Torcedor-investidor: uma oportunidade ainda distante

Fundo de private equity Treecorp anuncia a aquisição de 90% do Coritiba e reacende o debate sobre o investimento de pessoas físicas em clubes de futebol

Ao longo da semana, vimos o anúncio da aquisição do Coritiba FC pela Treecorp, fundo brasileiro de private equity que tem como um de seus sócios o empresário Roberto Justus.

O fundo comprou 90% do clube e deu o ponta pé inicial nas negociações entre um private equity em uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Com isso, o Coritiba foi avaliado em R$ 1,3 bilhão.

Porém, depois de uma primeira onda de investimentos nas SAFs com a entrada de investidores estrangeiros, como a Eagles Holding, a 777 Partners e o City Football Group (Botafogo, Vasco da Gama e Bahia), e do Ronaldo Fenômeno (Cruzeiro), temos a chegada de investidores locais ao esporte.

Além disso, recentemente tivemos também o anúncio da proposta da Hi.Pe Capital para aquisição da SAF do América-RN, juntando-se à Treecorp como outro player nacional acreditando no futebol como negócio.

Novos investidores no futebol

Logo, essas movimentações inauguram uma mudança no perfil de investidores. Isso colocam os clubes de futebol dentro da classe de ativos que podem ser negociados e geram retornos a investidores.

Com isso, o futebol deixa de significar apenas diversão e começa a ser avaliado como oportunidade de diversificação de investimentos.

Resumindo, no Relatório Convocados / Galapagos Capital / Outfield 2023 que foi lançado nesta semana, há um capítulo específico sobre investimentos em clubes de futebol no Brasil, a partir de paralelos com mercados maduros de futebol e de outros esportes, como ligas americanas.

Vale a pena investir em clubes de futebol?

Apesar da novidade, clubes de futebol são um ativo de risco elevado. Se não dá para chamá-los de high yield, ao menos temos que pontuar que há riscos incomuns em outras indústrias.

Logo, no Relatório Convocados, quando analisamos o mercado, alguns ficam claros: receitas cada vez mais associadas a performance, custos elevados, nível de competitividade altamente associado ao porte dos clubes, e muitos precisam lidar com dívidas elevadas e difíceis de serem reestruturadas.

Porém, sem contar aspectos únicos do futebol, como volatilidade da receita com bilheteria, e o maior dos desafios: o rebaixamento.

Daí entra a necessidade de ter profissionais que entendam do negócio para gerir o clube de maneira eficiente. Outro desafio, porque o futebol foi tomado por profissionais que se estabeleceram na indústria, não permitiram oxigenação dos quadros, e temos carências de talentos.

Mas isso dificulta a vida de quem investe, porque colocar pessoas que nunca estiveram na indústria demanda um período de aprendizagem muito longo.

Enquanto muitos dos profissionais que estão no mercado são co-responsáveis pelo cenário atual de dificuldades.

Por isso, este cenário todo precisa ficar claro, porque em breve surgirão as possibilidades de oferecer cotas de clubes de futebol como “oportunidades de investimentos” para a pessoa física, o pequeno investidor.

No primeiro artigo para à Inteligência Financeira, falei justamente sobre a dificuldade de um clube abrir capital, e seus riscos par aos investidores. Hoje, reforço a ideia: ainda estamos longe de termos estruturas de gestão que permitam essa possibilidade.

Longe do lucro

Concluindo, o investidor-torcedor pode até se animar com isso, mas jamais pelo lado do retorno financeiro. Seja porque ele é questionável, seja porque é preciso um enorme cuidado na avaliação do gestor do ativo.

Isso significa que jamais teremos a possibilidade de vermos torcedores, ou pequenos investidores sendo donos de clubes de futebol? Não. Significa que estamos muito longe da maturidade da indústria, da qualificação das gestões e sua da capacidade de minimizar riscos, mas de maximizar expectativas.

Logo, o futebol é uma atividade complexa. Talvez em 5 ou 10 anos veremos clubes tendo torcedores como acionistas, mas ainda estamos longe desse cenário.