O que esperar do preço da gasolina e do diesel para 2023?

Reabertura da China, MP dos Combustíveis e dólar; especialistas apontam o que pode fazer o preço da gasolina e do diesel oscilar em 2023

O preço da gasolina e do diesel são duas das grandes incógnitas no mundo da economia para 2023. Em meio ao corte de tributos que incidem sobre os combustíveis na bomba, efetuados pelo governo Bolsonaro, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um cenário internacional bastante cauteloso. Com a ameaça de recessão na economia americana e europeia, Lula ainda pode fazer mudanças na Petrobras que afetam o bolso de quem busca abastecer seu veículo.

Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira dizem que o Brasil deve se preparar para cortes na cadeia mundial de petróleo a partir de 2023. Sem uma perspectiva para a resolução na Guerra da Ucrânia, a demanda por combustível pode continuar a aumentar com uma oferta mais restrita.

O preço médio da gasolina distribuída em todo território nacional é, atualmente, de R$ 5,04 por litro segundo a Petrobras. Mas o custo pode subir, e é necessário preparar o bolso para possíveis ajustes.

Tendência do preço da gasolina é de baixa, diz VP da Rystad

O cenário para o barril de petróleo na reta final de 2022 foi de estabilidade. A empresa norueguesa de pesquisa em energia Rystad Energy apontava que o preço do Brent futuro deveria permanecer acima de US$ 90 por unidade, mas abaixo da faixa de US$ 100 e US$ 110.

O vice-presidente da Rystad no Brasil, Gabriel Roisenberg, explica que a pressão sobre o preço da gasolina, no entanto, não terá o mesmo impacto inflacionário observado na metade deste ano. Antes de o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionar a PEC dos Combustíveis em junho deste ano, o produto era um dos principais “vilões” para o aumento da inflação no Brasil, chegando a subir 2,48% em abril.

No dia em que tomou posse como presidente da República, Lula assinou uma medida provisória (MP) para prorrogar a desoneração dos combustíveis. A medida ficará em vigor até o dia 28 de fevereiro, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já disse que é possível que Lula estenda o prazo do decreto.

“Hoje, o que mantém o preço do Brent mais reduzido é o impacto da política de ‘covid-zero’ posta em prática pela China”, explica Roisenberg. O gigante asiático tem arrefecido a demanda na cadeia de combustíveis, aliviando os preços no mercado internacional puxados pelo aumento na procura por querosene de aviação (QOD) e combustível de tráfego em rodovias, diz o VP da Rystad.

Barril de petróleo mais barato em 2023

A reabertura da China deve aumentar a demanda por petróleo e reaquecer o mercado de petróleo. Em novembro, a Rystad estimava que que o governo chinês abandonaria restrições de cadeias de fornecimento, em razão de medidas para conter o coronavírus, em dezembro. Agora que, aos poucos, o mercado chinês reabre, a expectativa é de um preço de petróleo em queda para a estabilidade.

De acordo com cálculos da Rystad com base na cadeia de oferta e demanda de petróleo mundial, o setor de petróleo em 2023 deve sentir menos pressão inflacionária sobre o Brent e, portanto, sobre o preço da gasolina e dos combustíveis. “O impacto sobre a gasolina pode ser positivo. Entendemos que o Brent retornará casa dos US$ 80 por barril. Hoje temos uma cadeia desequilibrada de oferta e demanda, mas ela deve voltar ao normal do ano que vem”, diz Roisenberg. Nesta sexta-feira (20), o Brent está cotado a US$ 86,65 por barril.

“A Rystad acredita que o país deve receber mais investimentos em energia e em petróleo — uma entrada maior de dólares para o mercado nacional. Mas o maior fator a pressionar o preço dos combustíveis no ano que vem é a política fiscal a ser aplicada pelo novo governo”

Gabriel Roisenberg, VP da Rystad

Petrobras ganhará novo papel no governo

O vice-presidente da Rystad no Brasil, além de acreditar na tendência de que o preço da gasolina baixe no ano que vem, diz que 2023 “será uma boa transição” entre governos. Para o executivo, a Petrobras deve ganhar papel de liderança o realinhamento da política energética do novo governo. A estatal deve colocar em prática projetos de alto custo de capital operacional, melhorando a cadeia de exploração de petróleo e refino na base, chamada de “downstream”.

“Ainda precisamos de altos investimentos nesse setor, principalmente porque importamos muitos derivados”, afirma Roisenberg à IF. Se o Brasil manter o corte na tributação, ao mesmo tempo em que investe nas operações da Petrobras, analisa o executivo, o preço da gasolina pode cair a R$ 4,50 a R$ 4,70 nos postos de combustível.

Armando Cavanha, ex-diretor do conselho da Petrobras e ex-conselheiro da ANP (Agência Nacional de Petróleo), destaca que as refinarias brasileiras estão desatualizadas e são incapazes de atender à demanda brasileira. Com mais investimentos, o preço dos combustíveis pode vir a baixar, acompanhando a diminuição no custo do transporte rodoviário.

“Hoje, é mais fácil importar combustíveis e derivados porque custo de produção é mais barato. Graças a essa configuração logística, inventamos a Paridade de Preços de Importação [política de preços da Petrobras]”, aponta Cavanha.

Ex-diretor da Petrobras: ‘preço da gasolina deve subir’

No curto prazo, o Brasil enfrenta uma instabilidade econômica e política com a transição entre governos e os atos golpistas em Brasília, o que deve levar ao aumento do dólar frente ao real. A tendência para o preço dos combustíveis é de alta, segundo Cavanha.

Ainda segundo o ex-diretor da Petrobras, é necessário considerar os cortes da produção de petróleo realizados pelo cartel da OPEC (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), composta por 13 países do Oriente Médio e da África. O preço do Brent aumenta a cada corte de realizado pelo bloco — o último limitou a produção diária por 2 milhões barris. A OPEC produz cerca de 30% do óleo em todo mundo.

O especialista estima que o preço da gasolina pode subir até próximo de R$ 1 no valor da bomba.

“Acho que ela [gasolina] pode subir um pouco, mas não muito, em função do dólar. Calculo que haverá uma elevação de R$ 5,50 a R$ 5,70. Não vejo preço cair para menos de R$ 5 neste ano.”

Armando Cavanha, ex-conselheiro da ANP e ex-diretor do conselho da Petrobras

Juros nos Estados Unidos afetam preço dos combustíveis

Para o economista da Guide, Victor Beyrute, o preço da gasolina deve se estabilizar no curto prazo, especialmente com o governo Lula seguindo com a desoneração dos combustíveis. No entanto, Lula não deve surfar a alta de commodities que impulsionou a economia em seus dois primeiros mandatos.

Os combustíveis devem oscilar para cima na bomba caso a oferta continue pressionada por cortes da OPEC, diz o economista. “Existe demanda em desaceleração pelo petróleo, mas também pouca previsibilidade no cenário global”, avalia Beyrute.

A maior taxa de juros básicos nos Estados Unidos desde 2008 — e que deve subir ainda mais de acordo com a postura do Federal Reserve exposta na última ata divulgada pela autoridade — também joga contra a valorização das commodities no mercado. “O juro do dólar subindo coloca pressão na economia mundial, acaba pressionando a demanda”, acrescenta Beyrute.

“A tendência é prejudicar, derrubar o preço das commodities. A economia brasileira ainda não sentiu muito o impacto de sua contrapartida americana porque nossos juros estão altos, mas ano que vem isso deve se reverter”

Victor Beyrute, da Guide

Como fica o preço do diesel em 2023?

Para o consumidor do diesel, há, contudo, uma boa notícia. Os especialistas dizem que, por conta de uma resolução editada pela ANP em meados de setembro deste ano, o preço do diesel na bomba pode cair.

A minuta da resolução da ANP estabelece que revendedoras nacionais e internacionais poderão importar biodiesel para completar com a cota obrigatória de diesel nacional. A medida tenta romper uma barreira regulatória estabelecida pelo governo e que protege a produção de diesel nacional.

O efeito da resolução pode chegar ao bolso do produtor e do consumidor. Armando Cavanho destaca que facilitar a importação de biodiesel traz a queda de preço no mercado nacional, porque há menos custo logístico. “Se a minuta sair da audiência pública sem alterações, teremos uma flexibilização nos preços”, completa o especialista.

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