Ações da Alpargatas, dona da Havaianas, fecham em queda de 18%

“A deterioração na demanda parece ser maior do que o esperado”, disse o Citi

Confira o desempenho das ações da Alpargatas, dona da Havaianas - Foto: divulgação
Confira o desempenho das ações da Alpargatas, dona da Havaianas - Foto: divulgação

As ações da Alpargatas (ALPA4; ALPA3), dona da marca Havaianas, lideram as perdas no pregão de hoje da B3 após a companhia divulgar na noite de quinta seus resultados do quarto trimestre durante esse início da temporada de balanços relativa ao último quarto de 2022.

No fechamento, os papéis preferenciais da companhia caíam 18,67%, a R$ 9,58, e os ordinários, menos líquidos, registraram queda de 14,47%, a R$ 9,51. O volume financeiro das ações PN já passaram dos R$ 337 milhões, contra R$ 70,5 milhões em todo o pregão de ontem.

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A dona da Havaianas registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 21 milhões no quarto trimestre do ano passado, revertendo o lucro de R$ 303,1 milhões no mesmo período de 2021. Já o volume de vendas de Havaianas no quarto trimestre foi de 69 milhões de pares, queda de 11% no comparativo anual.

Em relatório, o Citi destacou que os resultados da Alpargatas no quarto trimestre foram fracos, com Ebitda abaixo do esperado, após desempenho ruim no Brasil.

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Já os analistas da XP lembraram que a dependência das vendas no Brasil dentro do varejo alimentar acabou prejudicando o resultado no período.

Prejuízo de R$ 21 milhões com aumento de custos

A Alpargatas, dona da Havaianas, registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 21 milhões no quarto trimestre do ano passado, revertendo o lucro de R$ 303,1 milhões no mesmo período de 2021. Entre janeiro e dezembro, o lucro foi de R$ 692,6 milhões, recuo de 84,3% em relação ao mesmo intervalo de 2021.

A companhia destaca que os resultados não são comparáveis em razão da aquisição de participação na Rothy’s em dezembro de 2021.

No terceiro trimestre, a Alpargatas já havia sofrido queda de 71,3% no lucro. Em sua divulgação de resultados, a companhia afirma que o desempenho operacional do ano passado “desapontou”, enquanto os maiores custos levaram os resultados financeiros a ficarem abaixo das expectativas.

O presidente da Alpargatas, Roberto Funari, afirma que a companhia passou por um ano desafiador nos cenários nacional e internacional. “As vendas no canal alimentar foram afetadas pela renda da população pressionada e pela inflação, então produtos discricionários como chinelos”, afirmou ao Valor.

Além disso, os dias mais frios e chuvosos vistos no terceiro trimestre persistiram no período seguinte, o que afetou novamente as vendas na região Sudeste. A receita da companhia no quarto trimestre cresceu 3,2% no comparativo anual, para R$ 1,1 bilhão. Já no acumulado do ano, a receita somou R$ 4,18 bilhões, alta de 5,9%.

O volume de vendas de Havaianas no quarto trimestre foi de 69 milhões de pares, queda de 11% no comparativo anual. No Brasil, o volume chegou a 62 milhões de pares vendidos, recuo de 12% na mesma base. A Havaianas internacional reportou aumento de 7% em seu volume, com 7 milhões de pares vendidos.

O lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (Ebitda) somou R$ 46,9 milhões entre outubro e dezembro, queda de 72,3%. A margem Ebitda encolheu 11,6 pontos percentuais, para 4,2%.

Já o Ebitda recorrente recuou 15,2% no comparativo anual, para R$ 152,6 milhões, enquanto a margem Ebitda recorrente ficou em 13,8%, queda de 3 pontos percentuais.

De acordo com Funari, a Alpargatas teve custos adicionais de armazenagem em razão de excedente de estoques. Já os custos de matéria-prima, embora tenham crescido em relação ao mesmo trimestre de 2021, indicam uma desaceleração no ritmo de alta.

As despesas operacionais cresceram 26,8% no comparativo anual, somando R$ 412,2 milhões no último trimestre do ano passado, e entre janeiro e dezembro o montante foi de R$ 1,54 bilhão, avanço de 15,2% ante 2021.

Parte das perdas da Alpargatas foram compensadas por repasse de custos nos produtos. A receita líquida por par no Brasil avançou 17%, para R$ 15, e em moeda constante a alta no mercado internacional foi de 11%, para R$ 28 o par.

Com isso, o lucro bruto por par foi de R$ 6 no Brasil, alta de 9%, e de R$ 14 no exterior, ganho de 10% em moeda constante.

Citi: resultado abaixo do esperado

Os resultados da Alpargatas no quarto trimestre foram fracos, com receita e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) abaixo do esperado, após desempenho ruim no Brasil, diz o Citi.

Os analistas liderados por João Pedro Soares escrevem que a companhia continuou a sentir impactos do cenário macroeconômico desafiador no país, o que acabou afetando seus volumes.

“A deterioração na demanda parece ser maior do que o esperado e esperamos comentários da companhia sobre as perspectivas de recuperação”, comentam. A Alpargatas também sentiu retração nas margens.

As operações internacionais da companhia também tiveram números fracos, mas dentro do esperado, com sazonalidade negativa nos Estados Unidos e na Europa por conta do inverno.

O Citi tem recomendação de compra para Alpargatas, com preço-alvo em R$ 21, potencial de alta de 78,2% sobre o fechamento de ontem.

Provisão de R$ 6,7 milhões referente a Americanas

A fabricante de calçados Alpargatas, em seu balanço do quarto trimestre de 2022, provisionou o valor de R$ 6,7 milhões referente a operações com a Americanas. O valor diverge dos R$ 2,2 milhões que constavam na lista de credores da Americanas, divulgada em 25 de janeiro.

Na divulgação de resultados, a Alpargatas menciona que houve um impacto de R$ 6,7 milhões em provisão para devedores duvidosos (PDD) “do recebível de um cliente específico”. Já nas notas explicativas a companhia afirma que “efetuou a provisão de 100% dos recebíveis do cliente ‘Lojas Americanas’”.

O presidente da Alpargatas, Roberto Funari, afirma que a operação da Americanas é significativa para o faturamento da companhia. “Nesse momento não temos uma dependência material da Americanas. Estamos cobertos no pior cenário”, afirmou ao Valor.

O executivo afirma ainda que a companhia ainda negocia com a Americanas, “mantendo a venda à vista”, e que está “monitorando a situação” de recuperação judicial da varejista.

Revisão de custos até 2024, pelo menos

O programa de readequação de custos da Alpargatas deve seguir pelo menos até 2024, de acordo com o presidente da companhia, Roberto Funari. A Alpargatas promoveu há pouco teleconferência de resultados do quarto trimestre do ano passado.

De acordo com o executivo, a fabricante de calçados está fazendo economia em áreas que tenham “uma gordura” possível de ser cortada.

A revisão ocorre em meio a uma deterioração do cenário macroeconômico no Brasil e em outros países que a Alpargatas atua, com maiores taxas de juros e inflação, além de maiores custos de matérias-primas.

“Vai ser um programa contínuo, vamos continuar em 2024. Vimos uma oportunidade grande da companhia de atacar base de custos”, afirmou Roberto Funari.

A readequação de despesas, de acordo com Funari, deve permitir maiores investimentos em marketing. O presidente da companhia destaca que cerca de 50% das vendas diretas ao cliente final (sell-out) ocorrem por meio do consumo por impulso, demandando o fortalecimento de marca.

Essa readequação da estrutura, segundo Funari, também está relacionada a uma mudança no quadro de pessoal da Alpargatas. Nos últimos 15 meses, cerca de 40% do corpo executivo da companhia foi alterado.

“O cenário mudou. O erro que poderíamos cometer é achar que fazendo as mesmas coisas geraríamos resultados diferentes, em um cenário que vai exigir uma agenda de eficiência e simplificação”, afirma Roberto Funari.

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