os dividendos extraordinários da Petrobras (PETR4) somam R$ 44 bilhões ou R$ 3,3 por ação, “implicando em um rendimento potencial de 8% em relação aos preços atuais, caso os recursos sejam distribuídos em sua totalidade”, ressalta a Genial Investimentos em relatório desta sexta.

Riscos com investimentos fora do core

A Genial avalia a distribuição como positiva, mas diz que há uma armadilha para o preço dos papéis mais adiante, “caso os recursos não sejam totalmente distribuídos”. Além disso, a corretora teme a possibilidade do “uso desses recursos em projetos pouco interessantes”.

Embora a troca do presidente pudesse empurrar o preço das ações da Petrobras para baixo no primeiro momento, não é certo que Mercadante teria iniciativas tão afastadas do que vem fazendo Prates, segundo alguns analistas.

Para Cruz, da RB, as mudanças nos últimos anos relacionadas à governança na Petrobras, com criação de freios e contrapesos para ao menos limitar a participação do governo nas decisões da empresa, têm sido eficientes no sentido de conter a intervenção, “evitando até que o próprio Prates traga mais para dentro das decisões da empresa a voz do Lula”, avalia.

Ainda assim, os investidores, de maneira geral, encaram uma mudança na gestão da Petrobras agora como uma tentativa de Lula fazer ecoar mais sua vontades dentro da companhia, de aumentar a participação da Petrobras em políticas estratégicas para o governo em detrimento dos interesses dos acionistas.

Um dos exemplos apontados por Cruz é a crença de Mercadante de que a Petrobras deve retomar sua participação como condutora do desenvolvimento da indústria naval brasileira, com o mercado bastante desconfiado do êxito de iniciativas como essa.

“A gente vê que a troca (na gestão) seria no sentido de aumentar bastante investimento em novas iniciativas. Se fosse algo como investir na exploração da Margem Equatorial e outros lugares para descobrir petróleo em alto mar, por exemplo, o mercado não acharia ruim. Contudo, atuar fora do core da empresa pesa muito contra a ação neste momento”, arremata o estrategista da RB.

Atual presidente também enfrentou resistência

Lula e Jean Paul Prates, presidente da Petrobras
O presidente Lula e o presidente da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, na cerimônia de retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O atual presidente da empresa também foi mal visto pelo mercado quando indicado por ser um petista do núcleo duro do partido e alinhado a uma linha de aumento de investimentos via participação estatal.

Ainda assim, os papéis da empresa registraram ganhos importantes no decorrer de sua gestão, com as ações preferencias saltando de R$ 24 em dezembro de 2022 para R$ 42 no seu melhor momento.

“Hoje, o mercado vê o Prates como boa indicação, não porque tem feito as melhores escolhas para o acionista, mas porque se saiu melhor que o esperado”, avalia Haag, da Guide.