Justiça bloqueia R$ 101 milhões da Blaze; saiba quem são os influenciadores que divulgam jogos de apostas

Jogo é ilegal no país e promete lucro garantido; influenciadores são investigados

Há pelo menos 6 meses, a Blaze está envolvida em uma grande polêmica, que agora está sendo investigada pela polícia de São Paulo. A denúncia partiu de apostadores que não receberam seus prêmios. Isso, então, leva à suspeita de estelionato. O caso, que já vinha sendo investigado, foi relatado pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo (17).

Por isso, a plataforma digital teve R$ 101 milhões bloqueados pela Justiça. Ao mesmo tempo, a polícia reuniu indícios de que apostadores não levaram os prêmios.

O que é o Jogo do Aviãozinho

Um dos principais jogos da Blaze é o Crash, também conhecido como “Jogo do Aviãozinho”. Assim que o avião voa, o valor da premiação aumenta. O apostador, então, tem que decidir a hora de parar. Porém, quando aparece a “Crashed”, o apostador perdeu a partida.

Quem são os influenciadores contratados pela Blaze?

Assim, a Blaze já contou com nomes de peso, como Neymar, Felipe Neto, Carlinhos Maia, Diggo, além de clubes de futebol, como o Santos e o Botafogo.

Mais recentemente, a plataforma de apostas contratou outros nomes, como  Viih Tube, Juju Salimeni, Jon Vlogs, Juju Ferrari, Mel Maia, Rico Melquiades, MC Kauan. Todos divulgaram o jogo, que é ilegal no país, prometendo lucro garantido.

De acordo com a reportagem do Fantástico, Viih Tube informou que, ao tomar conhecimento das denúncias contra a Blaze, pediu o encerramento do contrato dela com a empresa.

Além de Vihh Tube, outra influenciadora que foi pelo mesmo caminho é Juju Ferrari, que também disse que parou de divulgar a Blaze e que sua relação com a plataforma era apenas de publicidade.

Por outro lado, a assessoria de Jon Vlogs afirma que ele tem contrato com a Blaze desde 2021. E que a relação com a empresa é de influenciador, e que ele não é sócio da plataforma.

Além disso, por meio de uma nota, a atriz Mel Maia, informou que “não tem conhecimento acerca de qualquer investigação envolvendo o site, tendo sido contratada apenas para realizar ações de publicidade, bem como que aguardará o desfecho do procedimento investigativo a fim de tomar as medidas cabíveis”.

Rico Melquiades, MC Kauan e Juju Salimeni não retornaram os contatos.

O que é a Blaze?

Operando no Brasil desde 2019, a Blaze é uma plataforma de cassino virtual e apostas esportivas. Entre os jogos oferecidos pela empresa estão o Roleta, Blackjack, Slots Machines, Poker e o famoso foguetinho.

Então, apesar dos jogos de azar serem proibidos no Brasil, a Blaze atua por uma brecha: sua sede fica em Curaçao, ilha holandesa que é um paraíso fiscal.

“Essas empresas atuam em uma espécie de limbo jurídico, criando raízes no exterior. Com isso, acabam atuando em um ambiente digital aberto, onde as pessoas podem acessar esses sites de outros países”, ressalta Philipe Monteiro Cardoso, advogado especialista em Direito Digital.

A Blaze é operada pela Prolific Trade N.V., mas não se sabe ao certo todos os nomes por trás da empresa. De acordo com o cassino, hoje existem mais de 40 milhões de usuários na plataforma.

Por isso, a Blaze ganhou popularidade depois de ser divulgada por grandes nomes da internet e patrocinar clubes de futebol, como o Botafogo.

Como o caso ganhou força

A Blaze já vinha despertando desconfiança, mas foi há duas semanas que o caso ganhou repercussão nacional. Um vídeo publicado por Daniel Penin com o título “Tire dos pobres e dê aos influencers” já acumula mais de 4 milhões de visualizações. Nele, Penin investiga quem são os donos da Blaze e chega a um resultado espantoso, que você confere logo abaixo:

Então, o youtuber investiga o funcionamento da Blaze e fala sobre as parcerias da empresa. Penin também acusa a plataforma de pagar os influenciadores cada vez que um cliente perda nas apostas. Alguns nomes citados no vídeo são Felipe Neto, Carlinhos Maia, Viih Tube, Jon Vlogs, Gkay, MC Poze, Mel Maia e Diggo.

Processos acumulados

Um levantamento feito pela OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), em parceria com o Portal do Bitcoin, encontrou 15 processos judiciais contra a Blaze em oito estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso e Pernambuco. 

Nos últimos seis meses a plataforma acumula mais de 5.700 reclamações no Reclame Aqui, com apenas 18 respondidas. Grande parte dos clientes afirmam não ter recebido o dinheiro que ganharam nos jogos ou terem sua conta zerada.

Indignação na internet

A explosão do caso gerou uma onda de indignação. O público passou a cobrar influenciadores e famosos que divulgaram a empresa.

Neymar, por exemplo, limitou os comentários no Instagram.

Já Felipe Neto apagou os registros de publicidade do cassino online em junho de 2023. Mas logo em seguida publicou um vídeo dizendo que planeja manter o contrato com a Blaze. Isso porque até então, nenhuma fraude por parte da empresa tinha sido comprovada. Na época, ele declarou o seguinte: “Eu tenho um ano de contrato para cumprir. Não posso romper um contrato simplesmente por mentiras na internet. Se algo for comprovado, sairei, virei aqui e avisarei”. 

Já Jon Vlogs, um dos principais influenciadores por trás da Blaze, se pronunciou no Twitter. O youtuber gerencia um programa que, segundo ele, fechou contratos com 400 influenciadores para divulgar o cassino. Jon afirmou que “está ciente de tudo e que irá se posicionar em breve”.

“Um ponto de atenção nessa história é sobre a pouca ou quase nenhuma rastreabilidade e verificação desses sites de apostas. Mas o fator central é do quanto as pessoas seguem celebridades e influenciadores e acham que, se são indicados por eles, os jogos são confiáveis. Os apostadores não analisam o todo”, ressalta Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação.

Blaze não é um caso isolado

Essa não é a primeira polêmica envolvendo uma empresa de apostas. O jogo do foguete JetX, criado pela Cbet.gg, acumulou mais de 800 reclamações no site Reclame Aqui em apenas seis meses no ano passado. Os casos se parecem: contas zeradas, dinheiro não recebido, propaganda enganosa e até mesmo saques que não caíram na conta bancária daqueles que “venceram” o jogo.

Por não terem uma sede no Brasil, um CNPJ ou qualquer representação por aqui, se torna muito difícil processar judicialmente esse tipo de empresa. “O que fazer diante desse “limbo jurídico” é criar analogias com a regulamentação vigente, buscando respaldo no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor”, ressalta Cardoso. Mesmo assim, o advogado alerta: como as empresas estão fora do país, é difícil reverter prejuízos.

Um alerta importante

O caso da Blaze acendeu novamente um alerta para os riscos por trás desses jogos. “É importante entender que a chance de perder o dinheiro utilizado nesses jogos é muito grande”, alerta Cardoso.

Ou seja, esse tipo de jogo não funciona como uma renda extra.

“Quando falamos em jogos eletrônicos, é importante verificar se existe de fato uma empresa registrada, se há um Compliance e se possuem problemas. Uma busca rápida no Google pode funcionar. O fato é que o mundo digital carece de algumas regulamentações jurídicas que aos poucos vão sendo colocadas em vigor”, ressalta Matheus Puppe, sócio da área de TMT, Privacidade & Proteção de Dados do Maneira Advogados.