“Nunca vi europeu tão otimista com a bolsa brasileira”, diz Marcelo Sá, do Itaú BBA

Executivo, que é estrategista-chefe de ações do banco, retornou de roadshow pela Europa

Para o executivo, além da visão otimista para o cenário doméstico, há certo pessimismo com China, Turquia e Leste Europeu - Foto: Carol Carquejeiro/Valor
Para o executivo, além da visão otimista para o cenário doméstico, há certo pessimismo com China, Turquia e Leste Europeu - Foto: Carol Carquejeiro/Valor

Com o ambiente de negócios recheado de incertezas e as taxas de juros avançando nas principais economias do mundo, gestores de renda variável têm encontrado dificuldades para aportar seu patrimônio na modalidade.

Não por acaso, os níveis de alocação na renda variável estão historicamente baixos atualmente. No entanto, parece consenso entre os participantes do mercado que a bolsa brasileira é uma das poucas opções viáveis no momento no mundo, mesmo que dados de fluxo ainda não mostrem isso na prática.

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Marcelo Sá, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, afirmou ao Valor, após retornar de roadshow na Europa, que nunca viu os investidores do Velho Continente tão otimistas com o mercado de ações doméstico em termos relativos. Segundo ele, nas mais de 30 reuniões em que ele e o economista Luiz Cherman participaram com gestores locais, houve discurso de otimismo em relação a possíveis cortes na taxa de juros local, certa leniência com as incertezas fiscais e preferência por teses domésticas em detrimentos das commodities.

“Falamos com gestores de fundos globais, de emergentes e alguns de América Latina, e os executivos estavam bem animados com o ‘case Brasil’, principalmente aqueles com mandato para investir fora de economias desenvolvidas. Além da visão otimista para o cenário doméstico, há certo pessimismo em relação à China, Turquia e países do Leste Europeu. E a Índia, por sua vez, já tem valuations esticados. Ou seja, somos uma das poucas opções viáveis”, diz, adicionando que também há certa preferência por México e Chile (após a não aprovação do referendo que mudaria a constituição do país).

Incertezas fiscais no Brasil

Nas discussões sobre o mercado doméstico, o executivo conta que as incertezas fiscais do país, que são sempre relevantes neste tipo de encontros, ganharam um novo viés este ano.

Os gestores europeus pareceram, em sua visão, mais flexíveis em relação ao assunto, justamente por conta do momento que os próprios países europeus estão vivendo, com países como França e Reino Unido indo pelo caminho da criação de subsídios para tentar mitigar os efeitos da crise energética nos bolsos da população.

Sá afirma que os pares europeus se mostravam mais otimistas que o próprio Itaú BBA em termos de juros no Brasil. “Muitos disseram que o carrego estava muito elevado, então não fazia sentido manter as taxas tão elevadas por tanto tempo [a projeção da asset mostra cortes na Selic apenas no segundo semestre de 2023]. Eles indicavam, adicionalmente, ter uma visão mais construtiva em relação à inflação nos Estados Unidos, algo que se provou equivocado após a divulgação do CPI [Índice de Preços ao Consumidor] do mês de agosto.”

Cenário eleitoral

Outro ponto abordado nas conversas foi o cenário eleitoral, com os “players” internacionais acreditando que os dois candidatos trabalharão com responsabilidade fiscal. “Mas é uma preocupação. Por isso, apesar do discurso positivo, ainda não vimos a entrada de um fluxo estrangeiro relevante no mercado local e, consequentemente, a bolsa não andou como poderia. Ninguém sabe o que cada um dos candidatos irá fazer caso sejam eleitos, mas a eleição deve sanar algumas dúvidas nesse sentido”, resume.

A partir disso, em termos setoriais, empresas de consumo cíclico – Assaí (ASAI3) foi bastante citada e Grupo Mateus (GMAT3) surgiu como alternativa, diz – e construção civil de baixa renda, como MRV (MRVE3), apareceram entre os maiores interesses.

O setor financeiro tradicional também segue como um dos preferidos.

As estatais também foram ponto de discussão, apesar de possíveis riscos políticos à frente, segundo Sá.

Ações da economia doméstica

Essa preferência por papéis ligados à economia doméstica e sensíveis à curva de juros, somada à visão pessimista em relação à performance dos papéis ligados às commodities, ajuda a explicar, na visão de Sá, uma possível dificuldade para o Ibovespa avançar em termos absolutos no curto prazo (a casa tem, desde julho, projeção de 110 mil pontos para o índice ao fim de 2022).

“Nos últimos meses, tivemos revisão para cima nos lucros das empresas de commodities e para baixo nos rendimentos das domésticas, com os bancos à parte, mostrando leve tendência de alta. Agora, deve ocorrer o contrário, mas, como o peso das produtoras de matérias-primas é grande no índice, o efeito final pode ser negativo. Devemos ver expansão dos múltiplos, com o fechamento da curva de juros ajudando o segmento local, mas talvez não seja suficiente para que o referencial registre grandes mudanças em termos numéricos.”

Setor de energia protegido

Destrinchando possíveis performances dos produtos-brutos, segundo diretrizes do analista Daniel Sasson, o Itaú BBA está alinhado com o mercado na visão de que o setor de energia parece ser o mais protegido em termos de preços, muito por conta dos gargalos na oferta de petróleo.

Em termos de papel e celulose, e apesar do mercado apertado, entendem que por ainda não ter ocorrido correção nos preços, o espaço para ganhos é pequeno. E a visão mais negativa é para o minério de ferro, com preocupações em termos de volume.

A carteira “Brazil Buy List” do Itaú BBA, que tem sempre dez papéis, é atualizada mensalmente e tinha performance positiva de 8,9% em 2022, até 27 de setembro, contra 3,4% de alta do Ibovespa na mesma janela. Na composição atual, constam: Assaí ON, Banco do Brasil ON, BTG Pactual units, Cyrela ON, Eletrobras ON, Energisa units, Gerdau PN, MRV ON, Vale ON e Vivara ON.

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