Com um funcionamento 24 horas, 7 dias por semana, entre quaisquer bancos, de banco para fintech, de fintech para instituição de pagamento, o Pix vem se estabelecendo como um dos três meios de pagamentos mais usados, junto ao cartão de crédito e boleto. Já para os microempreendedores individuais (MEIs) e empresários individuais, a oferta do pagamento instantâneo pode, em alguns casos, beneficiar duplamente os seus clientes.
Enquadrados nas mesmas regras de pessoas físicas, estes pequenos negócios e prestadores de serviços estão isentos de cobrança de tarifas na maior parte das transações. Sem comprometer parte dos ganhos com as taxas cobradas pelas máquinas de cartão e transferências do tipo TED e DOC, não é incomum encontrar negócios que oferecem descontos para quem escolhe pagar por Pix.
A prática não é nova. Antes mesmo de ser criado o novo meio de pagamento do Sistema Financeiro Aberto (open finance), uma lei federal de 2017 passou a autorizar a diferenciação de preços de bens e serviços em função do prazo ou do instrumento usado para o pagamento. A mesma lei garante ao vendedor se ele quer oferecer o desconto para o pagamento à vista. O que muda agora é a relação de “ganha-ganha”, conforme observa Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “Para o lojista tem a vantagem do recebimento instantâneo do recurso. Para o consumidor, a vantagem de poder fazer operação 24 horas por dia, ainda que com alguma limitação nos valores por conta da segurança. Isso faz com que haja um potencial enorme de desenvolvimento do Pix na relação com o varejo”, diz.
Desconto X inflação
Para quem está na ponta da demanda, a “barganha” é bem-vinda, ainda mais em um momento de perda do poder de compra. No Monitor do PIB da FGV, em janeiro, o consumo das famílias caiu 1,3% ante dezembro do ano passado. Para o varejista, no entanto, a sustentação das ofertas é um desafio a mais. “Estamos falando em desconto no momento em que a inflação no atacado para o varejista está em 25,4% ao ano. É uma questão mais complicada”, diz.
Na avaliação da consultoria Colink, que atua no mercado de meios eletrônicos de pagamento, a experiência de pagamento do consumidor avançou, permitindo a ele usufruir de descontos personalizados. Mas uma parte considerável de lojistas, em geral, ainda sofre com sistemas que não se comunicam. Saiba mais: Integração do Pix desafia lojista
A estimativa da CNC para fevereiro é que o Pix tenha movimentado, aproximadamente, R$ 7 bilhões em transações realizadas por pessoas físicas para empresas do varejo. O percentual ainda é pequeno e representa cerca de 3% do faturamento do varejo, conforme Bentes.
Por outro lado, os dados do Banco Central apontam para uma trajetória de crescimento nas operações chamadas de P2B, de pessoas para empresas (de todos os tamanhos). Em novembro de 2020, quando foi lançado o Pix, estas transações somavam 5%. Pouco mais de um ano e meio após o início da implementação pelo Banco Central, os pagamentos entre pessoas físicas e jurídicas chegaram a 18% em fevereiro desse ano.
“Existe ainda uma certa barreira cultural na utilização no dia a dia naquelas pequenas compras, mas o potencial da ferramenta é enorme. Da mesma forma que está acelerando o fim das tradicionais transferências bancárias, existe a perspectiva de que o Pix também venha a aposentar de vez a utilização de boletos”, avalia o economista.