Por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul?

Um dos principais motivos causadores de tanta chuva em tão pouco tempo é a onda de calor sobre o Centro-Oeste e Sudeste

As chuvas ininterruptas que atingem o Rio Grande do Sul há cinco dias já são responsáveis pelo “maior desastre climático do Estado”, de acordo com o governador do Estado, Eduardo Leite.

Um dos principais motivos causadores de tanta chuva em tão pouco tempo é a onda de calor sobre o Centro-Oeste e Sudeste. Esse sistema está bloqueando o avanço das frentes frias que surgem no Sul e no leste da Argentina na atmosfera, mantendo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina suscetíveis às áreas de instabilidade responsáveis por tanta chuva.

“Uma área de alta pressão, que nada mais é do que uma massa de ar seco, é responsável por dias extremamente secos e com temperaturas elevadas. Ela funciona agora como uma barreira. Enquanto essas instabilidades estiverem presas no Sul, seguem provocando grandes acumulados de chuva”, explica Desirée Brandt, meteorologista da Nottus.

Combinada a grande massa de ar seco no Brasil central, a umidade da Amazônia está canalizada em um corredor direto ao Sul do país. Esse fenômeno que envolve a passagem de umidade e bloqueio de ar quente é classificado como “rio atmosférico”.

“Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada e neve, conforme a região no mundo. Esses eventos extremos de precipitação podem levar a inundações repentinas, deslizamentos de terra e danos catastróficos à vida e à propriedade”, explica a Metsul Meteorologia.

Como esse ar quente tropical avança para Sul, forma-se uma combinação explosiva de umidade abundante com atmosfera muito aquecida, o que cria sucessivamente fortes a intensas áreas de instabilidade, com volumes de chuva excessivos.

Além dessas duas condições, o El Niño, fenômeno meteorológico que, apesar de enfraquecido para dar lugar à La Niña no segundo semestre de 2024, ainda influencia o clima no Hemisfério Sul. “Ele está perdendo força, mas ainda é vigente. E uma das consequências disso é a grande frequência de chuva no Sul do Brasil”, explica Brandt.

Até domingo (5/5), a previsão indica ventos fortes com rajadas acima dos 60 km/h, ocorrência de descargas elétricas, queda de granizo e chuvas ainda volumosas entre o norte do Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina.

A próxima semana deve começar com uma trégua na chuva, mas não por muito tempo, adianta Desirée.“Entre o domingo e o começo da semana que vem, a chuva vai parar um pouco nessas áreas que foram tão afetadas, mas do meio para o fim da próxima semana, tem previsão de chuva novamente. Não é uma chuva muito forte, mas como já é uma região que está muito vulnerável, qualquer chuva pode trazer novos problemas”, finaliza.

Com a previsão do tempo indicando mais chuva nas próximas horas no Rio Grande do Sul, o Governo do Estado alertou sobre a rápida elevação do Rio Guaíba, em Porto Alegre, com a possibilidade de chegar a 5 metros até o sábado (4/5).

Caso o cenário se confirme, será a maior cheia da história, superando 1941. Na enchente registrada há 83 anos, a cota do Guaíba alcançou 4,76 metros, enquanto a marca atual, desta sexta-feira (3), é 4,50 metros, segundo dados da MetSul.

A chuva forte e ininterrupta também fez cidades gaúchas superarem em um único dia o esperado para todo o mês de maio. Soledade, por exemplo, registrou 249,4 milímetros na quinta-feira, 2 de maio, enquanto a média mensal é de 153 milímetros. Em Serafina Corrêa, o volume foi de 176,6 milímetros – a média não passa de 150 milímetros.

Com informações do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico