Dividendos da Petrobras (PETR3; PETR4) superam Selic: mas isso pode estar no fim?

Queda na cotação do petróleo e mudança na política de preços fizeram papéis da estatal perderem espaço nas carteiras recomendadas

Nos últimos dois anos, a Petrobras fez a festa dos investidores que buscam renda passiva aplicando em ações. Os dividendos pagos concorreram – e ganharam com folga – da renda fixa.

Agora, analistas não veem esse horizonte com otimismo.

Segundo um levantamento feito pela Trademap a pedido da Inteligência Financeira, o dividend yield da ação preferencial (PETR4) da Petrobras oscilou entre cerca de 20% e 60% desde 2021, e está em 48% neste ano até maio.

Dividend yield é um índice que mede a remuneração paga em relação ao preço de uma ação. No caso do papel ordinário da estatal (PETR3), o indicador gravitou da faixa de 20% a 44% em 2023. Para efeito de comparação, nesse período, a taxa básica de juros no Brasil evoluiu de 2% para 13,75%, seu nível atual, deixando para trás a remuneração paga por ações brasileiras, exceto um punhado de papéis de baixíssima liquidez.

Segundo analistas, o quadro favorável para a Petrobras no que se refere ao pagamento de dividendos refletiu uma combinação de fatores, que inclui uma política de desinvestimentos da companhia para reduzir dívidas, assim como sua estratégia de acompanhar as oscilações dos preços internacionais do petróleo, num período em que as cotações dispararam na esteira dos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia. O resultado foi um lucro recorde de R$ 188 bilhões em 2022 – a empresa acabou distribuindo ainda mais do que isso, R$ 215 bilhões, aos acionistas.

Horizonte dos dividendos da Petrobras começou a mudar

Primeiro, os preços do petróleo caíram acentuadamente. O barril do óleo do tipo Brent, que chegou a superar US$ 100 há pouco mais de um ano, agora sai por menos de US$ 80. Além disso, o dólar, que também vinha sendo fator de pressão, gravita em torno de R$ 5, queda de mais de 10% no período.

Mas não é só. A diretiva da gestão que assumiu a companhia neste ano, de deixar de seguir tão de perto as oscilações internacionais, criou um ponto de atenção.

“A nova política de preços da Petrobras somada à queda do petróleo estão colocando o papel em revisão, visto que é consenso que os dividendos irão cair consideravelmente”, afirmou Jefferson Souza, especialista em investimentos da Semeare. “Ainda mais pelo posicionamento da empresa de que fará investimentos, ou seja, menos lucro para ser distribuído.”

Diante das incertezas ligadas ao impacto dessas medidas, as projeções de dividend yield para os papéis da Petrobras têm gravitado de abaixo de 10% até mais de 20%. Mas para Guilherme Gentile, chefe de análise da Dividendos.me, os papéis da Petrobras ainda gozam de pontos fortes.

“De acordo com projeções de mercado, espera-se que a Petrobras distribua cerca de 40% do seu lucro líquido neste ano, o que resultaria em um dividend yield de aproximadamente 13% com base nos preços atuais, um valor considerado bastante atrativo”, afirmou Gentile, ressalvando que ainda não está claro como as mudanças irão afetar a política de preços da empresa.

Boa opção para o médio prazo

Pelo sim, pelo não, as ações já não fazem parte da carteira recomendada de várias das casas de análise do mercado, incluindo Itaú, enquanto Guide, Mirae e Warren as conservaram em carteira, mostrando como a opinião dos gestores ficou dividida.

Já XP e BTG Pactual, que haviam excluído o papel de sua carteira de dividendos nos meses anteriores, voltou a incluí-lo na carteira para junho. O argumento do BTG é de que a nova gestão já mostrou que não pretende reduzir a lucratividade de forma tão agressiva.

“Embora acreditemos que seja necessária uma maior visibilidade sobre pagamentos de dividendos futuros para justificar uma posição mais otimista sobre as ações, nosso sentimento em relação à empresa melhorou. Acreditamos que aqui pode haver uma oportunidade favorável no curto prazo, já que o pior cenário parece estar de lado no momento”, afirmou o BTG no relatório.

De maneira geral, o entendimento é de que o papel ainda é uma boa aposta para o médio prazo, considerando os fundamentos da empresa. Mas alguns têm preferido substituir as ações da Petrobras por apostas tidas neste momento como comparativamente menos arriscadas, casos de bancos e de empresas do setor elétrico, que teriam maior potencial de ampliar dividendos num cenário de Selic em queda.

“Ainda vemos as ações da Petrobras muito baratas, mas os riscos políticos continuam aumentando, enquanto os dividendos daqui para frente devem ser menos previsíveis”, resumiram os analistas André Vidal e Helena Kelm em relatório da XP.