Aversão global a risco prossegue; dólar atinge paridade com o euro

Divisa americana chegou a valer mais do que a moeda da união monetária pela primeira vez desde 2002

À medida que os bancos centrais apertam as condições financeiras, a China luta contra a pandemia de covid-19 e a Europa se mantém afundada em preocupações energéticas, com a ameaça de interrupção de oferta do gás russo, a perspectiva de uma recessão global vai ganhando corpo. Nesse contexto de aversão a ativos de risco, o dólar atingiu a paridade com o euro nesta terça-feira e, nas máximas do dia, chegou a valer mais do que a moeda da união monetária pela primeira vez desde 2002.

Assim, o início da terça-feira é marcado por um novo movimento de busca por proteção nos mercados globais, com queda das commodities, dos índices acionários, fortalecimento do dólar e fechamento das curvas de juros. Nesse contexto, o cenário externo não deve facilitar uma recuperação dos ativos locais, que também já vêm de perdas expressivas nas últimas sessões.

As expectativas de crescimento econômico na Alemanha colapsaram em julho e atingiram níveis compatíveis com a crise financeira global de 2008 e a crise do euro de 2012, segundo apontaram os dados do instituto de pesquisa econômica ZEW, publicados hoje. O índice de expectativas econômicas caiu para -53,8 em julho, de -28 em junho.

Para além das perspectivas de aperto monetário conduzido pelo Banco Central Europeu (BCE), vão crescendo as preocupações com uma crise energética na zona do euro. No mês passado, a Rússia reduziu consideravelmente a oferta de gás através do gasoduto NordStream 1 e, em meados de junho, os fluxos caíram para 40% da capacidade. Em resposta, os preços de referência europeus para o gás natural mais que dobraram.

“Desde ontem, no entanto, o NordStream 1 também está passando por seu período de manutenção anual, durante o qual permanece completamente desligado e pode durar cerca de 10 a 14 dias – mas há preocupações de que a Rússia possa decidir não ligá-lo novamente. No geral, há uma incerteza considerável sobre quanto gás a Rússia entregará à Alemanha e à UE daqui para frente e se a indústria enfrentará uma escassez total de oferta”, afirma o economista do banco alemão Berenberg, Salomon Fiedler.

Assim, nesta manhã, o euro era negociado em queda ante o dólar, na casa de US$ 1. Nas mínimas do dia, a divisa única foi negociada a US$ 0,9999. ““Em nossas métricas, o par euro/dólar pode cair mais 5% se as expectativas de crescimento europeu mudarem para nosso cenário mais pessimista, que contempla uma interrupção completa dos fluxos de gás russos e os desligamentos de produção associados”, afirmam analistas do Goldman Sachs, em nota.

“No entanto, achamos que o mercado exagerou um pouco e o BCE poderia, em última análise, responder com uma ação política mais forte para se proteger contra uma depreciação mais significativa do euro”, disseram eles.

No Brasil, os ativos vêm sendo pressionados, adicionalmente, pelas questões intrínsecas ao país, como o desarranjo das contas públicas. Hoje, inclusive, a Câmara dos Deputados tenta votar, em dois turnos, a PEC dos Benefícios, que amplia os gastos do governo em cerca de R$ 41 bilhões fora do teto de gastos. Os agentes locais também devem monitorar os dados de atividade do setor de serviços, que serão divulgados pelo IBGE, às 9h.