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Queda de juro real abre espaço para alta da bolsa
A queda do juro real de longo prazo nas últimas semanas sinaliza a possibilidade de ganhos adicionais para a bolsa. O indicador, usado para calibrar projeções de lucratividade das empresas, costuma ser um bom termômetro para o desempenho das ações.
No longo prazo, quando as taxas caem, os papéis tendem a subir. Recentemente, porém, houve certa distorção dessa relação, o que sugere a possibilidade de valorização da bolsa.
Com o avanço da discussão sobre a nova regra fiscal e alguns sinais de desinflação no Brasil, investidores passaram a apostar de forma mais convicta que a taxa básica de juros, a Selic, vai começar a cair já entre agosto e setembro, e iniciaram processo de retirada de prêmios de risco dos ativos locais.
O mercado de juros reagiu primeiro e as NTN-Bs longas saíram de um patamar de 6,5% em março para níveis inferiores a 6%. O Ibovespa, por sua vez, demorou um pouco mais a responder e, apesar de subir 8,7% desde o início de abril, agentes de mercado entendem que existe ainda uma diferença no desempenho dos ativos.
A comparação é feita porque, ao calcular o preço justo de uma ação, os analistas costumam descontar a taxa de juros de longo prazo do fluxo de caixa projetado para as empresas como forma de trazer os fluxos a valor presente. Assim, quanto maiores as taxas, maior o desconto, o que prejudica o “valuation” (avaliação de mercado) das companhias. Portanto, taxas mais baixas deveriam impulsionar as ações.
Igor Lima, sócio-fundador da Trafalgar Investimentos, diz que a correlação não é estática, podendo estar mais ou menos presente a depender do cenário e dos setores analisados (quanto mais previsível o fluxo de caixa, melhor). Mas, de forma geral, o ativo que guia o movimento do par é o juro.
“A melhora que vimos nas taxas [de juros] e no câmbio demorou um pouco mais para chegar à bolsa e, na minha visão, o movimento de resgates teve papel importante na equação. Embora os juros longos tenham caído, a taxa básica segue em 13,75%, o que faz com que investidores sigam retirando recursos da bolsa para alocar em ativos mais defensivos”, diz.
Para o executivo, a bolsa segue descontada e pode alcançar os demais mercados locais à frente. Porém, ele afirma que novos gatilhos serão necessários para que o fluxo doméstico retorne com mais força à modalidade. Entre eles, aponta que uma sinalização mais clara de corte de juros pode servir para aumentar o apetite por risco. “Por enquanto, aumentamos nossa exposição com certa dose de cautela, olhando para setores como ‘utilities’ [serviços essenciais] e financeiro.”
Gustavo Salomão, sócio e diretor de investimentos da Norte Asset Management, diz que, além do fluxo local, a entrada de capital estrangeiro também pode aumentar após parte das incertezas internas se dissiparem. O gestor cita que, em termos emergentes, o Brasil começa a ganhar destaque ante pares mais caros, como México e Índia, e na medida em que geografias como Rússia e China seguem com problemas geopolíticos.
“Aumentamos a posição comprada em bolsa desde meados de abril. A alta dos juros fez com que papéis sensíveis às taxas sofressem muito, então segue existindo espaço para recuperação. Mesmo após uma temporada de balanços pendendo para o negativo, acredito que investidores vão voltar a alongar prazos e olhar para frente, até porque a queda de juros pode trazer um respiro para as empresas. O momento é de bolsa”, afirma.
Mesmo sem acreditar que o ciclo de cortes de juros venha tão cedo quanto se espera, Rodrigo Melo, estrategista-chefe do ASA Hedge, diz que o ambiente tem favorecido posicionamento “não tão defensivo” em ações. “A bolsa está barata há um bom tempo e tem muita vantagem de preço ante pares. Agora o ambiente parece favorecer e, na margem, vemos uma melhora na alocação por parte dos multimercados. Estamos alocando”, diz.
Por Matheus Prado, do Valor Econômico
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