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O colapso do Silicon Valley Bank e as lições para os investidores
Existem 2.124 bancos comerciais nos Estados Unidos. Ou melhor, existiam ao final de 2022. Nas últimas semanas, o Silicon Valley Bank (SVB) — o 16º maior banco comercial naquele país— esteve nas manchetes dos jornais em decorrência de seu rápido processo de falência.
No dia 8 de março a instituição anunciou uma série de medidas para aumentar sua liquidez diante de um cenário diferente de taxas de juros dos anos mais recentes.
A venda de títulos de renda fixa, públicos e privados, havia levantado quase US$ 21 bilhões para sua posição de caixa e proposta de emissão de ações foram anunciadas. Isso fortaleceria seu balanço patrimonial em outros US$ 2,25 bilhões.
As ações não foram emitidas, afinal não deu tempo. No dia seguinte, 9 de março, clientes iniciaram uma corrida para sacar investimentos e depósitos em contas na instituição. Ao final daquele dia, os US$ 42 bilhões resgatados levaram a uma posição de caixa negativa em aproximadamente US$ 958 milhões.
Diante da situação, os reguladores do Estado da Califórnia interviram no SVB em 10 de março alegando iliquidez e insolvência, passando o controle ao FDIC (uma espécie de Fundo Garantidor de Crédito com funções adicionais de fiscalização do sistema financeiro estadunidense).
O caso não foi o único e pelo menos outros dois bancos tiveram suas atividades encerradas no mesmo período. Mas distante de gerar relações com a Grande Crise Financeira de 2008, o “evento SVB” nos relembra de alguns ensinamentos sobre a gestão de uma carteira de renda fixa, que podem servir a outros banqueiros ou até mesmo a quem está investindo em seus primeiros títulos.
Você se lembra da marcação a mercado?
Desde 2 de janeiro, a Anbima preconiza que as instituições divulguem os valores de referência de títulos públicos federais, debêntures, CRIs e CRAs aos seus investidores adotando a prática da marcação a mercado. Em resumo, marcar a mercado um ativo é simplesmente o ato de precificá-lo de acordo com o valor que o mercado atribui a ele naquele momento.
Àquela época, defendi que estávamos presenciando uma evolução em nosso mercado de capitais. As oscilações de preços são sinais emitidos pelos investidores, assim como um processo febril nos indica que algo está ocorrendo em nosso corpo.
Um possível desconforto com a oscilação diária de nosso patrimônio certamente não é maior do que a surpresa negativa ao constatar, em um momento de necessidade, que o valor de seus investimentos é substancialmente inferior ao que se imaginava.
E é aí que a tragédia do SVB se entrelaça com as recentes mudanças no mercado de renda fixa brasileiro.
A queda
É difícil atribuir uma única razão pela qual os clientes promoveram uma corrida ao SVB, mas é inegável que a gestão de seus ativos esteve entre as causas do estopim do evento.
Com uma carteira de clientes concentrada no setor de tecnologia, o banco observou forte aumento nos depósitos ao longo dos últimos anos, acompanhando a expansão do setor.
Os depósitos viraram, em grande medida, alocações em títulos de renda fixa de longo prazo e o excesso de liquidez minimizava os aparentes riscos.
No entanto, os ventos mudaram com o aumento da taxa de juro pelo Fed. A redução no direcionamento de novos recursos para projetos de tecnologia levou as companhias a utilizarem seus recursos próprios e, como o SVB divulgou poucos dias antes do fechamento, as empresas vinham nos últimos trimestres em um ritmo de saque duas vezes acima do patamar observado em períodos anteriores a 2021.
A mudança de rota, embora na direção correta, se mostrou tardia. A decisão de manter cerca de 75% dos títulos marcados na curva, sendo contabilizados pela taxa de aquisição, se provou excessivamente arrojada e, ao liquidar ativos para aumentar a posição de liquidez no dia 8 de março, o banco reportou perdas bilionárias com marcação a mercado.
A sinalização passada ao mercado reforçou o temor de clientes, dando início ao que seria o fim daquela instituição.
As lições
Passado o evento, ficam as lições.
O gerenciamento entre o prazo de seus ativos (investimentos) e de seus passivos (necessidade de liquidez), fundamental a uma instituição financeira tanto quanto a um investidor individual, ressalta a importância da tão falada “reserva de emergência” e do constante monitoramento de riscos.
Por fim, a marcação a mercado também sai fortalecida.
É uma vitória da transparência em relação à comodidade, nos lembrando que em solo tupiniquim o mercado de capitais está evoluindo.
Por Lucas Queiroz, CNPI, Analista do Itaú BBA e colunista íon. Texto originalmente publicado na coluna “Ideia Fixa”, no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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