O que é Investimento Responsável e como essa ideia evoluiu no tempo?

Com o amadurecimento do tema, riscos e oportunidades ESG passariam a ser avaliados em conjunto com a análise financeira, influenciando seus resultados conforme a performance ESG de cada empresa
Pontos-chave:
  • O Investimento Responsável surge nas décadas de 60 e 70 com a ideia de excluir setores ou empresas que não estão alinhados a critérios socioambientais
  • No início dos anos 2000, surge a modalidade chamada de Best in Class, em que a estratégia de investimento tem como objetivo alocar seus recursos apenas nas empresas com a melhor performance ESG
  • Hoje se trabalha para acelerar a convergência nos padrões globais de relatórios de sustentabilidade para gerar transparência e informações relevantes para o desenvolvimento da agenda ESG

O Investimento Responsável surge no seu primeiro formato nas décadas de 60 e 70 através do filtro negativo, que representa a exclusão de setores ou empresas que não estão alinhados a critérios socioambientais ou éticos pré-definidos. Com o passar do tempo, nas décadas de 80 e 90, encontramos o desenvolvimento do chamado Filtro Positivo, que promove mais exposição em setores ou empresas cujos modelos de negócios causam externalidades sociais ou ambientais positivas.

Andando um pouco mais nessa linha do tempo, no início dos anos 2000, surge a modalidade chamada de Best in Class, em que a estratégia de investimento tem como objetivo alocar seus recursos apenas nas empresas com a melhor performance ESG em determinado setor econômico.

Até então a visão de investimento responsável estava ligada principalmente a fundos e mandatos específicos (visão produto). Existiam fundos que aplicavam filtros negativos, positivos e a modalidade best in class, ou mesmo fundos que faziam um mix dessas estratégias, por exemplo excluindo setores controversos (tabaco) e aumentando a exposição em setores positivos (saneamento).

Uma nova forma de pensar riscos e oportunidades

Com o amadurecimento do tema investimento responsável surgiu uma nova forma de se pensar sobre esses processos. Riscos e oportunidades ESG passariam a ser avaliados em conjunto com a análise financeira, influenciando seus resultados conforme a performance ESG de cada empresa.

Esse novo modelo recebeu o nome de “integração ESG” e atualmente é o modelo mais adotado por gestores e proprietários de ativos em todo o mundo. Porém, essa evolução metodológica tem como premissa a disponibilidade de dados e informações ESG sobre as empresas investidas.

Podemos dizer que se trata de uma das dores do crescimento da jornada do ESG, pois com maior amplitude e profundidade de análise são necessários uma maior quantidade de dados e informações sobre como os agentes deste ecossistema estão navegando por essas águas. Isso fica mais claro quando analisamos o maior número de empresas publicando seus relatórios contendo os dados relevantes sobre essa temática: em meados dos anos 90 tínhamos um percentual reduzido de empresas que produziam estas publicações, fato que foi drasticamente alterado ao longo dos anos 2000. Atualmente a grande maioria das empresas divulga informações ESG em seus relatórios financeiros ou por meio de relatórios de sustentabilidade dedicados.

Global Reporting Initiative

Este crescimento vertiginoso também gerou um aprendizado sobre a necessidade de serem criados padrões para que todas essas publicações tragam informações relevantes, materiais e comparáveis em seus respectivos setores. Surgem assim diversas iniciativas para endereçar essas questões: 

Global Reporting Initiative (GRI) surge como uma organização de atuação global com foco no desenvolvimento de estruturas para ajudarem as organizações na padronização destes relatórios de sustentabilidade. A partir dos anos 2000, através destas diretrizes as empresas conseguem entender e reportar seus impactos em questões como mudanças climáticas, direitos humanos e demais itens pertinentes. Pesquisas revelam que o GRI tem uma ampla adesão pelas empresas, fomentando uma linguagem global para a transparência corporativa no tema ESG.

O Carbon Disclosure Project (CDP) também surge em 2000, com o objetivo de engajar junto as empresas, estados e cidades para reporte de sua pegada de carbono e gerenciamento dos riscos e oportunidades relacionados às mudanças climáticas.

Padrões de contabilidade de sustentabilidade

Em 2011 temos o surgimento do Conselho de Padrões de Contabilidade de Sustentabilidade (SASB), que tem como objetivo o desenvolvimento de padrões de contabilidade em sustentabilidade através de um mapa de materialidade setorial. 

O TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) nasce em 2015 por iniciativa de Mark Carney, o presidente do Banco Central Inglês, demonstrando que o tema já estava na agenda de reguladores. Essa iniciativa foi formada com o foco em melhorar e aumentar a divulgação de informações financeiras relacionadas a gestão do tema mudanças climáticas. 

Pensando em aprimorar esses esforços, a Fundação IFRS (International Financial Reporting Standards Foundation) anunciou a construção de um grupo de trabalho para acelerar a convergência nos padrões globais de relatórios de sustentabilidade. O chamado International Sustainability Standards Board (ISSB) reúne diversas iniciativas diferentes de reporte, contando ainda com a Organização Internacional de Comissões de Valores (IOSCO), de forma a endossar as propostas desenvolvidas.

Esses são os principais esforços para a construção de um arcabouço que gere transparência e traga informações relevantes para o desenvolvimento da agenda ESG. São iniciativas como essas que endereçam as grandes dores do Investimento Responsável, a produção de informações materiais e comparáveis, as quais juntamente com o engajamento, vão impulsionando o tema investimento responsável para um novo patamar de adoção em todo o mundo.